Premissa: Mornese e Nizza Monferrato são comunidades “sinodais”?
Partamos de uma provocação: podemos definir Mornese e Nizza Monferrato como comunidades sinodais? "Sinodalidade", "comunidades sinodais" certamente não eram termos usados no século XIX. Também a visão de Igreja é muito diferente da qual falamos hoje.
Se entendemos, porém, a sinodalidade como um modo de ser e agir, promovendo a participação de todos numa missão educativa comum, penso realmente ser possível encontrar alguns elementos de um estilo sinodal na vida de Maria Domingas e na primeira comunidade das FMA.
Procuremos explicar e justificar esta afirmação. Eu faço isso partindo de uma declaração obtida do documento em preparação ao XXIV Capítulo Geral: "Constituir uma comunidade com muitos rostos, que vive e trabalha em conjunto, é possível porque essa é 'reunida pelo Pai, baseada na presença de Cristo Ressuscitado e nutrida por ele, Palavra e Pão' (Const. 49)". O estilo sinodal da comunidade de Mornese tem um fundamento teológico claramente destacado nas Constituições: a comunidade é reunida pelo Pai e baseada na presença do Ressuscitado. A "sinodalidade" de Mornese é, portanto, expressão da espiritualidade de comunhão que tem o seu fundamento na Trindade e se concretiza na comunhão entre as irmãs e as meninas.
Depois há um segundo trecho: essas comunidades nasceram não para ter um fim em si mesmas, mas para anunciar a boa nova do Evangelho, isto é, a missionariedade. Tanto as FMA de Mornese, quanto os Salesianos em Valdocco nasceram de uma experiência comunitária muito intensa. O clima da fundação do Instituto é um dinamismo de caridade que reúne em comunhão mulheres frágeis, pobres, com pouca cultura. A caridade é uma força poderosa que estimula, anima, converge pessoas tão diferentes e as ajuda a superar os conflitos inevitáveis e a pobreza em todos os níveis; as torna corajosas, previdentes no anúncio do Evangelho, para além das fronteiras de onde nasceram, isto é, em direção às periferias do mundo.
É bonito pensar que da comunidade de Mornese, pequena e isolada, mesmo com limitações, dificuldades e fraquezas, continue a jorrar uma riqueza evangélica que alcança todas as nossas comunidades, nos cinco continentes, fecundando-as com vida sempre nova.
O estilo de animação "sinodal" de Maria D. Mazzarello na comunidade de Mornese
Penso que não seja uma forma de anacronismo afirmar que a originalidade de Maria Domingas Mazzarello, enquanto madre, educadora e cofundadora está no fato de ter colaborado na criação de comunidades sinodais, isto é, comunidades caracterizadas por trabalhar, rezar, viver e compartilhar a vida e a missão "juntas". A comunidade era coesa, unida e fecunda porque era animada sabiamente por madre Mazzarello, mulher de comunhão e de colaboração.
O estilo de comprometimento e colaboração
O ambiente educativo e o estilo da comunidade criada e animada por Maria Domingas Mazzarello são baseados na colaboração e no comprometimento de todos: FMA, educadoras leigas, diretores da comunidade, famílias das educandas e as próprias meninas. O seu modo de animar a comunidade reafirma o caráter de uma presença cuidadosa e boa, flexível e atenta às necessidades de cada uma, como numa família onde a convivência é permeada de doçura, amabilidade e alegria.
Maria Domingas era consciente de que a educação requer uma conformidade de intervenções, de complementariedade, de reciprocidade, de colaboração em várias frentes. Ela tinha compreendido o provérbio africano: "Para educar uma criança é necessária uma aldeia inteira".
As fontes para estudar e aprofundar a dimensão da convergência e da colaboração em vários níveis na missão educativa em Mornese são poucas e fragmentadas, todavia, parecem suficientes para afirmar uma vida comunitária sinodal. Destaco algumas:
O ambiente paroquial no qual cresceu e viveu Maria Domingas propiciava a abertura e a participação. Padre Pestarino, vice-pároco, ofereceu uma contribuição fundamental para a renovação da comunidade mornesina mediante o envolvimento de todos: crianças, jovens, adultos, mães, pais, através de várias associações. Maria Domingas, então jovem, era profundamente envolvida e partícipe na sua comunidade, não somente recebendo a sua formação humana e cristã, mas também, sem saber, colaborando ativamente para a renovação da própria paróquia. Nesse ambiente rico de relações, Maria Domingas aprendeu um estilo de "caminhar juntos".
As famílias das educandas eram profundamente envolvidas na missão educativa. Maria Domingas, na qualidade de Superiora, procurava a colaboração entre o colégio e os pais das alunas. Examinando o Programa da casa de educação de Mornese, sabe-se como as famílias das alunas eram ativamente comprometidas na realização do objetivo educativo e em algumas decisões práticas. Os pais, por exemplo, podiam pedir para suas filhas lições opcionais de francês, de desenho, de piano e, se desejassem, um mês de férias entre 15 de setembro a 15 de outubro. As visitas às educandas eram concedidas uma vez por semana ou mais frequentemente, no caso de doença. Cada trimestre, os pais recebiam informações sobre a saúde, o comportamento, o desempenho escolar de suas filhas. Prova evidente dessa colaboração são as cartas de Maria Domingas às famílias (cf. Carta 10, 12, 30).
As FMA em seus diferentes papéis. De fato, era exigido de cada FMA, qualquer que fosse seu papel, uma atitude educativa que não fosse genérica, mas clara e oportunamente propositiva. As intervenções das inúmeras pessoas responsáveis (diretora, vigária, ecônoma, professora de trabalho, assistente de estudo, de quarto, cozinheira, porteira, professora de música...) eram destinadas a formar a mulher na sua completude humana, cristã, profissional.
Maria Domingas procurou, também, sempre interagir junto das professoras leigas que circulavam na escola. Infelizmente, as fontes sobre a colaboração com as professoras leigas são muito escassas. Através da Cronistória é possível conhecer algumas educadoras leigas que deram a sua contribuição à educação das jovens (Emília Mosca e Ângela Jandet que, em seguida, tornaram-se FMA; Salvini Cândida, Ângela Bacchialoni). Não se deve esquecer uma outra forma de colaboração à formação das leigas: os exercícios espirituais realizados por alguns anos em Mornese e Nizza Monferrato. O escopo era claro: contribuir com a formação cristã das mulheres e favorecer a orientação vocacional das jovens. O escopo secundário era o de divulgar o Instituto e manter as obras.
Na comunidade de Mornese o diretor espiritual tinha também um papel insubstituível. As suas intervenções eram, sobretudo, relativas ao ministério sacerdotal, mas eram momentos privilegiados de uma obra de formação mais extensa, contínua e compartilhada. Era uma ação que se desenvolvia, de fato, em colaboração direta com a de Maria Mazzarello e das outras educadoras.
Na comunidade, as meninas tinham um lugar especial. Elas eram profundamente comprometidas e protagonistas do próprio crescimento. No estímulo e liderança da comunidade, Maria Domingas envolvia e pedia conselhos e opiniões a todas, também às meninas e às jovens em formação. Desse modo, ela desenvolvia a sua missão respeitando as meninas e as irmãs, sem pesar a sua autoridade, ao contrário, promovendo as pessoas e suscitando a participação e a corresponsabilidade: "Às Irmãs – afirma Henriqueta Telesio – não fazia sentir o peso da autoridade, mas as conduzia com o exemplo". É uma autoridade que se conjuga com o coração de mãe e com a coerência da vida.
Tudo o que foi dito até aqui revela como, desde as origens, as FMA são conscientes do fato de que se educa em conjunto, através de um amor revestido de paciência e bondade, na fidelidade ao próprio dever cotidiano. Esse amor favorece nas meninas o amadurecimento da confiança, do altruísmo, da solidariedade, da benevolência e da caridade. Para chegar a esse escopo é necessário o estilo próprio e característico de "caminhar juntos".
Maria Domingas não chegou improvisamente a essa capacidade de "caminhar juntos". Deus a havia preparado através de uma longa iniciação e mediante uma diversidade de experiências: de fato, ela foi a primeira de treze filhos, viveu uma intensa experiência apostólica e espiritual na paróquia e foi membro ativo da Associação das Filhas de Maria Imaculada. Antes de conhecer Dom Bosco e tornar-se FMA, já tinha feito uma consciente escolha educativa, dedicando-se plenamente à salvação das meninas da sua localidade. Essas experiências foram para ela ocasião e terreno fecundo para aprender a gerir as relações, colaborar na reciprocidade, confiar, abrir-se aos outros, sentir-se responsável, dar respostas concretas às necessidades das meninas etc.