“Quando é que tudo isso vai terminar?” Esta foi e é a pergunta que mais ouvimos desde o último ano e ficamos esperando, aguardando com paciência uma solução. A outra pergunta que fizemos foi: o mundo, depois desta pandemia, será o mesmo? “Quão felizes são os que vivem na esperança e não se cansam de esperar”, disse São Francisco de Sales, num sermão em 1620. Creio que é isso mesmo. Não devemos nos cansar de esperar. Por isso, prezado leitor dessas páginas do Boletim Salesiano, apresentamos nesta edição várias matérias que tratam da Estreia do Reitor-Mor para este ano. “Movidos pela esperança” é o tema, que tem como lema a frase bíblica, tirada do Apocalipse, que nos diz: “Eis que faço novas, todas as coisas”. O fato de não nos cansarmos de esperar nos torna aptos e credíveis para continuar a nossa missão, como Família Salesiana.
“Somos ‘movidos’ pela esperança, ou seja, a esperança deve nos colocar em movimento, e não em ato passivo de espera”, afirma o Reitor-Mor. E conclui: “mesmo neste mundo com tantas notas de desumanidade pode-se viver com uma atitude diferente. Há quem viva no lamento e na negatividade, com o coração endurecido. Felizmente, há também muitos que procuram viver movidos por um dinamismo que leva a buscar a vida, a tentar fazer o melhor, a concentrar-se no viver de amor e de serviço, a trabalhar sob o dinamismo da esperança”. É este o dinamismo da esperança que nos traz felicidade.
E mais. No Tratado do Amor de Deus, São Francisco de Sales nos dá mais uma bela definição do que é a esperança. No livro 2º, capítulo 16, ele diz que “a esperança é um amor que espera e que quer”. Um dos compromissos da Estreia diz que uma das características “da nossa espiritualidade salesiana é perceber Deus como muito próximo, muito presente nos eventos e com quem, em nossa simplicidade, podemos entrar em diálogo”. Este compromisso de estar próximos de um Deus que nos ama e nos quer bem, transforma, realmente, a esperança de dias melhores em amor. Ao mesmo tempo, de acordo com a definição salesiana, queremos ser pessoas movidas pela esperança, pessoas que querem criar novas coisas. E esse querer é um amor que espera! Assim, poderíamos dizer para as pessoas que nos perguntam se o mundo será diferente depois da pandemia: sim, será! Porque Deus nos move com a esperança para, junto com Ele, querer e criar novas todas as coisas.
Outra característica muito forte da espiritualidade salesiana é viver o nosso compromisso e a nossa missão na vida cotidiana, no dia a dia. Fomos ensinados por Francisco de Sales e por Dom Bosco a dar importância para as pequenas coisas que acontecem no nosso dia. Não a buscarmos realizar coisas extraordinárias, mas transformar nossas ações cotidianas em fatos extraordinários, cheios de esperança e de amor. Como nos diz a Estreia, “o extraordinário só acontece quando se começa a viver as pequenas coisas comuns; a vida cotidiana é feita de muito trabalho e sem muitas gratificações, mas também de alegrias íntimas contidas, de encontros verdadeiros, de imprevistos que surpreendem a alma”. Como exemplo disso, leia a matéria sobre a foto de 1861, quando Dom Bosco aproveitou para nos ensinar tantas coisas a partir de uma simples fotografia, a primeira, com o padre Paulo Ábera, cujo centenário de morte celebramos neste ano.
Pode ser que nem tudo termine ainda nestes próximos meses. Converter-se à esperança é crer no projeto do Evangelho, diz a Estreia. Então, com muita coragem, “saudemos a cada novo dia com alegria e esperança, porque ele nos chega como um presente de Deus”, nos diz Francisco de Sales.
Padre Tarcizio Paulo Odelli, SDB
Diretor do Boletim Salesiano Brasil