Um ano novo se inicia e nos deixa repletos de esperança para novos planos e projetos. A educação, a comunidade e o debate social ganham forças nas constituições de sujeitos que possam assumir um papel político de cidadãos na vida dos territórios mais vulneráveis do planeta. Que tal iniciarmos esse novo ano pensando em novos projetos de sociedade?
Torna-se urgente humanizar a educação, colocar as pessoas no centro e criar condições para um desenvolvimento integral. Ao dar às crianças e aos jovens a autonomia adequada e os papéis necessários a cada um, torna-se possível uma sociedade em que todos prosperem internamente, de maneira vibrante, unida e fraterna.
Ao propor o Pacto Educativo Global, em 2019, o Papa Francisco apontou três desafios a serem enfrentados:
Ter a coragem de colocar a pessoa no centro;
Ter a coragem de investir seus melhores esforços com criatividade e responsabilidade; e
Ter a coragem de formar pessoas que estão prontas para servir a comunidade.
Significado de ter coragem
A palavra coragem está no cerne dos desafios, pois é a chave para uma nova realidade. Nunca foi tão necessário, como hoje, unir-se em uma ampla “aliança educativa para formar pessoas capazes de superar a fragmentação e os contrastes e reconstruir a estrutura relacional para uma humanidade mais fraterna”, como afirma o Papa.
O significado bíblico da palavra coragem tem sua origem no grego “tharsos” e significa “ser de bom ânimo” (At 28,15), ou seja, consiste na força de todo cristão e que provém de Deus. Ter coragem requer confiança, fé, ousadia, e nos impele a dar uma resposta aos desafios cotidianos da vida. Como bons filhos de Dom Bosco e Madre Mazzarello, devemos acreditar e investir todo nosso tempo e energia no potencial dos jovens para que sejam ajudados a caminhar com coragem.
O Papa Francisco afirmou que qualquer mudança requer um caminho educativo para reconstruir o tecido das relações, para amadurecer uma nova solidariedade universal e para dar vida às pessoas e a uma sociedade mais acolhedora. Como ponto de partida, precisamos colocar a pessoa no centro dos processos e das decisões.
Para isso, é preciso criar um novo humanismo que vá além da metamorfose cultural e antropológica da sociedade em que vivemos. Isso possibilitará dar consistência à identidade de cada pessoa, cuidando de todas as suas dimensões, fortalecendo sua estrutura psicológica, evitando a fragmentação e seu desmembramento diante das rápidas mudanças, tantas vezes efêmeras, deste mundo que parece se dissolver no ar.
Fraternidade, escuta, diálogo, cuidado
Quando compartilhamos um projeto comum de sociedade, a civilização do amor, as complexidades da realidade são lidas sob o mesmo prisma de um Pacto Educativo, que nos faz redescobrir a beleza do humanismo inspirado pelo Evangelho.
Temos, assim, o lugar da espiritualidade do compromisso, que se afirma na reapropriação de valores como a fraternidade, a escuta, o diálogo e o cuidado. Esse entendimento evidencia e faz ecoar as experiências com o compromisso de multiplicar os conhecimentos adquiridos na comunidade, com foco nos espaços sociais, religiosos e politicamente engajados.
Nossas práticas pedagógicas pastorais nos permitem viver a experiência do transcendente em espaços onde a diversidade religiosa e a crença em Deus não são respeitadas e/ou estão camufladas por outros modelos de projetos de vida cada vez mais pautados no hedonismo. A educação e a experiência comunitária e social estão imbuídas de perspectivas para novos projetos de sociedade que gerem transformações sociais positivas, tanto para a humanidade, quanto para o planeta. Salesianamente, ousamos afirmar que são projetos que visam a formar bons cristãos e honestos cidadãos.
É um vasto movimento de cristãos cidadãos e cidadãos cristãos que, ao vivenciarem processos educativos formais ou informais, em diferentes estágios da vida, colocam-se como multiplicadores de um novo modelo de sociedade que cuide das pessoas e do planeta. Tudo canta de alegria (Sl64) pois é obra da bondade criadora de Deus.
Na trilha de Dom Bosco e Madre Mazzarello, caminhamos com alegria e esperança, pois o novo está nascendo e estamos construindo junto a crianças, adolescentes, jovens e todas as pessoas de boa vontade, uma nova civilização do amor.
Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA, é mestranda em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo, graduada em Geografia pela Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro e animadora Laudato Si credenciada pelo Movimento Católico Global pelo Clima e Green Líder da Don Bosco Green Alliance no Brasil. Atualmente é coordenadora de Pastoral da Obra Social Recanto da Cruz Grande em Itapevi, SP.