Salesianidade

A alegria salesiana como fruto da esperança

A alegria salesiana é entusiasmo diante da vida, preenchendo-a de significado e conferindo-lhe um colorido que a torna mais leve, dinâmica e responsável.
José Cleudo Matos Cardoso

A Páscoa é motivo de alegria e de esperança, pois Cristo ressuscitou! A ressurreição de Jesus nos alegra enquanto peregrinos na Igreja e nos enche de esperança. Nesse sentido, a Estreia 2025 traz várias abordagens dentro da temática central, dentre elas: o encontro com Cristo e a esperança como caminho até Ele, bem como a esperança como fundamento da nossa missão. Além disso, a Estreia fala da esperança jubilar e missionária, colocando a esperança como força na vida cotidiana e como a arte da paciência e da espera. Por fim, discorre sobre a nossa esperança em Dom Bosco e em Maria, como sinal de presença materna.

A Estreia de 2025, no item 5, nos apresenta os frutos da esperança em Dom Bosco, os quais são a alegria, a paciência e a sensibilidade educativa. Dessa forma, imbuídos pelo Mistério Pascal, trataremos sobre a alegria salesiana e como ela se relaciona com a esperança.

Entusiasmo diante da vida
Conforme os comentários do Vigário do Reitor-Mor, padre Stefano Martoglio, SDB, na Estreia deste ano, a alegria “não se trata da hilaridade superficial, típica do mundo, mas de um gáudio interior [...], uma alegria que, em última análise, procede das profundezas da fé e da esperança”. Nesse sentido, o padre Stefano já acentua a diferença entre a alegria mundana e a alegria evangélica, de cuja fonte decorre a alegria salesiana. Desse modo, a alegria salesiana é entusiasmo diante da vida, preenchendo-a de significado e conferindo-lhe um colorido que a torna mais leve, dinâmica e responsável, permitindo ao indivíduo alcançar um sentido para sua vida.

O nono sucessor de Dom Bosco, padre Pascual Chaves Villanueva, comentou sobre a alegria salesiana na Estreia de 2014: “A alegria é a expressão mais nobre da felicidade e, com a festa e a esperança, é característica da espiritualidade salesiana”. O Reitor-Mor emérito ainda acrescentava: “Dom Bosco é o santo da alegria de viver”. Desse modo, compreendemos que somos herdeiros da alegria de Dom Bosco. Mas em que realmente consiste essa alegria salesiana e de que forma está associada à esperança?

Alegria e esperança
Retornando à Estreia 2025, o padre Stefano comenta: “A alegria no espírito salesiano é um clima cotidiano; vem da fé que espera e da esperança que crê”. Assim sendo, reconhecemos que a alegria salesiana brota da fé e da esperança, que nos ajudam a construir relações saudáveis, sinal do amor de Deus, confirmando as virtudes teologais em nossas ações habituais. Essa alegria que nos aponta a esperança mostra que o céu começa aqui, no cotidiano como um lugar onde acontece o encontro com Deus, percebendo o “extraordinário no ordinário”. Do mesmo modo que Dom Bosco, tenhamos a alegria viva dentro de nós, que nos leva a santificar o nosso cotidiano, vivendo o otimismo sem nos tirar da realidade e sem nos deixar levar por sentimentos efêmeros.

Nino Muzio

Para Dom Bosco, a alegria nos mostra um caminho de realização pessoal, bem como de fortalecimento de relações sociais e fraternas alinhadas com as expressões de fé.

A Carta de Identidade Carismática da Família Salesiana de Dom Bosco, em seu artigo 33, nos fala do otimismo e alegria na esperança. Nesse contexto, o documento nos diz: “A alegria é essa energia interior que resiste também às dificuldades da vida”. Atualmente, percebemos que muitos dos nossos jovens não se sentem fortes e resilientes diante das adversidades da vida; muitos não apresentam um projeto de vida, acabam reproduzindo posicionamentos incapacitantes e posturas de isolamento social, tornando-se cada vez mais fragilizados. Como nós, Família Salesiana, testemunharemos a alegria para esses jovens? De que forma Dom Bosco pode nos inspirar a devolver ou a cultivar a alegria em tantos jovens que estão tristes e desolados?

Papa Francisco
O Papa Francisco afirmou que o “salesiano é também um otimista por natureza, sabe olhar para os jovens com realismo positivo”. O Santo Padre acrescenta: “O salesiano é portador da alegria, da alegria que nasce da notícia que Jesus Cristo ressuscitou e é inclusiva em todas as condições humanas”. Portanto, a espiritualidade salesiana parte da alegria e do otimismo, da festa que se faz no pátio, no oratório, nas escolas, nas obras sociais e tantas outras presenças salesianas, sem esquecer que Deus é a fonte da verdadeira alegria. Dessa forma, testemunhar a alegria diante dos desafios da vida dos jovens requer da Família Salesiana um cultivo de alegria interior que brota da ligação entre fé e vida, expressando-se por meio de práticas afetuosas de cuidado, correlacionando essa felicidade com a oração e a graça de Deus.

Ainda nesse contexto, o Papa Francisco nos diz que “Dom Bosco era portador da alegria do Evangelho”, que foi um santo que foi ao encontro das periferias sociais e existenciais. O Papa ainda acrescenta que Dom Bosco estava sempre alegre, pois para ele “a santidade consistia em ser muito feliz”; por fim, o Papa ainda inclui: “a mensagem de Dom Bosco era uma mensagem revolucionária”. Logo, num mundo em que muitos jovens estão com baixa autoestima, isolamento social, vício em tecnologia, relações sociais fragilizadas, depressão, dentre outros aspectos emocionais, a alegria não seria uma proposta revolucionária, consequentemente, de reafirmação da vida para a juventude?

A alegria em Dom Bosco
Para Dom Bosco, a alegria nos mostra um caminho de realização pessoal, bem como de fortalecimento de relações sociais e fraternas alinhadas com as expressões de fé. É o enlace entre o eu-tu-nós-Deus. O escritor padre Afonso de Castro, SDB, da Missão Salesiana de Mato Grosso, no seu livro A alegria na espiritualidade de São João Bosco, registra: “Quando Dom Bosco fala de legítimas alegrias, expressa justamente toda a sua entrega a Deus e ao trabalho para a salvação dos jovens [...], essa mensagem de alegria na fé em Deus, como expressão da alegria de viver e de assumir a vida como expressão do amor de Deus”.

Diante disso, a alegria se torna fruto da esperança quando não é alienante; quando a pessoa, mesmo diante das adversidades, cria mecanismos de enfrentamento e de resiliência, sem perder a ternura. “Que o Deus da Esperança nos encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que nos transbordemos de esperança, pelo poder do Espírito Santo (Romanos 15, 13 – com adaptações).

José Cleudo Matos Cardoso é psicólogo, especialista em Salesianidade pela UCDB/MS e Formando da Missão Salesiana de Mato Grosso.

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