Sínodo

A sinodalidade à luz do carisma salesiano: alargar a tenda

Pe. João Mendonça, SDB
O objetivo desta série de artigos para o Boletim Salesiano será uma proposta de leitura e de escuta, a partir do carisma salesiano, aos apelos da sinodalidade.

No primeiro artigo desta série, refletimos sobre a questão fundamental do Sínodo e o nosso envolvimento como Família Salesiana. Esta leitura é muito importante. Faz-me recordar do padre Egídio Viganó (1920-1995), sétimo sucessor de Dom Bosco, que sempre procurou traduzir para a Família Salesiana os fatos mais relevantes da Igreja, por exemplo, o Concílio Vaticano II, o desafio do Projeto África, o Sínodo da Vida Religiosa etc.

Tratava-se, como pede o Documento de Trabalho da Etapa Continental do Sínodo, de “alargar o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, finca bem as estacas” (Is 42,2). O profeta convida, assim, o povo a caminhar no deserto de volta à terra prometida. No nosso caso, voltar à experiência oratoriana de Valdocco à luz da sinodalidade.

O caminho sinodal é para alargar a lona
A lona é protetora. Debaixo dela estamos, ou deveríamos estar, todos e todas, porque ela é a casa/Igreja, casa do pão, da partilha, da iniciação cristã, da Palavra. Trata-se de estender a tenda para permitir que todos sejam abrigados e não fiquem à margem pegando sol e chuva, e passando fome. Essa imagem da tenda no processo sinodal, presente no Documento de Trabalho, é muito forte e veio ao encontro de nossos sonhos como Família Salesiana.

O carisma de Dom Bosco é de acolhida. Ele queria que os adolescentes e jovens, os colaboradores, e inclusive seus adversários, entendessem que Valdocco era a casa de acolhida, pátio para viverem alegres, paróquia para a experiência de comunidade e lugar da ajuda recíproca, portanto, uma grande tenda alargada de fraternidade. Não há espaço nesta tenda oratoriana para o racismo, o preconceito, a intolerância, as exclusões. Como bem disse o Papa Francisco na solenidade de Pentecostes desse ano: “Na Igreja há lugar para TODOS, TODOS!”.

O carisma salesiano, nesse contexto sinodal, precisa entender-se como o lugar da grande reunião dos irmãos e irmãs, com a criatividade de alargar-se e deslocar-se para outros horizontes e perspectivas de missão.

Caminho sinodal e as cordas para esticar a lona
Uma tenda não permanece de pé sem as cordas firmes e fortes que ajudam a mantê-la aberta e evitam que, nos momentos tensos, de ventos fortes, ela se desarme, deixando todos desprotegidos. Não há espaço para a frouxidão na tenda que acolhe os irmãos e irmãs que caminham no deserto.

No carisma salesiano, somos um pouco como as cordas para manter a grande lona que é o dom carismático dado por Deus a Dom Bosco. Fazemos o nosso caminho sinodal unidos para alargar o mais possível a lona, para que todos os destinatários da missão fiquem sob a sua proteção. Ora as cordas alargam a tenda para dar mais espaço, ora as cordas ajustam as tensões e os conflitos. O caminho sinodal salesiano precisa ser feito como cordas firmes, em um contexto cada vez mais niilista, cético e espiritualmente mundano.

Caminho sinodal com as estacas fixas
No número 26 do Documento de Trabalho da Etapa Continental, fica clara e contundente a firme convicção da Igreja de que, no contexto atual de fragilidades institucionais, precisamos de solidez, sem, contudo, ser intransigentes, imóveis e conformistas, mas com a capacidade de nos movermos para armar a grande tenda em outro lugar.

O carisma salesiano, nesse contexto sinodal, precisa entender-se como o lugar da grande reunião dos irmãos e irmãs, com a criatividade de alargar-se e deslocar-se para outros horizontes e perspectivas de missão. O Sínodo nos exorta, como Família Salesiana, a saber criar, inovar e sair de nós mesmos, vencendo a tentação muito presente hoje de vender e entregar obras com a frouxidão de quem perde a esperança.

É preciso robustecer a nossa tenda, fincar as estacas e manter corajosamente nossas cordas de comunhão ao redor das três figuras brancas da nossa tradição: o Papa, a Eucaristia e Maria Auxiliadora, a mãe dos tempos difíceis. Porém, precisamos saber quem são nossos companheiros de deserto. No próximo artigo refletiremos sobre este tema.

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