A tão conhecida música de José Acácio Santana, citada pela Irmã Othília Pires dos Santos nesta entrevista, resume a trajetória desta Filha de Maria Auxiliadora que, aos 90 anos, ainda se dedica à catequese e ao acompanhamento da Família Salesiana em Campo Grande, MS.
Irmã Othília, por favor conte um pouco da sua história!
Irmã Othília Pires dos Santos – Nasci em 5 de julho de 1933, no Seringal “Oriente”, Comarca de Sena Madureira, no Acre. Sou a oitava de dez irmãos. Cresci num ambiente familiar simples, mas de sólidos princípios cristãos, disciplina, solidariedade e respeito mútuo. Tive uma infância tranquila e muito feliz, num clima de simplicidade e união familiar. Embora tenha ficado órfã de pai muito cedo, tenho boas recordações dele. Comparo minha mãe com a “mulher forte do Evangelho”: tendo ficado viúva com apenas 38 anos, assumiu toda responsabilidade do sustento e educação dos filhos. Após alguns anos do falecimento do papai, pensando num futuro melhor para os filhos, ela resolveu vender a pequena propriedade no seringal, no Acre, e ir morar em Manaus.
Quando conheceu a Família Salesiana? E por que decidiu se tornar Filha de Maria Auxiliadora?
Ir. Othília – Meu primeiro contato com as FMA foi no oratório dominical do Colégio Auxiliadora, depois no “Patronato Santa Terezinha”, onde o estudo era gratuito, mantido pelo bispo dom Pedro Massa, porém sob a orientação das FMA.
Deus tem seus planos e nem sempre os entendemos. Em 1946, fui para São Paulo com uma tia, que tinha amizade com as Irmãs Salesianas do Pensionato Sta. Teresa. Foi nesse período de maior convivência com as Irmãs e de orientação de um confessor que, aos poucos, foi despertando a ideia de conhecer a vida religiosa. No último ano de internato, uma das palestras do retiro foi sobre a Parábola do Semeador (Mt. 13). Já conhecia essa passagem, porém aquele foi o ponto forte para minha decisão.
Durante as férias, como sempre, fui para a casa de minha tia e todas as manhãs participava da missa na capela do Pensionato. Foi lá que conheci as irmãs Dulce Carvalho, Zilá e Blanche Santos Pereira, de Mato Grosso. Quando terminei o Admissão, com permissão da minha tia e a convite da Ir. Blanche, juntei-me às meninas que participavam de um grupo de discernimento vocacional e, no final do ano, eu e Dirce Azevedo viemos para Campo Grande, na companhia das três FMA. Iniciei o Aspirantado em 1952 e todo o período de formação foi em Campo Grande, MS.
Quais atividades a senhora desenvolveu como Filha de Maria Auxiliadora?
Ir. Othília – Fiz a profissão no dia 6 de janeiro de 1956 e, no dia seguinte, às 4h da manhã, já seguia viagem de avião da FAB para fazer parte da comunidade da Casa Maria Auxiliadora, em Araguaiana, cidade do interior de Mato Grosso, limite com o Estado de Goiás. Fui com a responsabilidade de assistente das meninas internas, professora primária, catequista e de trabalhos manuais. Permaneci oito anos nessa comunidade, depois fui enviada para a colônia indígena de Meruri, com as mesmas responsabilidades anteriores junto às meninas bororo que passavam o dia no Colégio para estudar e aprender as lides domésticas. Após concluir a especialização do Curso “Montessori Lubienska”, em 1971, até 2006, assumi a Coordenação da Pré Escola nos colégios Imaculada Conceição de Corumbá; Coração de Jesus de Cuiabá; Nossa Senhora Auxiliadora de Campo Grande e Nossa Senhora Auxiliadora de Lins, sem deixar, porém, de atender a catequese nas comunidades. Em 2014 fui solicitada a assumir como delegada nacional da Família Salesiana, atuando até o ano de 2021. Atualmente estou como delegada Provincial dos Salesianos Cooperadores e delegada de Ex-alunas em Campo Grande.
E como a senhora vê a sua trajetória como FMA?
Ir. Othília – Durante todos esses anos tenho procurado vivenciar com muita alegria minha vida de consagrada, partilhando com minhas irmãs na comunidade e com os destinatários. Sinto-me agraciada com as bênçãos e a proteção materna de Maria Auxiliadora. Sinto-me agraciada com a família que tenho, com as pessoas amigas com as quais convivo e posso compartilhar minha alegria de ser Filha de Maria Auxiliadora. Como diz a música: “As sementes que me deste / E que não eram pra guardar / Pus no chão da minha vida / Quis fazer frutificar”.
Em que a vocação religiosa consagrada difere de outras vocações?
Ir. Othília – Independente do tipo de vocação a ser vivida, ela se realiza quando a pessoa diz “sim” a Deus. A vocação à vida consagrada é dom gratuito recebido de Deus, é serviço, é experiência pessoal e profunda de Deus na própria vida. É viver a resposta diária, corajosa e alegre de amor à pessoa de Jesus Cristo e aos jovens menos favorecidos. Desde seus primeiros votos, a religiosa se oferece a Deus para caminhar no seguimento de Jesus Cristo e trabalhar junto com Ele na construção do Reino. Cada Congregação tem o próprio carisma. A FMA é marcada por um sinal muito especial: a dedicação aos jovens mais pobres.
Como a senhora vive essa vocação no serviço às juventudes?
Ir. Othília – Vivenciando a alegria que vem da doação e da disponibilidade do serviço, sentindo minha existência útil na vida, não só dos jovens menos favorecidos e catequizandos, mas também na vida das ex-alunas e dos ex-alunos, dos Salesianos Cooperadores, com os quais convivo e compartilho minhas atividades.
O que traz maior alegria ou realização em ser Filha de Maria Auxiliadora?
Ir. Othília – A certeza e a decisão de fazer parte da Família Salesiana querida por Dom Bosco e Madre Mazzarello, a convivência com minhas irmãs na Comunidade, partilhando momentos de espiritualidade, os desafios, as conquistas diárias. Durante todos esses anos tenho procurado viver com responsabilidade e alegria minha vida religiosa, renovando todos os dias os votos da minha consagração.
Como até hoje a senhora se sente motivada para se dedicar à catequese?
Ir. Othília – Comecei a dar catequese aos 16 anos e digo que é minha segunda vocação. Sou motivada pela alegria e responsabilidade de fazer conhecida a pessoa de Jesus Cristo, e pela dedicação e amizade com os catequistas com os quais convivo desde o ano de 2001.