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Democracia como arte do bem comum

Ir. Márcia Koffermann, FMA
O exercício adequado do sistema democrático permite a participação e o engajamento de todas as pessoas, orientadas para o bem comum, por isso a importância de que os cristãos estejam realmente envolvidos e conscientes de sua responsabilidade social.

Em um encontro com representantes da sociedade civil em Atenas, em dezembro de 2021, o Papa Francisco falou da preocupação com o retrocesso da democracia, um processo que se constata em todo o mundo. Naquela ocasião, o Papa tratou do compromisso cristão em favor de uma cidadania plena, ressaltando que “a política é uma coisa boa e deve sê-lo na prática, como responsabilidade máxima do cidadão, como arte do bem comum”.

O exercício adequado do sistema democrático permite a participação e o engajamento de todas as pessoas, orientadas para o bem comum, por isso a importância de que os cristãos estejam realmente envolvidos e conscientes de sua responsabilidade social.

Nas Sagradas Escrituras
Se observarmos nas Sagradas Escrituras, a história da Salvação é marcada por intensos conflitos políticos, em meio aos quais Deus sempre toma partido em relação àqueles que são marginalizados e oprimidos. Os profetas, em diferentes tempos e lugares, são expressão da voz de Deus em favor da dignidade humana, da justiça social, da libertação dos que sofrem, de modo que a fidelidade ao Deus único e verdadeiro se concretiza na busca pela realização do Reino de Deus.

Nos quatro Evangelhos, Jesus fala 120 vezes sobre o Reino de Deus, sendo que em Lucas 4, 43, Ele sintetiza sua missão dizendo: “Devo anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus também para as outras cidades, porque para isso é que fui enviado”. Numa linguagem atual, podemos dizer que o Reino de Deus se consolida através do nosso empenho cristão cotidiano em favor do bem comum.

Compromisso cristão
Segundo a perspectiva cristã, o compromisso com o bem comum é muito mais do que o simples ato de votar naqueles que representarão os interesses do povo. Implica em uma participação ativa nos problemas que perpassam a esfera pública. Diante do alto nível de corrupção que presenciamos, do descontentamento e desencanto com as promessas não cumpridas e das propostas populistas tentadoras que permeiam nossas realidades, corremos o risco de vivermos uma apatia anestesiante, que é reforçada pelo ideal de individualismo imposto pela atual sociedade do consumo.

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Entre as bases da espiritualidade salesiana estão o realismo e o humanismo cristão

Essa apatia e cansaço estão muito ligadas ao que o Papa Francisco chama de globalização da indiferença, que nos fecha os olhos diante do sofrimento do próximo.

O antídoto para este mal, que marca o nosso tempo, é encontrado na efetiva participação cidadã. A participação vai além da união de forças para alcançar algum objetivo comum que seja do meu próprio interesse. Participar implica abrir-se para a realidade do outro, sentir a dor daquele que, muitas vezes, não é ouvido, nem reconhecido.

A realidade atual nos interpela em relação a muitas problemáticas: crise ambiental, crise migratória, uma grave crise no sistema educacional, especialmente depois do tempo da pandemia e, principalmente, o dilema da fome. Segundo pesquisa da Rede PENSSAN, divulgada em junho deste ano, cerca de 43% da população do Brasil enfrenta insegurança alimentar leve ou moderada e 15%, vivencia a realidade da fome de forma grave. Esses dados não podem passar indiferentes para um cristão.

O olhar cristão e salesiano
O olhar fixo em Jesus nos faz olhar e perceber os que estão à nossa volta. Em tempos de mídias digitais, em que o excesso de conteúdo pode trazer uma superficialidade profunda de conteúdo e um distanciamento cada vez maior da realidade concreta em que a maioria da população vive, é importante o esforço de manter um olhar amplo sobre o mundo que nos rodeia.

Os espaços salesianos – sejam escolas, paróquias, universidades, obras sociais ou qualquer outra área de atuação – devem ser centros de reflexão e formação do pensamento crítico, de engajamento social e de participação ativa em prol do bem comum.

Entre as bases da espiritualidade salesiana estão o realismo e o humanismo cristão; a relação com Deus nos motiva a tecer uma relação verdadeiramente humanista com nossos irmãos, especialmente os mais pobres e excluídos. Que este tempo difícil do ponto de vista democrático possa ser uma oportunidade para dar um novo dinamismo no sentido da participação cidadã e do compromisso com a arte do bem comum.

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