Domingos Sávio, em conversa com Dom Bosco acerca da santidade, certa vez disse: “Não pensava que fosse tão fácil. Agora sei que posso ser santo estando alegre, quero-o absolutamente e sinto mesmo absoluta necessidade de me tornar santo”. De fato, seguir um caminho de santidade não exige de nós tristeza e semblantes apáticos, fuga da realidade; mas alegria, empatia e encontro. Afinal, anunciamos ao mundo uma grande felicidade: Jesus, o Ressuscitado, que jamais deixou de ir ao encontro das mais variadas e distintas realidades.
Interessante que essa alegria, ressaltada e apresentada por São Domingos Sávio, é uma das receitas ensinadas por Dom Bosco para o alcance da santidade. Temos neles dois exemplos de santos que se serviram deste ingrediente para serem bons cristãos. Os dois, São João Bosco e São Domingos Sávio, expressaram sua alegria no convívio cotidiano, em ambientes que frequentavam. Assim, entendemos que a alegria precisa também ser externalizada, por meio do convívio e das relações, isto é, do encontro com o outro.
Nesse sentido, Dom Hélder Câmara afirmava que ser santo ou santa não significa somente “ter visões transcendentais ou o poder de operar milagres”; mas implica a lembrança e atitude de trazermos Cristo dentro de nós, e que Deus nos carrega consigo. Isso já é motivo de grande alegria.Conhecer e seguir JesusTodavia, só temos o desejo de ser santos se conhecermos Jesus e aderirmos ao seu exemplo e à sua proposta de anúncio do Reino de Deus, no cuidado com as pessoas, especialmente as mais pobres, excluídas, tratadas de modo mais injusto e indigno. Assim, a santidade está no ato de seguir Jesus. Seguimento que leva em consideração a nossa singularidade: cada um de nós dentro da própria realidade, buscando seguir o mandamento “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15, 12-17). Amar, nessa perspectiva, significa desejar, querer bem, lutar e cooperar para que o bem aconteça.
O Papa Francisco nos ajuda na compreensão do bem quando ressalta, por meio da sua carta encíclica Laudato Si’, que é importante querer bem e amar tudo aquilo que é obra e criação de Deus. Todos unidos e interligados numa ecologia integral.
Logo, progredimos na santidade à medida que cuidamos bem, com alegria, da nossa Casa Comum, respeitando e amando toda a natureza, os organismos vivos, o meio ambiente e os seres humanos. Para isso, precisamos gerar em nós, como salienta o nosso amado Papa, sentido e desejo de bem comum, para que todas as coisas caminhem para a justiça e a paz.
Ser santo, portanto, é mais do que se recolher ao isolamento. É a escolha diária, sincera, aberta, na alegria, pelo encontro consigo e com toda a obra da criação divina. Ser santo é gestar em si sentimentos de generosidade, de cuidado, de sentido de pertencimento. Em outras palavras, cultivar empatia para com a obra de Deus. É perceber que o mundo pode ser ainda melhor, ainda mais bonito, com a sua ação e atitude.
A empatia
E você sabe que estes elementos, frutos dessa atitude tão bonita e comentada nos dias de hoje que é a empatia, foram primordiais para que Dom Bosco, Santa Teresa de Calcutá, Santa Dulce dos Pobres e outros santos e santas trilhassem o caminho da santidade?
Exatamente. Por exemplo: Dom Bosco soube se colocar, com alegria, no lugar daqueles jovens pobres, deixados à margem e abandonados na cidade de Turim. Ele viu ali que alguma coisa precisava ser feita para que a dignidade humana os alcançasse e trabalhou arduamente para isso, sempre com um sorriso, sempre com atitudes de acolhida, sempre com generosidade e gratidão, mas nunca ingenuamente, nunca fora da realidade, nunca deixando de perceber as injustiças e maldades presentes no mundo.
Então, com base em nosso caminho percorrido até aqui, compreendemos que para chegar à santidade precisamos amar o ser humano, criar e cultivar relações. Com isso, consequentemente, entendemos que precisamos cuidar da nossa Casa Comum, para que as pessoas vivam de forma mais plena e digna. Precisamos criar a cultura do encontro, pois ninguém chega à santidade sozinho. Na verdade, ninguém vive o cristianismo de forma solitária, sem o contato com pessoas e realidades.
Que tenhamos a consciência de que a santidade é para todos e tem necessidade de ser abraçada desde já. Que precisamos trabalhar entre nós o entendimento de que tudo está interligado, como afirma o Papa Francisco, e que o avanço do bem comum significa avanço pessoal de santidade e alcance do reino de Deus.
Que Dom Bosco, Pai e Mestre da juventude, e São Domingos Sávio intercedam por você e por sua família, para que Deus os encoraje cada vez mais na vivência do encontro e no progresso para uma santidade juvenil e contextualizada.
Fernando Campos Peixoto, SDB, é professor de Filosofia, teólogo e mestrando em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), MS.