No início de 1921, padre Albera escrevia:
“Quando penso no dia em que, ainda um jovem de 13 anos, era acolhido caridosamente por Dom Bosco no Oratório, sinto-me invadido pela emoção e, uma a uma, me vêm à mente as graças quase inumeráveis que o Senhor me reservava na escola desse doce Pai. E, junto comigo, quantos devem repetir: somos devedores do venerável Dom Bosco. Nossa educação e a vocação ao sacerdócio, as devemos à solicitude paternal deste homem de Deus, que nutria, para com seus filhos espirituais, um santo e insuperável afeto”.
Suas recordações hoje são o nosso patrimônio:
“Como Dom Bosco nos amava!
O amor que Dom Bosco tinha por nós era algo extraordinariamente superior a qualquer outro afeto: nos envolvia a todos e inteiramente, como em uma atmosfera de alegria e felicidade, da qual estavam afastadas as penas, as tristezas, as preocupações. Nos impregnava o corpo e a alma de modo tal, que não pensávamos mais nessas coisas. Estávamos seguros de que nelas pensava o bom Pai, e essa ideia nos tornava plenamente felizes. Era o seu amor que nos atraía, conquistava e transformava nosso coração!
Quando se fala sobre isso em sua biografia é pouco comparado com a realidade. Tudo nele tinha para nós uma potente atração: seu olhar penetrante e, muitas vezes, mais eficaz do que uma predição; o simples movimento da cabeça; o sorriso que florecia permanentemente em seus lábios, sempre novo e variado e, também, sempre calmo; a inflexão da boca, como quando se quer falar sem pronunciar palavras; as próprias palavras ditas serenamente; o porte da pessoa e seu andar ligeiro e desenvolto. Todas essas coisas trabalharam em nossos corações juvenis como um íman, diante do qual era impossível resistir. Ainda que pudéssemos, não o teríamos feito nem por todo o ouro do mundo, pois nos sentíamos tão felizes por este ascendente pessoal sobre nós – o que nele era a coisa mais natural, sem qualquer afetação ou esforço.
E não podia ser diferente, porque de cada uma de suas palavras e ações emanava a santidade da união com Deus, que é a perfeita caridade. Ele nos atraía pela plenitude do amor sobrenatural que estava em seu coração, e que, com suas chamas, absorvia, unificando as pequenas fagulhas do mesmo amor, suscitadas pela mão de Deus em nossos corações.
Éramos seus, porque em cada um de nós se enraizava a certeza de que ele era verdadeiramente um homem de Deus, no sentido mais claro e amplo da palavra.
Desta atração singular surgia a obra conquistadora de nossos corações. A atração pode ser exercida também pela simples qualidade natural da mente e do coração, do trato e dos modos, do que torna simpáticos os que possuem essas qualidades. Porém, uma atração semelhante, depois de pouco tempo se debilita até desaparecer totalmente, e pode ainda deixar lugar a aversões e contrastes.
Dom Bosco nos atraía assim; com os múltiplos dons naturais transformados em sobrenaturais pela santidade de sua vida, e nesta santidade estava todos o segredo dessa atração que conquistava para sempre e transformava os corações.
Somos herdeiros
Um ex-aluno escreveu como padre Albera se parecia com Dom Bosco: “de uma piedade profunda e modéstia exemplar... nele se sente o verdadeiro homem de Deus. Sua grandeza está cheia de humildade cristã. Nenhum gesto, nem a postura, nem palavras altivas... sua palavra serena chega aos recônditos mais produndos do coração”.
Estamos celebrando o primeiro centenário da morte de padre Albera, em 29 de outubro de 1921, aos 76 anos. Para este ano, foi proposta uma Estreia que pode ser também a nossa herança: “... o próximo ano seja um ano em que todos trabalhemos com empenho e concórdia para fazer Dom Bosco reviver em nós e em toda a obra salesiana: na nossa vida religiosa, em nossa atividade de educadores e pastores de almas; nos jovens que o Senhor nos confia, em nossos ex-alunos e cooperadores, em todas as pessoas das quais devemos cuidar”.
Padre Manuel Pérez, SDB, é diretor do Centro Salesiano de Formação Permanente América (CSFPA), de Quito, Equador.