Escreve padre Bonetti, no capítulo 51 dos Cinco Lustros de História do Oratório Salesiano:
“Agrada-me acenar às práticas principais, públicas e particulares, que tinham lugar entre nós no dito mês (maio), tão caro aos devotos de Maria. Todas as noites, reunidos na igreja de São Francisco de Sales, cantava-se um louvor à Virgem, fazia-se a leitura do dia no livreto composto e impresso por Dom Bosco para esta finalidade. Depois, dava-se a bênção com o Santíssimo. Pela manhã, o tribunal da penitência ficava apinhado de jovens que desejavam reconciliar-se com Deus. A mesa dos Anjos era tão frequentada que cotidianamente parecia dia de comunhão geral.
Durante os diversos recreios do dia, podia-se ver um contínuo vai e vem de jovens na igreja diante do altar de Nossa Senhora. Muitos deles sacrificavam boa parte de seus divertimentos, ficando ali para rezar ou para ler algum livro que tratava das glórias dela. Os clérigos e os jovens mais hábeis, tendo feito uma coleção de belos exemplos, contavam-nos ao menos um por dia, ora a este, ora a um outro grupinho de companheiros, engenhando-se em tornar conhecidas as prerrogativas, as virtudes e as misericórdias da Grande Mãe de Deus, acrescer o número de seus filhos e atear neles um grande amor para com Ela.
Depois da janta e antes das orações, reunidos no pátio sob os pórticos, muitos se divertiam cantando louvores a Nossa Senhora, disputando assim em honrar aquela que, depois de Deus, naquele mês ocupava nossa mente e nosso coração. Em todos os estudantes e nos aprendizes era uma admirável competição em manter uma conduta exemplar em todos os sentidos a fim de ter a consolação e o orgulho de apresentar à Augusta Rainha do Céu, no fim do mês, uma coroa entretecida de muitas notas dez.
Estas práticas ainda não lhes pareciam suficientes para dar largas à piedade dos jovens para com sua dulcíssima Mãe. Todos os dormitórios tinham seus altarzinhos onde sobressaiam suas graciosas imagens, rodeadas de flores, de lâmpadas e de candelabros. Os jovens assumiam a responsabilidade de suprir as despesas necessárias, se eram aprendizes, dando uma parte do salário que lhes cabia por direito no fim da semana; se eram estudantes, oferecendo dinheiro ou outros objetos de que podiam dispor.
À noite, depois das orações em comum, em cada dormitório, antes de se deitarem, o clérigo assistente os reunia diante do altarzinho e alternadamente com eles recitava sete Ave-Marias em memória das sete alegrias ou das sete dores da Virgem. Depois deste ato, cada um, dando uma filial saudação e pedindo a bênção, como se fosse à própria mãe, ia alegremente para a própria cama. Nos dias festivos e no encerramento do mês, um clérigo, antecipadamente encarregado, fazia uma reflexão em honra de Maria, treinando deste modo no dormitório as primeiras provas de pregador sob os auspícios Daquela que merecidamente é chamada Rainha dos Apóstolos.
O Senhor abençoou tais iniciativas e estes meios de caridade e de religião, e os coroou de frutos salutares. Para falar a verdade eu não me lembro de que a piedade e a moralidade tivessem florescido entre nós melhor do que até então. Os jovens aprendizes mostravam-se mais ativos e mais amantes do trabalho. Os estudantes eram mais afeiçoados aos deveres escolares. Professores e assistentes eram mais amorosamente compreendidos em suas canseiras.
Foi uma demonstração muito clara de que a religião é fundamento e meio muito eficaz para uma sábia educação. A caridade, o zelo e as boas maneiras de quem dirige e ensina sempre conseguem conquistar a mente e o coração dos jovens, afastá-los dos vícios, enamorá-los da virtude e torná-los bons cristãos e honestos cidadãos. Ao formar os ânimos para o bem, o método preventivo deve ser preferido ao repressivo. Aquele ano foi, por assim dizer, a idade de ouro do nosso Oratório e com certeza os sucessores de Dom Bosco devem fazer ardentes votos de que esta época volte e se estenda a todos os institutos, atuais e futuros”.
Mutatis mutandi, o mês de maio, pelo mundo salesiano afora, sempre foi muito concorrido à luz da tradição que vem de Dom Bosco. Educadores e educadoras em nossas presenças porfiam com seus destinatários nas homenagens à Mãe de Deus e nossa, a “Virgem de Dom Bosco” e Auxiliadora dos cristãos.
Para saborear o artigo é preciso adentrar o contexto religioso e devocional do século XIX, século de Dom Bosco e do seu Oratório de São Francisco de Sales. E ter o “coração de criança”, para que o Reino possa acontecer pela mediação de Maria. Ad Jesum per Mariam!.
Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).