Mensagem do Reitor-mor

freepik.com

Entre dor e esperança

Pe. Ángel Fernández Artime
A fotografia do crucifixo de Leopoli, cidade onde há belas obras salesianas, sendo transportado para um bunker foi reportada por todos os jornais do mundo. Estamos vendo ao vivo outro Getsémani e outro Calvário. Esperamos ver também a ‘Ressurreição’ desse povo e dessas pessoas.

Meus caros amigos, leitores do Boletim Salesiano de todo o mundo. Enquanto escrevo estas linhas, todos os meios de comunicação do mundo estão reportando, minuto a minuto, as notícias da terrível guerra na Ucrânia. Mas penso que a maior parte de nós concorda que o que está sucedendo naquela terra bendita é terrível, inimaginável, incrível no século XXI, uma loucura total, um verdadeiro genocídio. Pensemos como nos sentiríamos se estivéssemos vivendo isso; suponho que nos enche de tristeza e nos causa arrepios.

Esta é a triste realidade. E uma vez mais o mal faz ruído, destrói coisas e pessoas, traz morte, ceifa vidas humanas, fratura famílias etc… O bem, tanto bem e tanta solidariedade que estamos vendo no mesmo momento em que caem os raios e os projéteis de longo alcance, é um bem silencioso, procura mitigar a dor, enxugar as lágrimas, dar calor humano. Porque também o coração humano é assim. Em situações como essas, vemos o pior da condição humana e também o mais belo do coração humano.

A fotografia do crucifixo de Leopoli, cidade onde há belas obras salesianas, sendo transportado para um bunker foi reportada por todos os jornais do mundo. Estamos vendo ao vivo outro Getsémani e outro Calvário. Esperamos ver também a ‘Ressurreição’ desse povo e dessas pessoas.

O mesmo sucedeu na “primeira semana santa da história”. Assim aconteceu com a traição de Jesus, com a sua solidão e o seu abandono, com a sua sua dor. Com a sua condenação à morte, com o seu silêncio e a sua solidão radical (exceto por parte da sua mãe e do discípulo amado). E Deus pronunciou a última palavra com a Ressurreição, com a Outra-Vida.

Neste período pascal que atravessamos não sei o que vai acontecer com a guerra da Ucrância. Escrevo antecipadamente e cada dia pode ser diferente. Tenho esperança de que, com o bom senso e a pressão de quase todas as nações, e com a força da solidariedade humana, a fé e a oração, a paz chegará.

Hoje, quando estamos no décimo dia dessa guerra terrível, com um milhão e meio de refugiados, quero só sublinhar que a solidariedade, a fraternidade, a humanidade dos corações simples, das famílias, e o olhar sensato de muitos governos me ajudam a sentir-me melhor como pessoa. De outra forma, creio que não estaríamos em condições de nos perdoarmos.

Façamos aquilo que cada um de nós puder, caros amigos. Unamos os nossos esforços às palavras, às mãos que ajudam e à oração.

O nosso pequeno grão de areia
Estou em contato diário com os meus irmãos e irmãs na Ucrânia e na Polônia. Sinto muita paz por saber que também como Família Salesiana oferecemos o nosso pequeno grão de areia. Sinto-me feliz por saber que os rapazes atendidos na nossa casa-família de Leopoli estão hospedados em casas salesianas na Eslováquia. Sinto-me em paz por saber que as casas salesianas na fronteira entre Polônia e Ucrânia têm todas as portas abertas para acolher os refugiados da guerra. A dezenas de mães com os seus meninos foram oferecidos quartos e lugares onde viver com dignidade, além de alimentação e higiene. Esta solidariedade está atingindo outras nações e também muitas outras presenças salesianas.

De todo o mundo salesiano, de todas as inspetorias, chegam pequenas ou grandes ajudas, segundo as possibilidades de cada uma. Medicamentos e dinheiro foram enviados de todo o mundo, não por nós salesinos, mas porque, como intermediários, podemos chegar aos lugares mais remotos e levar ajuda às pessoas em dificuldade. E é só um grão de areia, mas são dezenas de milhares de pessoas e instituições que se somam.

Oração pela Paz
Trata-se disto. Não há ruído. Não há qualquer montagem. Há simplicidade e solidariedade. É tempo de passar do Getsémani e do Calvário à esperança e à força da Ressurreição.

É muito doloroso que nesta preparação para a Semana Santa e para a Santa Páscoa haja bombas, projéteis e pistolas; exista a morte. Mas, mesmo na dor, não desisto de proclamar que a vida é mais forte, a fraternidade humana é mais forte, a solidariedade é mais forte, a dignidade da pessoa (por vezes espezinhada) é mais forte, a ajuda de irmão para irmão (mesmo sem se conhecer nem falar a mesma língua) é mais forte, a esperança é mais contagiante.

Peço ao Senhor da Vida na oração que nos ajude a recuperar a razão. Rezemos também por aqueles que iniciaram esta tragédia.

Rezo com o Papa Francisco: “Infunde-nos a coragem de realizar atos concretos para construir a paz.

Senhor, Deus de Abraão e dos profetas que nos criaste e chamaste a viver como irmãos, dá-nos a força de todos os dias sermos artesãos da paz; dá-nos a capacidade de olhar com benevolência para todos os irmãos que encontramos no nosso caminho”.

O Senhor mantenha acesa em nós a chama da esperança para realizar com perseverança opções de diálogo e de reconciliação, para que finalmente vença a paz.

Peço que os corações cheios de humanidade não se calem.

Façamos aquilo que cada um de nós puder, caros amigos. Unamos os nossos esforços às palavras, às mãos que ajudam e à oração.

Que o Senhor Ressuscitado nos encha da sua força e da sua paz!

Visite agora!
© 2022 Copyright - Boletim Salesiano Brasil