Especial

istock / SasinParaksa

Educomunicação: um novo olhar sobre a educação salesiana

Ir. Márcia Koffermann, FMA
A Educomunicação aparece como um novo paradigma, que permite educar e comunicar numa perspectiva crítica, tendo em vista a construção de ecossistemas educomunicativos marcados pelo protagonismo, pelo diálogo, pela igualdade e pela sinergia de ações em favor da transformação da sociedade.

A educação salesiana, com mais de 150 anos de história, é marcada não apenas pela tradição, mas também pela capacidade de inovar e responder com competência às diferentes necessidades de cada tempo e lugar. O Sistema Preventivo é uma grande contribuição da educação salesiana, um legado deixado por Dom Bosco e Madre Mazzarello; que se reinventa e se manifesta sempre com uma atualidade carismática e excelência profissional. Ao mesmo tempo, o Sistema Preventivo também se enriquece e se fortalece com as novas teorias e práticas que surgem em diferentes contextos. Assim acontece com a Educomunicação, uma teoria e práxis que surgiu na América Latina na segunda metade do século XX.

A Educomunicação surge da aproximação entre Comunicação e Educação, e está alicerçada nas teorias e práticas de vários pesquisadores latino-americanos, tais como: Paulo Freire, Mário Kaplún, Jesus Martín-Barbero, Francisco Gutiérrez e Ismar de Oliveira Soares. A Educomunicação aparece como um novo paradigma, que permite educar e comunicar numa perspectiva crítica, tendo em vista a construção de ecossistemas educomunicativos marcados pelo protagonismo, pelo diálogo, pela igualdade e pela sinergia de ações em favor da transformação da sociedade.

Para o pesquisador Ismar de Oliveira Soares, a Educomunicação “é um novo campo, de natureza relacional, que se estrutura de um modo processual, mediático, transdisciplinar e interdiscursivo, sendo vivenciado na prática dos atores sociais através de áreas concretas de intervenção social”. Ou seja, a Educomunicação preocupa-se com os processos educativos e comunicativos, pensando-os além de uma visão instrumental e segmentada, e tendo em vista a integralidade da pessoa. Na prática educomunicativa, os educandos não podem ser compreendidos como receptores, mas devem ser instigados a agirem como sujeitos ativos, críticos e inseridos nas grandes questões que marcam a sociedade da qual fazem parte.

istock / Konstantin Postumitenko
Há muitos anos, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora adotou a Educomunicação como uma linha transversal de ação que perpassa todo o agir comunicativo.

Sinergia
Nesta perspectiva, a educação não é um espaço de transmissão de conhecimentos, mas uma série de processos que promovem o desenvolvimento sustentável da sociedade, a vivência dos direitos humanos e o cuidado com o bem comum. Esta visão de educação proposta pela Educomunicação está plenamente de acordo com a educação salesiana, compreendida pelo Sistema Preventivo de Dom Bosco e Madre Mazzarello. Na verdade, a Educomunicação possibilita a atualização do Sistema Preventivo, trazendo presente as problemáticas e os anseios da atual sociedade em que vivemos.

De forma muito breve, podemos elencar alguns elementos de forte sinergia entre a prática educomunicativa e a prática salesiana:

Educação pautada no diálogo – necessidade de escuta, respeito ao ponto de vista de outro, valorização dos diferentes saberes, capacidade de análise e argumentação.

Empoderamento dos sujeitos – importância de que cada membro da comunidade educativa seja respeitado e valorizado, comprometido com o bem comum e inserido em ações concretas em favor da construção de uma sociedade mais humana e digna para todos.

Integralidade da pessoa – capacidade de compreender o educando em uma perspectiva multidimensional, ou seja, capaz de desenvolver o tripé: razão, religião e amorevolezza em uma perspectiva da formação integral e comprometendo, portanto, todos os membros da comunidade na construção do ecossistema educomunicativo.

Pensamento crítico – reconhece a educação como um ato político, no sentido de que nunca é neutra e está comprometida com a construção de uma determinada sociedade. Neste sentido, a educação permite o estudo e a compreensão da sociedade em toda a sua complexidade e, ao mesmo tempo, compromete os sujeitos a colocarem em prática ações e processos que tenham em vista o surgimento de um mundo mais de acordo com o projeto de Deus.

Valorização das diferentes linguagens – ao compreender o ser humano em sua multidimensionalidade, oferece a possibilidade de desenvolvimento das múltiplas linguagens, sejam elas verbais, não-verbais, artísticas, midiáticas ou informacionais, valorizando os diferentes saberes, visões de mundo, sentimentos e modalidades de relação.

Cláudio Cuca

Educomunicação na prática
Estes são apenas alguns dos elementos que aproximam a prática educomunicativa da educação salesiana. Poderiam ser elencados muitos outros, mas nestes cinco aspectos já é possível identificar a preocupação comum com a formação do bom cristão e honesto cidadão, a partir da Pedagogia do Ambiente.

É importante ter presente também que o Magistério da Igreja, marcadamente sentido nas últimas encíclicas do Papa Francisco, apontam para a necessidade de somarmos forças diante das grandes emergências globais que ameaçam a vida de nosso planeta. Essa visão crítica, reflexiva e prática é uma proposta eminentemente educomunicativa e salesiana.

Há muitos anos, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora adotou a Educomunicação como uma linha transversal de ação que perpassa todo o agir comunicativo. Em nosso país, a Rede Salesiana Brasil (RSB) também procura colocar em prática a Educomunicação não apenas como um estilo educativo, mas, especialmente, através de inúmeros projetos desenvolvidos nas escolas, obras sociais e demais instituições salesianas.

Nesta edição do Boletim Salesiano serão apresentados alguns destes projetos que estão sendo implantados e vivenciados desde a ótica educomunicativa.

© 2021 Copyright: Boletim Salesiano