São Francisco de Sales

O Doutor do Amor

Pe. Tarcizio Paulo Odelli, SDB
Em 1877, durante o Concílio Vaticano I, o Papa Pio IX declarou São Francisco de Sales Doutor da Igreja, “Doctor amoris”. Um título de reconhecimento à espiritualidade salesiana por sua contribuição ao pensamento cristão.

Talvez poderíamos resumir a pessoa, a vida e a obra de São Francisco de Sales numa só palavra: amor! Como diz seu biógrafo, “coração sensível, terno, apaixonado, ‘coração que se apega’ e que se apega tanto que teme apegar-se demasiado e mal”.

Desde menino seu coração despertou para o amor divino. Ainda de acordo com o biógrafo, “manteve-se casto como um menino. Deste modo pode colocar toda sua paixão amorosa a serviço do mais belo Amor. Amava a Deus, à Igreja, a sua família, a sua pátria, os seus amigos, a todo próximo, homens e mulheres, pobres e ricos, com uma ternura fina, doce e forte, que sabia matizar exatamente suas demonstrações para com cada um. Nunca foi surpreendido em falta pelo amor, e por viva e ousada que fosse sua expressão, seu comportamento sempre foi o de um homem puro sob o olhar de Deus”.

Por isso, Francisco escreveu no prefácio do Tratado do Amor de Deus: “Tudo na Igreja procede do amor, tem raízes no amor, tende ao amor e vive do amor”.

Atualidade de Francisco de Sales
No próximo dia 28 de dezembro, celebraremos os quatrocentos anos da morte de Francisco de Sales. Ele morreu em Lyon, na França, pois estava participando de um evento que tinha reunido as coroas da França e da Saboia. Seu coração ficou ali até a revolução francesa, quando então foi trasladado para Treviso (Itália). O corpo foi transportado para Annecy, onde repousa, até hoje, na Basílica a ele dedicada.

Uma pergunta que muitas pessoas fizeram ao longo destes quatrocentos anos, e que hoje também podemos fazer: em que o Doutor do Amor pode colaborar, contribuir para as pessoas do nosso tempo e, sobretudo, para a evangelização? Sua mensagem ainda é válida?

Como diz o biógrafo, “admiramos a atividade prodigiosa deste Bispo a cavalo e queremos imitá-lo”. Inicialmente poderemos dizer que sim, Francisco transmite ainda hoje uma doutrina válida e que nos fascina pela sua clareza e pela sua simplicidade. Porque tudo sai do seu coração. Ele sempre gostava de repetir: “O coração fala ao coração!”.

Notem que nossa vida passa pelo amor de Deus, no amor de Deus e com o amor de Deus!

Hoje, Francisco nos oferece, contra a violência, a doçura evangélica. Contra a divisão, nos oferece a unidade e a comunhão. Contra as guerras e conflitos, aponta caminhos de paz, que passam pela confiança mútua, pelo diálogo e pela reconciliação. Neste mundo a procura de sentido, Sales oferece uma visão do homem e do universo cheia de esperança.

Não esqueçamos que seu humanismo é integral. Tudo o que está de acordo com o Evangelho é válido para ele. Aos angustiados, e são tantos hoje, Francisco revela a visão positiva de um Deus de ternura e procura revelar os recursos escondidos no fundo de todo ser humano. Aos corações hesitantes, dos apáticos, traz ou reacende o fogo do amor, que ajuda a caminhar e a agir.

Para aqueles que, como no seu tempo, desejam viver com coerência a vida cristã, ele diz novamente que todos são chamados à santidade, que podemos “aspirar à vida perfeita”. “Que devemos florescer onde Deus nos plantou”. Para aqueles que olham a Igreja, seja de dentro ou de fora com um olhar de descrença, de desilusão ou de crítica, ele lembra que a Igreja é a Esposa bem-amada de Cristo. Que todos “somos plantas vivas que devem produzir frutos de devoção segundo sua própria qualidade e caráter”. “Que o Espírito Santo, a partir de dentro, renova e reforma a Igreja”, afirma.

Para aqueles que duvidam do homem, da sua dignidade e do seu destino, Francisco lembra que o ser humano foi feito para ser morada de Deus. Para nós, Família Salesiana de Dom Bosco, Francisco ensina a confiar no ser humano, principalmente no jovem, a termos uma visão otimista da vida e do mundo e a expressar tudo isso através da vivência das virtudes humanas, principalmente da alegria, da humildade e da simplicidade.  

Tudo por amor!
São Francisco de Sales nos recorda sem cessar que, no cristão, o amor divino anima tudo e dá a tudo seu verdadeiro valor, tanto nos trabalhos da vida civil como nos atos religiosos, nas legítimas diversões da vida como nas tarefas mais duras. Ele nos diz hoje que fomos criados pelo amor eterno de Deus; para a formação e o desenvolvimento prazeroso da vida no amor de Deus e, finalmente, para fazer crescer e amadurecer a comunhão eterna de vida e de felicidade com o amor de Deus. Notem que nossa vida passa pelo amor de Deus, no amor de Deus e com o amor de Deus!

Finalizando, gostaria de reproduzir duas frases, uma de São Francisco de Sales e outra de Dom Bosco, sobre a vivência concreta do amor em suas vidas, desse “tudo por amor”. Praticamente dizem a mesma coisa, embora as frases tenham sido escritas em épocas diferentes.

Francisco de Sales: “O fato é que não há ninguém nesse mundo, penso eu, que queira bem aos outros mais cordial e ternamente em uma palavra, mais amorosamente do que eu; porque foi Deus quem me deu um coração assim...”.

Dom Bosco: “Meus amigos, eu vos amo de todo o meu coração, e basta que sejais jovens para que eu vos ame muito. Encontrareis certamente livros escritos por pessoas muito mais virtuosas e instruídas do que eu, mas garanto-vos que dificilmente encontrareis alguém que vos ame mais do que eu em Jesus Cristo ou a quem interesse a vossa verdadeira felicidade mais do que a mim”.

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