No dia 15 de maio, o Santo Padre Leão XIV proferiu um belíssimo discurso aos Irmãos Lassalistas, exaltando a figura educadora de São João Batista de la Salle – proclamado como padroeiro celeste de todos os educadores. Desta forma, todo educador sente-se acolhido por estas primeiras palavras do Papa, marcadas por uma sensibilidade educativa e uma clareza na função sempre perene da educação católica.
De fato, fomos agraciados no pontificado de Francisco por uma série de escritos que retomam a preocupação da Igreja com a formação das novas gerações e a escola como uma instituição essencial para essa missão. Não faltam balizas para compreender o papel socializador da escola, como também se entende facilmente como a escola católica assume uma formação integral de crianças, adolescente e jovens... e nesse ponto destacamos o Pacto Educativo Global como um compromisso a ser assimilado por todos aqueles que vivem os preceitos da educação católica.
Educação católica no mundo contemporâneo
Desde 2013, Francisco retomou a educação como uma urgência do mundo contemporâneo e, por isso, seus discursos e escritos estavam inundados de um humanismo evidente: colocar a pessoa no centro, promover o diálogo e o respeito às diferenças, transformar as estruturas da sociedade a partir dos valores evangélicos, educar para a cooperação e a solidariedade são algumas das ações que evidenciam a opção por uma “educação em saída”, que transpassa os muros da escola.
Como educadores salesianos, percebemos que os ensinamentos do Papa Francisco vão ao encontro do que Dom Bosco nos deixa como legado educativo. Imaginar Valdocco como um lugar de desenvolvimento de potencialidades e de transformação juvenil é retomar o que acreditamos como educação salesiana. Educadores identificados com o carisma, tecnicamente capazes e emocionalmente disponíveis para acompanhar crianças, adolescentes e jovens retomam o que nosso Fundador propunha quando formava seus primeiros salesianos, inseridos na missão educativo-evangelizadora do Oratório.
Destacada a expressão “educar evangelizando e evangelizar educando” – tão querida e repetida por nós da Família Salesiana –, retomamos esse primeiro discurso do Papa Leão XIV com o entusiasmo de um magistério profícuo nos temas educativos, mas também com a identificação de alguns temas que se tornam relevantes para nosso carisma.
Atenção à atualidade
Referindo-se ao carisma lassalista, o Papa salienta dois aspectos importantes: a atenção à atualidade e a dimensão ministerial e missionária do ensino na comunidade.
Sobre a atualidade, Leão XIV apresenta algumas inovações introduzidas pelos irmãos das Escolas Cristãs: o ensino em classes (e não mais individual), o francês como língua didática, as aulas dominicais e a participação da família na comunidade educativa.
Dom Bosco é também um grande inovador: alfabetiza durante os Oratórios Festivos, cria seus próprios materiais didáticos, organiza o ensino regular e as oficinas conforme as possibilidades de cada menino, valoriza o piemontês, mas introduz o italiano e as línguas clássicas, entre outras respostas às urgências dos jovens. A educação salesiana nasce inovadora e segue atenta “aos tempos”, como queria o Fundador, mostrando-se como uma luz aos jovens de hoje, oferecendo presença significativa, acompanhamento de projeto de vida e formação intelectual compatível com os sonhos de cada um deles.
Um olhar para os educadores
O segundo ponto nos convida a um olhar específico aos educadores. Leão XIV lembra que São João Batista de la Salle costumava dizer aos seus irmãos educadores: “O vosso altar é a cátedra”. A partir disso, ele reforça a necessária identificação da profissão docente com o ministério e a missão. Retomamos a frase, portanto. O altar é o lugar central da liturgia: ali acontece, diante de toda a comunidade, o mistério eucarístico. Diante do altar, o sacerdote está in persona Christi e, em seu nome, preside a ação litúrgica e convida todos a tomarem parte do mistério – e só pode fazê-lo se aí estiver! Altar e sacerdote estão em sintonia plena.
Esta plena sintonia se faz entre o professor e a cátedra. O ministério docente, assim entendido, é a assunção do ensino como a realização de um mistério e a necessária unidade da comunidade. Ao redor do professor, reúnem-se crianças, adolescentes e jovens que esperam dele mais do que o ensino de objetos de conhecimento; esperam o testemunho de vida, de referência adulta, de presidência de um processo que é por essência de partilha e de vivência comunitária. O próprio Dom Bosco afirmava em sua Carta de Roma: “O professor visto apenas na cátedra é professor e nada mais, mas se está no recreio com os jovens, torna-se irmão”.
Para a missão educativa salesiana, o professor é um ministro: preside, anima, reúne. Assim, inspirado pelo próprio Sistema Preventivo, centraliza a responsabilidade da formação dos jovens, mas sabe como animá-los em suas diferenças e é capaz de olhá-los com o carinho da amorevolezza, educá-los com a clareza da razão e formar o coração com os valores da religião. É desta forma que, por suas mãos, também se transformam os jovens, num mistério que fica evidente aos olhos de quem acompanha e conhece a educação salesiana.
Ao citar La Salle, o Papa aguça em nossos corações salesianos a figura de Dom Bosco. Estes dois santos, que continuam a inspirar a educação católica atual, evocam a necessária reflexão sobre a Igreja e a missão educativa. Ou melhor, sobre a validade da voz da Igreja sobre a educação no mundo contemporâneo. Como o magistério de Francisco nos deixou uma herança significativa sobre esses temas, aguardamos ansiosamente as perspectivas de Leão XIV sobre a educação.
Padre Leandro Brum Pinheiro, SDB, é atualmente o Diretor Institucional da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre e Secretário Inspetorial da Inspetoria São Pio X.