O maior de todos os desafios foi vencido: Jesus superou a morte e ressuscitou, trazendo a todos os que Nele creem a esperança de uma vida nova. Essa é a essência da celebração da Páscoa, a principal festa cristã. A Páscoa simboliza a passagem por todos os desafios da vida humana: as dificuldades cotidianas, as tristezas, os sofrimentos e as desesperanças podem ser superados também por nós, seguindo o exemplo maior de Cristo.
A preparação dessa festa, para que ela seja vivida de fato como a essência da fé cristã, é feita na Quaresma, o período de 40 dias entre a Quarta-feira de Cinzas e o Domingo de Ramos – o domingo que abre a Semana Santa. A Quaresma é um tempo de verdadeira conversão. Nesse período, os cristãos são chamados a rezar com maior intensidade, a jejuar – privando-se de algo que seja importante, não somente ou necessariamente de carne vermelha – e a se colocar a serviço do próximo.
Fraternidade
Por isso a Campanha da Fraternidade, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é realizada na Quaresma. Durante esse período, as pessoas de boa vontade são chamadas a refletir, à luz do Evangelho, sobre uma questão social ou econômica que aflige o mundo em que vivemos, e a agir para resolver ou minimizar esse problema, ajudando a construir uma sociedade mais justa e fraterna.
Este ano, a Campanha da Fraternidade traz a reflexão sobre o direito ao saneamento básico – uma questão extremamente atual, como se atesta pela epidemia do zika vírus no Brasil e em outros países. Lançada oficialmente na Quarta-feira de Cinzas, 10 de fevereiro, a CF 2016 tem como tema “Casa comum, nossa responsabilidade” e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O objetivo é “Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”.
De acordo com dados divulgados no Texto-base da Campanha, embora o Brasil esteja entre as maiores economias do mundo, 82% da população brasileira não têm acesso à água tratada e mais de 100 milhões de brasileiros não têm coleta de esgoto. Como afirmou no lançamento da CF o presidente da CNBB e arcebispo de Brasília, dom Sérgio da Rocha, a “falta de saneamento básico destrói a casa comum e a vida da família que habita essa casa”. “O tema deste ano é de grande atualidade e urgência. O cuidado da casa comum, pondo em relevo o saneamento básico, não pode ser descuidado, nem pode ser deixado para depois, necessita da atenção e dos esforços de todos”, completou dom Sérgio.
A CF indica as ações governamentais que precisam ser cobradas do poder público e aquelas que são responsabilidade de cada um e podem ser realizadas no âmbito individual e, principalmente, comunitário. Ao final da Campanha, no próximo dia 20 de março, Domingo de Ramos, todos são convidados a participar da Coleta da Solidariedade, que proverá recursos para entidades sociais e ONGs cuja atuação é voltada para o tema do saneamento. Assim, a reflexão da Quaresma resulta em ação concreta para a superação dos desafios da vida.
Ecumenismo
Outro aspecto fundamental da Campanha da Fraternidade deste ano é que ela é ecumênica: a organização e realização são do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), que congrega, além da Igreja Católica, as Igrejas Apostólica Romana (ICAR), Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), Presbiteriana Unida (IPU) e Sirian Ortodoxa de Antioquia (ISOA). Compõem a Comissão da CF Ecumênica 2016, também, o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Ceseep), a Visão Mundial e a Aliança de Batistas do Brasil. E a Campanha tem ainda este ano o apoio internacional da Misereor, entidade episcopal da Igreja Católica na Alemanha, que trabalha na cooperação para o desenvolvimento de países da Ásia, da África e da América Latina.
Como afirmou o presidente do Conic, dom Flávio Irala, essa união de denominações cristãs em torno de um tema comum representa, em si, um grande desafio, pois realiza-se em uma conjuntura religiosa que nem sempre está aberta ao diálogo. “No entanto, o Espírito Santo sopra quando e onde quer e ele soprou para que essa Campanha acontecesse”, considerou ele.
Mensagem
O Papa Francisco enviou uma mensagem de apoio à Campanha, na qual destaca o aspecto de diálogo entre as religiões como fundamental para se alcançarem os objetivos da Campanha: “Pessoas são chamadas a tomar iniciativas em que se unam as Igrejas e as diversas expressões religiosas e todas as pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do direito ao saneamento básico. O acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é condição necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação da pobreza e da fome, para a superação dos altos índices de mortalidade infantil e de doenças evitáveis, e para a sustentabilidade ambiental”.
Na mensagem, o Papa Francisco retomou alguns pontos da encíclica Laudato Si – um dos textos inspiradores para a CF Ecumênica – que abordam o acesso à água potável como “direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos”.
Vários subsídios para a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 estão disponíveis para download gratuito no site das Edições CNBB: http://edicoescnbb.com.br/CFE2016. O Conic também preparou um vídeo, disponível no canal YouTube da entidade, explicando a CFE 2016, seus objetivos, importância e como participar.
Fontes: Adital, CNBB, Vaticano News
Praticar a misericórdia
O Papa Francisco lançou uma mensagem para orientar os católicos de todo o mundo a viverem a Quaresma e a preparação para a Páscoa do Senhor. No texto, o Papa aborda as obras de misericórdia, no contexto do Ano Santo. A passagem bíblica “Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9,13) motiva a reflexão: “A misericórdia de Deus transforma o coração do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia”, afirma o Pontífice.
Francisco ressalta que as obras de misericórdia relembram os cristãos que a fé se traduz em ações concretas e no cotidiano. Retomando a bula de convocação ao Ano Jubilar da Misericórdia, o Papa considera que no pobre ao qual se dá assistência, Jesus Cristo “torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga... a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós”.
O chamado a uma Igreja “em saída”, missionária, que vá às periferias, também está presente nessa mensagem: “Portanto a Quaresma deste Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia. Se, por meio das obras corporais, tocamos a carne de Cristo nos irmãos e irmãs necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados, as obras espirituais tocam mais diretamente o nosso ser de pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar, admoestar, rezar. Por isso, as obras corporais e as espirituais nunca devem ser separadas”.
A íntegra da mensagem do Papa para a Quaresma está disponível no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): www.cnbb.org.br