Sínodo

Sinodalidade à luz do carisma salesiano: diálogo ecumênico e inter-religioso

Um dos desafios pastorais da Igreja Católica que vive entre avanços e retrocessos é incentivar o ecumenismo e o diálogo inter-religioso.
Pe. João Mendonça, SDB / Foto: Yuri Arcurs

Segundo a síntese brasileira para o Sínodo dos Bispos, existem no país algumas iniciativas de cunho ecumênico. Um exemplo é a Pastoral das Juventudes, que mantém aberto um espaço bastante ecumênico e de tolerância. Também na ação social e pública as propostas e iniciativas ecumênicas são visíveis, com grande destaque para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

No entanto, percebem-se fragilidades na formação ecumênica e muitos preconceitos ainda limitam um diálogo amadurecido e respeitoso, sobretudo com as religiões de matrizes africanas. É muito difícil também a relação com as igrejas pentecostais e neopentecostais. Em algumas iniciativas com outras religiões não-cristãs as ações são muito pontuais e não tocam em profundidade nas questões do diálogo e da construção da paz.

O Documento de Trabalho da Etapa Continental – DEC – apresenta que na Igreja ainda é muito debilitado o compromisso ecumênico e precisamos crescer no aprendizado e no testemunho entre as diversas comunidades cristãs e religiões (DEC, 47). No entanto, a síntese afirma que há sinodalidade ecumênica, porém, sem completa unidade entre os cristãos (DEC, 48).

Na práxis salesiana é preciso avaliar como nos comportamos diante do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. No Brasil temos obras com a presença de jovens e adultos, colaboradores que não são católicos e alguns até são agnósticos, sem mencionar os de outras religiões e igrejas. Como acontecem o diálogo ou as iniciativas de proximidade? Como a nossa organização pastoral responde aos desafios sinodais do ecumenismo e do diálogo inter-religioso nesses contextos?

istock / Rabizo

Os jovens vivem conflitos internos, em casa, mas precisam encontrar em nossas presenças o espaço para o diálogo construtivo que requer discernimento, participação e decisão.

Formação ecumênica
Não há uma forma mágica ou genérica de tratar a questão. O ecumenismo não é proselitismo, ou seja, pretender e trabalhar para a conversão dos não católicos para o nosso redil. Não. Trata-se de desenvolver um diálogo, como bem afirmava São João XXIII, que nos ajude a entender e a viver a essencialidade da fé e não os acidentes e valores de tradições que foram se formando durante os séculos.

O patrimônio cultural da religião, seus ritos, a arte, a música, a arquitetura, a devoção etc, são parte de toda uma formação que, ao longo dos séculos, foram sendo agregados à luz do Evangelho, sempre na inserção nas diversas culturas. No entanto, a espiritualidade é o que nos aproxima, o que nos identifica como discípulos de Jesus Cristo.

Neste sentido, o ecumenismo rompe as bolhas dos preconceitos e reconhece as sementes do Verbo, como ensina o Concílio Vaticano II, já presente nas culturas. Deus não chega conosco; Deus chega antes. A formação para o diálogo precisa abrir a mente e o coração, desmilitarizar nossos preconceitos para saber aceitar o valor do outro e de suas manifestações.

Formação para o diálogo inter-religioso
A síntese universal não aprofunda muito a questão do diálogo inter-religioso, talvez devido a sua complexidade. No Brasil temos a religiosidade de matriz africana que, em certos estados brasileiros, é muito forte. O diálogo inter-religioso não está na esfera do cristianismo, mas das ricas tradições culturais e religiosas que chegaram da África e que aqui encontraram uma terra fértil, embora também preconceituosa, excludente, que levou os habitantes das senzalas a formarem guetos religiosos para sobreviver com suas manifestações de fé.

Formar as pessoas para esse diálogo é o mais desafiador, porque significa enfrentar a difícil aceitação do diferente, tanto em suas formas de fé, como em seus ritos, divindades, cantos, cultos etc. Também aqui a postura não pode ser de proselitismo, mas de respeito e abertura de coração (DEC, 50).

A contribuição do carisma salesiano
Não tenho uma fórmula para apresentar, mesmo porque a sinodalidade requer reflexão, sensibilidade, percepção, abertura. Porém, acredito que faz-se urgente começar pela formação e pela mudança pastoral de nossas ações. A temática precisa ser enfrentada e estudada para encontrar caminhos de discernimento e consequentes iniciativas propositivas para aceitar a interconfessionalidade de muitos jovens que povoam nossas obras com suas necessidades e perspectivas (DEC, 49).

Os jovens vivem conflitos internos, em casa, mas precisam encontrar em nossas presenças o espaço para o diálogo construtivo que requer discernimento, participação e decisão. Tema do nosso próximo artigo.

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