Ao adotar o nome de Leão XIV, o cardeal Prevost quis homenagear e dar continuidade, como ele mesmo ressaltou, ao legado do Papa Leão XIII, que exerceu o seu pontificado entre 20 de fevereiro de 1878 e 20 de julho de 1903. Assim, Leão XIII foi contemporâneo de Dom Bosco e teve com o Santo dos Jovens grande proximidade.
É bem conhecido no ambiente salesiano o fato de que foi o Papa Leão XIII quem, em 5 de abril de 1880, confiou a Dom Bosco a construção de uma igreja em honra ao Sagrado Coração de Jesus, em Roma, na Itália. Mesmo sem dispor de recursos financeiros, o sacerdote atendeu ao pedido do Papa e aceitou o desafio, confiando sempre na Divina Providência.
Com grande sacrifício, o templo foi concluído e consagrado em 14 de maio de 1887. Logo em seguida, no dia 16 do mesmo mês, Dom Bosco celebrou ali a missa em que chorou várias vezes diante do altar de Nossa Senhora Auxiliadora, relembrando sua vida e compreendendo, enfim, o significado de seu apostolado junto aos jovens.
Cooperador Salesiano e impulsionador da obra de Dom Bosco
Mas a relação do Papa Leão XIII com Dom Bosco e com os salesianos foi além deste episódio.
A primeira audiência de São João Bosco com o Pontífice recém-eleito foi em 16 de março de 1878, ocasião em que Leão XIII aceitou ser o primeiro salesiano cooperador. Leão XIII também erigiu o primeiro Vicariato Apostólico confiado aos Salesianos de Dom Bosco, nomeando Dom Cagliero como seu primeiro bispo, em 30 de outubro de 1883.
Em 1884, o Pontífice concedeu à ainda jovem Sociedade de São Francisco de Sales todos os reconhecimentos da Igreja Católica a uma congregação religiosa. Na audiência que teve em 1888 com o padre Miguel Rua, primeiro sucessor de Dom Bosco, o Papa Leão XIII manifestou a ele a sua convicção quanto à santidade de Dom Bosco e ofereceu muitos e bons conselhos para a consolidação da Congregação Salesiana.
Atenção aos trabalhadores
A proximidade entre Dom Bosco e o Papa Leão XIII se expressou também na maneira como ambos entendiam a relação entre a fé cristã e a atenção aos mais pobres e necessitados, em especial aos trabalhadores.
No final do século XIX, quando a Europa vivia o contexto da primeira revolução industrial, Dom Bosco dedicou-se intensamente à formação profissional e integral dos jovens pobres de sua época. Ele chegou a estabelecer pessoalmente, junto às indústrias, contratos de trabalho para esses jovens aprendizes de então, garantindo a eles condições dignas de vida.
Apenas três anos após a morte de Dom Bosco, em 1891, o Papa Leão XIII publicou a revolucionária encíclica Rerum Novarum, considerada o marco inicial da Doutrina Social da Igreja. Nesta encíclica, o Pontífice abordava questões que naquela época não eram vistas como preocupações da Igreja, tais como: a justiça social, a necessidade de salários justos, a proteção dos direitos dos trabalhadores e a importância da caridade.
Atualidade da Rerum Novarum
O Papa Leão XIII, com a encíclica Rerum Novarum, “abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial. Hoje, a Igreja oferece a todos o seu patrimônio de doutrina social para responder a uma nova revolução industrial e ao desenvolvimento da inteligência artificial, que traz novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”, afirmou o Papa Leão XIV ao explicar, em 10 de maio de 2025, a escolha de seu nome.
Assim, o atual Pontífice reforça a atualidade da encíclica elaborada pelo Papa Leão XIII, bem como a necessidade de que a Igreja continue agindo em prol da dignidade humana e daqueles que mais precisam. Nesse sentido, para a Família Salesiana, Leão XIV reafirma também a atualidade dos ensinamentos de Dom Bosco sobre a atenção primordial aos jovens mais necessitados, a formação profissional e a defesa de uma vida plena e digna para todos.
A Encíclica Rerum Novarum, escrita pelo Papa Leão XIII, é considerada um marco da Doutrina Social da Igreja. A equipe do Canção Nova Notícias em Belo Horizonte preparou uma reportagem especial sobre o documento e sua atualidade.