No dia 29 de agosto, foram realizadas as oficinas temáticas, com especialistas convidados. Cada participante do Encontro Nacional da RSB pode escolher duas entre quatro oficinas sobre temas prementes para as juventudes no Brasil.
Identidade de gênero
“Identidade de gênero, diversidade e inclusão: uma pauta atual” foi o tema da oficina ministrada pela Profa. Dra. Clarice Souza Pinto, da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB. Enfermeira com especialização e vasta atuação na área de saúde pública, Clarice realizou uma oficina dinâmica, participativa e bem-humorada para abordar conteúdos muito concretos e práticos sobre o tema. Ela refletiu junto com os educadores presentes sobre as muitas palavras que atualmente são usadas para melhor entender as pessoas em relação à sua sexualidade, partindo dos conhecimentos prévios do grupo para esclarecer termos como “transexual”, “transgênero”, “homossexual”, “cis” e “queer”.
A formadora também tratou sobre as várias influências que definem a sexualidade humana: “A sexualidade é formada por uma múltipla combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, e é composta basicamente por três elementos: o sexo biológico; a orientação sexual – que é para quem a pessoa orienta o seu afeto – e a identidade de gênero, que é social e tem a ver com a percepção íntima que a pessoa tem de si mesma”, afirmou. “Todos temos um cérebro e um coração, além do órgão sexual. O desafio que temos, como educadores, é oferecer o nosso melhor sem cair na ‘ratoeira’ do preconceito”, finalizou Clarice.
Presença nas redes sociais
O Prof. Dr. Moisés Sbardelotto, que integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião e o Departamento de Comunicação da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), foi o assessor da oficina sobre “Habitar as redes sociais: rumo a uma presença plena”.
Moisés Sbardelotto apresentou o tema considerado complexo, com a pergunta: “Como é possível ter uma presença plena nas redes?” para indicar um caminho à resposta. A referência adotada foi o documento do Dicastério de Comunicação do Vaticano “Rumo à presença plena”, que orienta que “a questão já não é SE, mas COMO devemos participar do mundo digital”.
Essa necessidade de presença nas redes se justifica pelos dados que indicam que, no Brasil, 84,3% da população têm acesso às redes e passam, em média, 9h32 por dia conectados à internet.
Diante de diversos problemas apresentados, o caminho a ser seguido é apontado pelos ensinamentos de dois Papas. O Papa Bento XVI descreveu o “estilo cristão de presença no mundo digital”, que exige honestidade, abertura ao diálogo, responsabilidade e respeito. Já o Papa Francisco aponta o “estilo de Deus” nas redes sociais, que deve ser copiado por todos os cristãos. Significa demonstrar proximidade, compaixão e ternura como sinais de uma presença diferenciada de alguém que professa a fé cristã nos meios virtuais. No entanto, adverte o Papa Francisco, todos esses processos são artesanais, ou seja, realizados um a um, manual e vagarosamente, e com todo o cuidado necessário.
Participação social e política
O tema “O honesto cidadão: participação social e política pelo bem comum” foi trabalhado por Igor Bastos, coordenador do Movimento Laudato Si' (antigo Movimento Católico Global pelo Clima) para países de língua portuguesa e espanhola. Bastos atuou por seis anos como Secretário Nacional de Direitos Humanos, Justiça, Paz e Integridade da Criação (DHJPIC) da Juventude Franciscana do Brasil e na Executiva Nacional do SINFRAJUPE (Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia).
A partir de sua experiência na juventude católica e franciscana, Igor dividiu a oficina em quatro momentos. O primeiro foi a reflexão sobre qual o conceito e o recorte de “bem comum” que seria trabalhado, baseado na Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco. Em seguida, Igor Bastos fez uma breve retrospectiva dos principais acontecimentos políticos durante o pontificado do Papa Francisco, de 2013 a 2023, com destaque para a pandemia da Covid-19 e seus impactos na saúde pública, na economia e trabalho, na educação, na desigualdade e na política.
“Dentro desse recorte, como responder aos desafios de um mundo em rápida transformação? Como dar respostas efetivas a esses elementos geradores de crise ecológica, econômica e política?”, questionou o palestrante, para introduzir o terceiro momento da oficina, centrado em apresentar alguns estudos de caso relacionados ao tema do engajamento social e político pelo bem comum. Um dos exemplos dados foi a atuação do Movimento Laudato Si’ durante a Jornada Mundial da Juventude – JMJ Lisboa 2023.
Por fim, os educadores presentes na oficina foram desafiados a pensar em propostas concretas de “participação social e política pelo bem comum”, para serem apresentadas para a Rede Salesiana Brasil por meio das sugestões feitas on-line para o Manifesto às Juventudes. É importante ressaltar que o Manifesto foi elaborado como construção conjunta dos participantes do Encontro Nacional da RSB.
Cuidado com a Casa Comum
Já a temática da ecologia integral foi abordada na oficina “Tudo está interligado: o cuidado com a Casa Comum”, assessorada pela Ir. Laura Vicuña Pereira, catequista franciscana de origem indígena Kariri. Ir. Laura trabalha junto ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI), tem nomeação pontifícia como representante dos povos indígenas junto ao Conselho Pós-sinodal do Sínodo Amazônico e junto à Conferência Eclesial da Amazônia, que continua o caminho sinodal.
A proposta da oficina foi demonstrar a conexão existente entre a harmonia da natureza e uma proposta educativa que seja abrangente e harmonizadora, promovendo o equilíbrio entre todos os elementos do processo educativo, a exemplo do que acontece em uma floresta. “A floresta vive de interdependências e isso acontece em todas as áreas da vida”, lembrou a Ir. Laura Vicuña.
Um outro exemplo apresentado foi a Rede Salesiana, na qual as relações de conteúdo produzido em cada presença dos SDB e das FMA no Brasil se interligam através da identidade carismática de Dom Bosco e Madre Mazzarello.
Como proposta prática para fortalecer as conexões foi apresentada uma citação do Papa Francisco, que propôs o “resgate do belo” nos lugares, trabalhos e pessoas. “É preciso ler a assinatura de Deus em toda a criação”, declarou o Papa. A Ir. Laura Vicuña ainda lembrou um antigo ditado, em vídeo apresentado, em que comparara a relação dos homens com a natureza à prática do perdão. “Deus perdoa sempre; o homem, às vezes; mas a natureza, nunca”. Por isso, destacou a necessidade de um cuidado atencioso com a Casa Comum.
A conclusão dos trabalhos foi com o apelo, também do Papa Francisco, para que sejamos “Guardiões da Criação”, deixando um caminho para a solução, mesmo diante de inúmeros desafios apresentados de agressão ao meio ambiente, com as palavras de Dom Pedro Casaldáliga: “Quanto mais difícil o tempo, mais forte tem que ser a esperança”.