Especial

Istock / Ildo Frazao

Cem anos das Filhas de Maria Auxiliadora na Amazônia

Ir. Carmelita Conceição, FMA
“Por um dom do Espírito Santo e com a intervenção direta de Maria, São João Bosco fundou o nosso Instituto como resposta de salvação às profundas aspirações das jovens. Transmitiu-lhe um patrimônio espiritual inspirado na caridade de Cristo Bom Pastor, e imprimiu-lhe um forte impulso missionário” (Art.1- Constituições FMA)

As Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) celebram neste ano o centenário da chegada das primeiras missionárias salesianas à Amazônia – 1923/2023! Capítulo de uma história que teve início no dia 5 de agosto de 1872, quando, com as primeiras jovens consagradas, se deu vida ao Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Uma história a ser vivida como protagonistas, com e pelos jovens, contagiando com o testemunho de uma fidelidade alegre que irradia felicidade e desperta nos jovens a busca de sentido da própria vida.

Partilho minha experiência como parte dessa história que me remete para o ano de 1972, quando entrei na casa salesiana como aluna no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Manaus, AM. Era festa! O Instituto fazia 100 anos de fundação! O Colégio vibrava em cantos, teatros, músicas, visitas ilustres! As Filhas de Maria Auxiliadora do mundo inteiro eram um só coração e uma só alma, seguindo as palavras de Madre Ersilia Canta: “a ideia central que deve nos animar e guiar é a de ‘redescobrir as finalidades e o espírito do Instituto’ para ‘renovar-nos’ nele individual e comunitariamente, de modo a responder plenamente ao desígnio de Deus para a nossa Congregação, para a sua glória, para a nossa santificação e para o bem da Igreja” (Circular nº 542 - 1971).

O tempo foi passando e, como Filha de Maria Auxiliadora, tive a graça de no ano passado participar da celebração dos 150 anos do Instituto, fazendo memória da vida e luta das primeiras Irmãs, revivendo os percursos de Turim, local do sonho de Dom Bosco sobre a fundação de uma Congregação Feminina. Mornese, berço da primeira comunidade das FMA, e Nizza, centro propulsor das FMA para o mundo, para o Brasil. Foi uma rica preparação para o que hoje celebramos.

Chegamos ao ano de 2023 com tantos desafios pela frente, mas com os corações ardendo de vontade de fazer como as primeiras missionárias que aqui chegaram, atentas aos sinais do hoje.

Desejo concluir dando voz às Irmãs Salesianas: duas missionárias, uma amazonense não indígena e uma indígena.

Na Eucaristia do dia 19 de fevereiro passado, celebrando a chegada das FMA em São Gabriel da Cachoeira, o bispo da Diocese, dom Edson Damian, referiu-se às FMA como “uma Congregação que adquiriu um rosto amazônico e cada vez mais um rosto indígena. Um carisma salesiano que foi se ‘amazonizando, se inculturando aqui na nossa região”.

Hoje, na região amazônica brasileira, somos 111 religiosas de diversas etnias, procurando ser presença que gera vida, mulheres nascidas na Amazônia, seja nas cidades ou aldeias, e muitas missionárias brasileiras, italianas e de outras nacionalidades que armaram sua tenda nesse chão. Dedicadas à missão de educar a juventude, marca do nosso carisma, procuramos, em todos os ambientes, evangelizar oportuna e inoportunamente (2Tim,4), principalmente onde a vida está ameaçada, através da diversidade de formas de presenças que favorecem o encontro.

Desejo concluir dando voz às Irmãs Salesianas: duas missionárias, uma amazonense não indígena e uma indígena. Cada uma delas expressa seu sentimento neste tempo de agradecer.

Gratidão
“Sinto-me feliz em ser FMA, fazendo parte desta linda história de 100 anos de presença! O sentimento que em mim transborda é o de Gratidão pela minha vocação salesiana, por tantas Irmãs que contribuíram na educação da região amazônica e, de modo especial, um louvor a Deus por tantas missionárias ad gentes que foram testemunho e sinal do amor de Deus a nós, filhas da região, contribuindo para que também nós pudéssemos estar a serviço da vida e missão neste chão, com o nosso rosto e jeito de ser amazônidas!” (Ir. Lidiany Pereira Viana, FMA, natural de Manicoré, AM).

Alegria
“Sou muito feliz em ter sido agraciada com a vocação missionária pela qual a Divina Providência me enviou para a Amazônia. E neste centenário vivo essa vocação, 40 anos, com gratidão e alegria. Tudo que sou e faço me ensinou e moldou-me neste chão. Minha primeira experiência com o carisma de Dom Bosco quando, em 1983, cheguei na região amazônica foi no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Manaus. Nos recreios, colaborando na assistência, vi que os pátios estavam cheios de alunas, crianças, irmãs, professores. Num desses momentos, presenciando tudo isso, senti Dom Bosco caminhando em nosso meio. Isso me animou para cooperar com alegria na missão.

Mas, na experiência na mãe terra dos povos indígenas, com os quais depois de três meses tive o primeiro contato e lá passei meu primeiro Natal, pude perceber o carisma missionário das origens encarnado e inculturado. Para mim era uma grande descoberta ter encontrado os Salesianos ministrando um curso de uma semana para 50 Catequistas, procedentes das comunidades existentes ao longo dos rios e igarapés. Aqui já percebi as pegadas de Jesus muito presentes, naqueles que remavam mais de uma semana para chegarem à missão, ou percorriam os caminhos dentro da floresta, para chegarem ao Centro Comunitário e, junto com os demais, celebrarem a Palavra de Deus e irem aprofundando a vida cristã com os ensinamentos dos seus catequistas. Isso 40 anos atrás.

Hoje a grande novidade e desafio da Igreja é descobrir os novos caminhos de evangelização, apostando em uma Igreja sinodal com rosto amazônico. Também neste ponto a Igreja está avançando e me sinto membro dela em crescimento, aprendendo com os povos originários, valorizando sua cultura e suas lições de vida que nos deixam por herança” (Ir. Ágata Kociper, FMA, missionária eslovena).

Interação
“Cem anos! Sou parte! Encontro flores, frutos, sementes. Sou terra para a fecundação! Também sou semeadora e, com fé e esperança, lanço grãos. Somos interação ontem, hoje e amanhã, no dinamismo haurido desde a raiz. Sou gratidão, alegria, reconhecimento. Sou corresponsável em sua continuação: ser expressão da caridade pastoral de Jesus, Bom Pastor, aqui, ali, acolá, sempre” (Ir. Madalena Scaramussa, FMA, missionária brasileira).

Inspiração
“Como me sinto em ser Filha de Maria Auxiliadora no centenário da Inspetoria? Transbordantemente grata! (criando uma palavra nova). Grata imensamente! Sou fruto da inspiração divina que teve por objetivo gerar vida, através de vidas doadas. Sou fruto que tem a missão de continuar a semear vida ‘no coração da contemporaneidade’, com o meu ser FMA autóctone, onde estiver” (Ir. Denise Menezes Alencar, FMA, etnia tukano, natural de Taracuá, AM).

Celebração pelo centenário

As Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) celebraram, com as comunidades educativas da Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia, o 100º aniversário de presença das FMA na Amazônia. A celebração ocorreu no dia 19 de fevereiro, no ginásio da Escola São Gabriel, em São Gabriel da Cachoeira, AM. Dom Edson Damian, bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira, presidiu a celebração eucarística, concelebrada por 12 sacerdotes, entre os quais alguns indígenas e ex-alunos das FMA.

Participaram da celebração a irmã Paola Battagliola, conselheira visitadora do Instituto das FMA, em nome da Madre-geral, irmã Chiara Cazzuola; a inspetora, irmã Carmelita Conceição, vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), além de diversas FMA e membros da Família Salesiana.

Na homilia, dom Edson Damian destacou a importância da presença da Família Salesiana no Rio Negro, desde 1915, com o ramo masculino, e desde 1923, com as irmãs, que, em pouco tempo, inseriram-se nas principais comunidades indígenas.

Dom Edson contou que, ao chegarem, os chefes indígenas perceberam que eram diversos dos outros brancos, chegados à região com propósitos menos nobres: salesianos e salesianas vieram para compartilhar a vida com eles e para transmitir seus conhecimentos, o que os tornava bem-vindos. Sublinhou também que muitas FMA que trabalham na Amazônia brasileira são originárias da região e há irmãs indígenas: “É uma Congregação que conquistou um rosto amazônico e sempre mais indígena”.

Em nome
da Diocese, dom Edson Damian agradeceu pelos 100 anos de trabalho heroico das Irmãs Salesianas, pedindo que “continuem a estar aqui entre nós por muitos, muitos anos, para continuarem a fazer um bem imenso, uma evangelização através da educação e da sua presença nas famílias, na comunidade”.

Fonte: Portal das FMA

© 2023 Copyright - Boletim Salesiano Brasil