A complexidade e gravidade dos problemas que atingem a vida das pessoas e da sociedade nos levam a perceber que, para enfrentá-los, não há soluções fáceis e nem isoladas. Diante das mais diversas vulnerabilidades, como a miséria, a fome, a criança vivendo na rua e tantas outras, uma atitude cômoda, que ocorre com frequência, é aquela dos que transferem “culpas” ou “responsabilidades” para os outros.
Diante de uma criança em situação de rua, pode-se afirmar: “Os culpados são os pais, que não cuidam”, como também, identifica-se rapidamente quem será chamado a resolver o problema: “O prefeito, a assistência social, o juiz, a instituição filantrópica etc.”.
Vemos nestas situações, e em tantas outras, o desejo comum de repassar para terceiros os compromissos e deveres que não desejamos assumir, por acreditarmos que não temos obrigações para com os que não estão diretamente ligados a nós.
Menos comum é colocar a pergunta na primeira pessoa, partindo do “eu”, para que se possa afirmar: “Diante de tanta gente passando fome, será que não como além daquilo que me é necessário”? Ou: “Será que, como família, não precisamos estar mais atentos para não desperdiçar tantos alimentos, fazendo demais e depois jogando fora, ou mesmo, deixando que se estrague”?
Viver em sociedade
A diferença entre uma e outra atitude está no quanto nos incluímos como parte dos problemas e, também, nos vemos como componentes da solução. Assumir o lugar do “bom samaritano” do Evangelho requer que nos coloquemos no lugar do outro, não com um simples sentimento de pena, mas conscientes e em busca da transformação das atitudes pessoais, familiares e sociais.
Viver em sociedade significa ter consciência de que somos parte de um todo e que só poderemos estar verdadeiramente bem quando as oportunidades e possibilidades envolverem cada um dos que fazem parte dessa grande família humana. Sentir-se responsável pelo próximo não é somente compreender o outro como irmão, mas significa colocar-se ao lado de cada pessoa, comprometendo-se com ela para amá-la e ajudá-la a ser feliz. “O Senhor colocou-nos no mundo para os outros”, dizia Dom Bosco.
Como Dom Bosco e Madre Mazzarello
Já em sua época, São João Bosco e Madre Mazzarello tiveram a clareza de que tempos felizes são possíveis por meio da educação e da formação de pessoas melhores. Uma empreitada nada fácil, mas não impossível. O Santo dos Jovens teve consciência de que o sucesso de sua almejada meta educativa necessitava de um “vasto movimento em favor da juventude”. Tinha a clareza de que somente a partir da aproximação e articulação com as diferentes forças da sociedade, seria possível alcançar seu ideal de preparar as novas gerações, tornando-as capazes de serem construtoras de uma nova sociedade.
Um mundo melhor – com justiça e equidade social, livre das ameaças à vida da pessoa humana, com desenvolvimento sustentável e o cuidado pela “casa comum” – requer, necessariamente, uma ação conjunta e em parceria, a partir de objetivos comuns. Cresce, atualmente, a consciência do que se convencionou chamar de “responsabilidade social”.
Diferentes organizações se sentem, cada vez mais, comprometidas com o desenvolvimento e a transformação social, mas o sucesso passa pela capacidade de atuarem de forma articulada e colaborativa. Trabalhar sozinho não é mais sinônimo de competência e eficácia. Em uma realidade complexa como a atual, quem soma esforços faz mais e melhor.
Esforço global
Em níveis globais e com o propósito da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Social, a Organização das Nações Unidas (ONU), composta por 193 países, lançou, em setembro de 2015, os “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, as chamadas ODS. Estes constituem uma agenda mundial formada por 17 objetivos e 169 metas a serem alcançados até 2030.
Alinhada com esse grande esforço global, a Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social), desde 2015, vem convocando as obras sociais de Salesianas e Salesianos em todo o Brasil, para atuarem como protagonistas de uma mobilização comprometida com a agenda dos ODS. Partindo da educação de crianças, adolescente e jovens, levam-se adiante a esperança e a certeza de que podemos ter pela frente um novo horizonte, tendo a perspectiva de uma sociedade com menos cidadãs e cidadãos deixados para trás.
Toda essa grande mobilização pressupõe o envolvimento e o compromisso não apenas de obras e projetos sociais, mas também das estruturas de educação formal, como escolas e instituições universitárias, das comunidades religiosas, por meio das paróquias – suas organizações pastorais e seus grupos juvenis. Por trás de toda e qualquer estrutura, porém, há pessoas que, com criatividade e generosidade, oferecem parte de suas energias e capacidades para movimentarem toda essa grande engrenagem a serviço do bem e do próximo.
Ação da Família Salesiana
A Família Salesiana, composta por diferentes institutos religiosos, por ex-alunos e ex-alunas, por Salesianos e Salesianas Cooperadores, pela Associação de Maria Auxiliadora e pelo expressivo número de mais de 200 mil crianças, jovens e suas famílias (que frequentam nossas estruturas), se constituiu como um grande exército do bem.
Há, contudo, muito a ser feito e, também, a necessidade de que muitos outros se engajem no serviço pelo bem material e espiritual das novas gerações. Que juntos façamos crescer sempre mais a ação social salesiana, gerando compromisso e alinhamento entre pessoas e instituições. Que todos, indistintamente, mas sobretudo os que carregam o nome de cristãos, se façam presentes em todo esse desafiador processo de construção do Reino do Pai, chamado: Civilização do Amor!
Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social).