Experiências

A experiência missionária no GIAM

Maria Clara Ricarte
“Uma ideia que define o que vivi nesse projeto é a da hospitalidade e o espírito de família, num estilo bastante salesiano, ou seja, marcado pela alegria e proximidade, tanto com as pessoas que nos acolheram, como entre nós, missionários”.

Meu nome é Maria Clara Ricarte, sou coordenadora do Grupo de Animação Missionária (GAM) e pertenço à Paróquia São Cristóvão, em Curitiba, PR. Entre os dias 6 e 20 de janeiro, estive em um projeto missionário (como já é de costume), mas, dessa vez, em outra inspetoria, no chamado GIAM. Por ser uma experiência tão nova e especial, vou contar a vocês um pouquinho sobre como se deu esse evento.

O projeto
Antes de mais nada, vou explicar o que significa a sigla do projeto: GIAM é Grupo Interinspetorial de Animação Missionária. Reparem no prefixo “inter”. Exatamente, nós, jovens participantes, estávamos representando quase todas as inspetorias do Brasil salesiano. Tinha gente do Amazonas, Pernambuco, Paraíba, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso do Sul e por fim, eu, do Paraná e a minha amiga Dienifer Caroline, de Santa Rosa, RS.

Toda essa galera se reuniu em Brasília, onde conhecemos o belíssimo Santuário São João Bosco, local onde se encontra a urna de Dom Bosco. Ficamos dois dias fazendo amizades, dinâmicas, momentos de oração, participando das missas e conhecendo pontos turísticos. Nosso destino final, no entanto, era a cidade de Silvânia, para onde partimos. Apesar do grupo diverso, não éramos em muitos, o que faz parte do perfil do projeto, que além disso, prevê a vivência de alguma festa popular e religiosa regional, e foi justamente por isso que nossa grande meta em Silvânia era participar da Folia de Reis.

A Folia de Reis
Muito tradicional entre as regiões Centro-Oeste e Sudeste, a Folia ali em Goiás tem traços bastante particulares. É uma festa eminentemente sertaneja, com muitos cantos, e praticamente todos os foliões são idosos. A motivação da festa é lembrar o caminho percorrido pelos Santos Reis para visitar o Menino Deus. O grupo de foliões passa de casa em casa com a Bandeira da Folia, que é sempre recebida com muito respeito e devoção, e então agradecem a hospitalidade com um canto criado conforme a ocasião.

Por ser uma cidade de grande extensão, nossa rotina era bastante exaustiva. Pela manhã nos dirigíamos à comunidade onde seria o “pouso da folia” e, após um generoso café, partíamos em missão, alguns com o grupo dos foliões, outros apenas com bandeiras, em nome da Folia. Sempre alguém da região era nossa “estrela guia”, e então outras três comunidades próximas eram percorridas. À noite havia o rito da chegada da bandeira, a santa missa e, por fim, uma farta janta seguida de danças típicas e quermesse. No dia seguinte, recomeçávamos em outra comunidade distante…

Desse modo, retorno à minha rotina, mas não mais igual.

Foi uma semana de grandes aventuras: experimentamos comidas típicas (pequi, doces caseiros, biscoitos de queijo, carne de javali), alguns tiveram que pescar o jantar, vários tiraram um ou outro carro atolado, tiveram que tomar chuva, mas também andaram a cavalo e aprenderam a manusear espingardas de chumbo. Realmente, estivemos imersos na realidade local! Além disso, o encerramento da Folia foi muito emocionante, principalmente pelas homenagens feitas aos foliões que faleceram durante a pandemia.

Na segunda semana as visitas foram na região urbana, mas igualmente especiais, uma vez que todos nos recepcionaram, apesar da simplicidade, com grande alegria. Organizamos oratórios, participamos das celebrações nas capelas e igrejas históricas, além de visitarmos um lar de idosos. Acredito que foi muito oportuno conhecer essa realidade paroquial, pois uma vez que o território é muito extenso e há poucos padres para atendê-los, as missas são mensais em várias capelas e, portanto, o protagonismo leigo torna-se imprescindível. Todos se ajudam e procuram animar uns aos outros na fé, no cotidiano, seja por meio das devoções populares, como também por estudos bíblicos e a reza do terço cantado.

O que eu trouxe na bagagem
Para mim, uma ideia que define o que vivi nesse projeto é a da hospitalidade e o espírito de família, num estilo bastante salesiano, ou seja, marcado pela alegria e proximidade, tanto com as pessoas que nos acolheram, como entre nós, missionários. Esse sentimento permitiu que eu voltasse mais realizada para Curitiba, e certamente muito grata pela minha família, meus amigos, o grupo que participo e pela comunidade a qual pertenço.

Nosso grupo, apesar de diverso, tornou-se uma família, e como não poderia ser diferente, tivemos que exercitar o amor e a paciência, que é outra coisa que carrego comigo daqui em diante. Nós, jovens, devemos ter a coragem de fazer as coisas acontecerem, mas igualmente é importante discernir os momentos em que essa coragem deve ser a de entregar nossos projetos a Deus e confiar em sua misericórdia. Desse modo, retorno à minha rotina, mas não mais igual. Assim como os Santos Reis, volto por outro caminho, um caminho melhor, após me encontrar e carregar comigo Emanuel, o Deus Conosco.

Texto originalmente publicado no site da Inspetoria São Pio X: dombosco.net

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