Os pátios do Liceu Coração de Jesus, no bairro Campos Elíseos, em São Paulo, têm sido tomados por um clima de alegria e entusiasmo. O motivo? A chegada de 500 novos alunos da rede municipal de ensino de São Paulo, que começaram a estudar no Liceu.
O ingresso desses estudantes é resultado de uma recente parceria firmada entre o Liceu e a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação, a fim de oferecer ensino integral, público e de qualidade para discentes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental 1, que moram no entorno do colégio.
“A criançada já chega sorrindo na escola”, conta o padre Marco Biaggi, Diretor-Presidente do Liceu, que todas as manhãs se posiciona na portaria da escola para receber os alunos com muita música e festa, bem ao estilo salesiano.
Ao longo do turno escolar, que segue até as 16 horas, os estudantes têm acesso a três refeições diárias: café, almoço e lanche. Além disso, desfrutam de um espaço, de cerca de 10 mil metros quadrados, com 20 salas de aula equipadas com lousas eletrônicas, quadra esportiva, sala de ginástica, laboratório, ambiente maker (criação) e um aconchegante e descontraído espaço de leitura.
Uma escola municipal com estilo salesiano
De acordo com o padre Marco, que desde 2021 está à frente da instituição, a partir do momento em que a parceria foi estabelecida, o Liceu passou a seguir todas as diretrizes da Secretaria Municipal da Educação, no que concerne ao uso do material didático da prefeitura. “A parceria é: o material da rede pública de ensino e a aplicação desse material com o nosso estilo salesiano”, explica o padre Marco.
Atualmente, o Liceu conta com uma equipe, contratada diretamente pela Rede Salesiana, formada por diretor, assistente de diretor, coordenador, secretária, auxiliar administrativo e de limpeza, inspetor de aluno e 32 professores. Destes, dez atuam no Ensino Infantil, sendo dois volantes, e outros dez no Ensino Fundamental, com dois volantes, além de oito professores especialistas de artes, inglês, inclusão, educação física e um orientador de ensino integral.
Antes do início do ano letivo, todos os educadores participaram de uma formação, ministrada pelos profissionais da prefeitura, sobre o Currículo da Cidade, documento que norteia as atividades curriculares do Município de São Paulo. Além disso, tiveram uma outra formação para entender as diretrizes do carisma salesiano.
A atual diretora do Liceu, Nilza de Sousa Pereira Silva, que já soma 18 anos de experiência na área de educação, acredita que ambos os documentos se completam. “Se olharmos, dá para ver que os dois projetos se cruzam, pois falam do amor, carinho, respeito. Mudam as palavras, mas as propostas estão bem casadas”, considera.
Acolher, acolher e acolher
“Em nenhuma escola eu me senti tão acolhida quanto aqui”. Foi exatamente isso que Nilza escutou da mãe de Paulo, um aluno cadeirante que, antes de chegar ao Liceu, foi recusado em outras seis escolas por causa da sua deficiência.
A entrada de Paulo no Liceu, além de representar um alívio para a peregrinação da mãe, mostrou o quanto a acolhida salesiana, marcada pelo respeito, cuidado e afeto, traz resultados positivos em pouco tempo. Prova disso é a forma como o aluno vem se desenvolvendo e superando seus limites dia após dia. “Por conta da paralisia cerebral, ele não tinha movimento nenhum. Hoje já pega no giz, almoça e até repete as refeições”, comemora Nilza.
A equipe do colégio recebeu outros retornos positivos pelo ‘jeito salesiano’ de acolher, de escutar, de falar e até de corrigir. “Alguns disseram ‘nossa, como vocês acolhem’; ‘nossa, como vocês são diferentes’. Teve uma aluna que expressou um ‘uau, que lugar lindo, maravilhoso’, quando entrou na escola pela primeira vez”, conta Nilza com um largo sorriso no rosto.
Outra característica, típica da maneira salesiana de acolher, é a presença permanente ao lado dos alunos. “Dom Bosco falava que ‘a assistência previne os erros, previne as faltas’, então, nunca deixamos o educando sozinho, oferecemos assistência constante desde a hora que ele chega até a hora de sair”, reforça o padre Marco.
Projetos que preparam para a vida
Ao longo desse primeiro semestre, alguns projetos já foram colocados em andamento a fim de garantir a formação integral dos estudantes. Um deles, realizado com as turmas do Ensino Fundamental I, teve como objetivo o conhecimento e a exploração do bairro de Campos Elíseos. Ao longo da atividade, mediada por Marcos Lima, coordenador do Museu da Obra Salesiana no Brasil (MOSB), os alunos tiveram a oportunidade de ouvir as histórias do bairro, ver fotos e reportagens antigas, a fim de perceberem como era a estrutura, a geografia e a arquitetura da região.
Outro projeto é voltado para o aspecto da cidadania, no qual são ensinados o respeito e a cidadania, no sentido de ser um bom cidadão e de como esse bom cidadão contribui para melhorar a vida de todos.
O terceiro projeto, que ainda será implantado, será a criação de uma horta para os próprios alunos cuidarem. “A ideia é mexer com a terra, sentir cheiros, plantar, colher e, principalmente, fazer entender que a educação integral não é ficar o dia todo na escola; é sair do conteúdo escolar e passar por trás desses muros e ir além do intelecto”, comenta Nilza.