Olhar para São João Bosco e recorrer a ele com devoção é deixar-se inspirar pelo seu amor e ardor pelo cuidado e a salvação das novas gerações, que ele classificava como “a porção mais preciosa da sociedade”.
Sua dedicação incansável pode ser pensada, num primeiro momento, como uma resposta às carências e necessidades que envolviam a vida de tantos pequenos camponeses que, à procura de trabalho na cidade de Turim, na Itália, se viam às voltas com o abandono, a fome, a falta de um lugar para dormir e, não raro, com a exploração que algum patrão lhes impunha, na construção civil, trabalhos pesados e sem nenhuma segurança.
Não há dúvida de que tal situação levou Dom Bosco a dedicar a esses pequenos garotos e jovens as suas melhores energias. A preocupação, a empatia e a percepção de que estavam abandonados à própria sorte foram determinantes para que chamasse para si a responsabilidade de oferecer-lhes uma resposta e uma oportunidade para que pudessem ver transformada a própria realidade de dor e sofrimento.
Um olhar para os jovens pobres
Se queremos, contudo, avaliar adequadamente a ação de Dom Bosco em favor dos seus “pobres jovens”, como ele os classificava, precisamos ser capazes de perceber que seu olhar ia muito além de uma mera compaixão social, ou, mesmo, do zelo de quem estava investido de uma condição religiosa, preocupado com obras de caridade.
Aliás, na perspectiva da religião, o sacerdote Bosco assumiu uma postura muito diferente da que era peculiar a boa parte do clero do seu tempo, que acreditava que não se deveria “perder tempo” com aquele tipo de rapazes. Diferiu também dos olhares dos políticos e governantes da época, que viam naqueles garotos nada além de “vagabundos e malandros”, como os classificara o Marquês de Cavour, conforme narra o mesmo Dom Bosco nas Memórias do Oratório, e para quem ele fez questão de afirmar: “São pobres filhos do povo” e “rapazes abandonados e meninos pobres”.
A grandeza da ação social de Dom Bosco decorre da visão e da postura que ele foi capaz de empreender ao trazer para perto de si, centenas e centenas de meninos, que foi arregimentando pelas ruas de Turim. Ao afirmar, no início da Congregação, que seus religiosos eram chamados a serem educadores da juventude, já estabeleceu um perfil de trabalho e atuação que o levou muito além do que se poderia classificar como um serviço social. Não deixou de atuar também tendo presente essa dimensão e buscando assegurar as condições sociais almejadas por esse tipo de serviço. Foi, porém, muito além.
Jovens protagonistas
Papa Francisco, quando fala do bem a ser feito e da necessidade de ir às periferias, traz para nossa reflexão a perspectiva de que tais pessoas estão longe de serem somente vítimas passivas. O Papa as percebe como — quando ajudados e organizados — “capazes de tornarem-se protagonistas das próprias histórias e de construí-las com dignidade”. É exatamente dessa forma que o Santo da Juventude, já no seu tempo, via os jovens relegados à própria sorte.
A forma como o Santo Padre, o Papa, descreve os que hoje sofrem, parece estar, de fato, falando dos meninos de Dom Bosco: “São camponeses sem terra e pequenos agricultores [...] trabalhadores explorados, catadores de lixo e vendedores ambulantes, artistas de rua, moradores de favelas [...], vivem de bicos. Sem lugar fixo, sem habitação adequada, com acesso limitado à água potável e a alimento de qualidade [...] sofrem todo tipo de vulnerabilidade”.
O modo como São João Bosco vai ao encontro dos seus meninos antecipa a visão de Francisco: vê em cada um deles o potencial para o bem; o quanto estão investidos da dignidade de filhos de Deus. Sabe que, ao oferecer-lhes oportunidade de escolarização e preparo para o mundo do trabalho, tornam-se verdadeiros agentes de transformação na sociedade.
Ao percebê-los como necessitados de alguém que deles se ocupasse, que lhes oferecesse amor e confiança, moradia, escola, formação profissional, direitos trabalhistas, cultura e uma verdadeira experiência de Deus, o sacerdote João Bosco o faz com a consciência de que, dentre aqueles meninos, poderiam emergir cristãos capazes de viver com compromisso a própria fé e, em simultâneo, cidadãos que, com empenho, poderiam ganhar de forma digna o sustento e também disseminar o bem e a transformação social. Era a aposta no potencial que cada menino traz dentro de si. Igual olhar teve, também, para com as meninas, unindo-se a Madre Mazzarello para fundar as Filhas de Maria Auxiliadora.
O presente com visão de futuro
Atualmente, mais do que nunca, essa visão do Santo, que conseguiu olhar o presente com visão de futuro, continua a mover pelo mundo mais de 14 mil salesianos e 11 mil salesianas, além de um exército infindável de leigos e leigas que compartilham essa mesma missão e o compromisso de uma aposta incondicional nos jovens. Essa realidade não difere no Brasil, em mais de 100 obras e presenças sociais esparramadas pelo nosso vasto território, e tendo à frente os Salesianos de Dom Bosco e as Filhas de Maria Auxiliadora. Escolas, universidades e paróquias ampliam esse imenso trabalho que alcança mais de 200 mil crianças, adolescentes e jovens.
Há, ainda, os que levam adiante a força desse carisma em 32 grupos e organizações religiosas e de leigos, que compõem a Família Salesiana. Entre esses, existem grupos como os Salesianos Cooperadores: rapazes, moças e casais que, vivendo na família, se sentem vocacionados para trabalhar pelo bem da sociedade, com um olhar mais atento às novas gerações. Assumem essa missão com amor e compromisso e estão sempre abertos a acolher novos membros. Você pode ser um deles! Contate a Associação dos Salesianos Cooperadores pelo site: https://ssccregiaobrasil.com.br.
Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social).