A Inspetoria Missionária Salesiana de Campo Grande (MSMT), salesianos, membros da Família Salesiana e vários representantes de órgãos da Igreja e da sociedade que trabalham em defesa dos indígenas celebraram, no dia 15 de julho, a memória dos 40 anos do martírio do padre salesiano Rodolfo Lunkenbein e do índio da etnia Bororo, Simão Cristino Koge Kudugodu (Simão Bororo) na reserva indígena Meruri – a cerca de 450 km de Cuiabá, MT.
A celebração foi presidida pelo bispo de Barra do Garças, MT, dom Protógenes Luft. O inspetor da MSMT, padre Gildásio Mendes dos Santos, fez a homilia da missa. Ele destacou a importância da memória do martírio para toda a Igreja, neste ano em que o Papa Francisco nos convida a celebrar e a abraçar a misericórdia, e também o apelo do reitor-mor dos salesianos na Estreia para 2016: “Com Jesus percorramos juntos a aventura do Espírito”. “O testemunho de fé em Jesus Cristo do padre Rodolfo e a aliança de sangue entre o sacerdote e o indígena, convidam-nos para renovar profundamente nosso amor a Jesus Cristo e sermos discípulos-missionários para os outros, como viveu e testemunhou nosso pai Dom Bosco”, ressaltou.
Entre os participantes da homenagem estavam pessoas da comunidade indígena que conheceram pessoalmente o padre Rodolfo Lukenbein e familiares de Simão Bororo. Os ritos iniciais tiveram início no cemitério onde o missionário e o indígena foram sepultados. Logo após o ato penitencial, os participantes seguiram em procissão até a Praça dos Mártires. Durante o percurso, os Bororo seguiram com rituais religiosos típicos de sua cultura. Ao chegarem à praça, houve a continuidade da liturgia. Após a missa, a comunidade Bororo apresentou danças típicas e interpretou o “Hino da caminhada dos mártires”, de dom Pedro Casaldáglia, e o “Hino Rodolfo e Simão, vidas pela vida”, escrito pelo padre salesiano Osmar Bezutte.
Nos dias 16 e 17 de julho foi realizada a tradicional Romaria dos Mártires da Caminhada, em Ribeirão da Cascalheira, MT, na qual padre Rodolfo e Simão também foram lembrados.
Processo de martírio
Ao celebrar os 40 anos, a MSMT seguiu as orientações do postulador geral para as Causas dos Santos da Congregação Salesiana, padre Pierluigi Cameroni, e introduziu o pedido oficial da causa do martírio de padre. Rodolfo e de Simão Bororo.
No dia 3 de junho, o reitor-mor da Congregação Salesiana, padre Ángel Fernández Artime, confirmou o início do processo em carta enviada ao inspetor da MSMT. Para o inspetor, padre Gildásio, o processo de martírio é de grande importância neste momento histórico de mudanças na sociedade e na Igreja e de desafios na promoção da vida, da fé, dos valores humanos e cristãos. “A celebração dos 40 anos e a confirmação do reitor-mor de que a Congregação assume como autora da causa de martírio convida-nos a refletir seriamente sobre a radicalidade da nossa fé, da nossa opção fundamental e fiel a Jesus Cristo e sobre nosso compromisso incondicional com o Reino de Deus a serviço dos outros”.
Revista especial
Outra iniciativa da Inspetoria Salesiana de Campo Grande foi a elaboração e a distribuição de uma revista especial. Em edição única e com mais de 100 páginas, a publicação contém artigos, depoimentos, fotografias, cartas escritas pelo próprio padre Rodolfo e crônicas dos fatos de Meruri que levam o leitor ao entendimento de todo contexto social e histórico da época.
Um dos depoimentos da revista é do bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, sobre a atuação do padre Rodolfo como missionário: “Eu tenho a impressão clara, convicta, de que o padre Rodolfo foi o missionário ad gentes completo e, concretamente, missionário ad gentes do Terceiro Mundo, dos pobres, dos povos indígenas. Ele se doou totalmente; se encarnou e doou todas as suas capacidades espirituais, técnicas, o seu jeito, o seu sorriso, o seu olhar transparente, o coração grande, como o próprio corpo. Uma dedicação sempre esperançada. O padre Rodolfo não conhecia o desânimo, não conhecia rupturas na sua dedicação. Padre Rodolfo no trabalho do dia a dia”.
Quem foi padre Rodolfo Lunkenbein
O missionário salesiano nasceu em 1 de abril de 1939, em Döringstadt, na Alemanha, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Despertou o desejo de ser missionário quando ainda era adolescente, ao ter acesso a publicações salesianas.
Certo de sua vocação, chegou ao Brasil como missionário, fez o noviciado em São Paulo e o pós-noviciado em Campo Grande, sendo designado para a experiência do tirocínio em Meruri, local onde permaneceu até 1965. Voltou à Alemanha para estudar Teologia e outros cursos que facilitassem a continuação de sua missão no Brasil.
Ordenado sacerdote em 29 de junho de 1969, pode voltar a Meruri, onde foi recebido com muito carinho pelos Bororo, que lhe deram o nome de Koge Ekureu (Peixe Dourado). Padre Rodolfo participou da fundação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972. Lutou pelos direitos dos indígenas e especialmente pela demarcação da reserva de Meruri, conquistada no ano de sua morte – em 1976.
A memória de padre Rodolfo se conserva muito viva entre os Bororo e missionários de Meruri e na Missão Salesiana de Mato Grosso, que anualmente celebram o aniversário do seu martírio. Na Igreja Missionária do Brasil, é viva a memória de padre Rodolfo como o primeiro missionário a dar a vida pelos povos indígenas.
Simão Bororo, amigo e companheiro
O companheiro de martírio do padre Rodolfo Lunkenbein nasceu em Meruri, em 27 de outubro de 1937, e foi batizado em 7 de novembro do mesmo ano. Simão era integrante de um grupo de Bororo que acompanhou os missionários, padre Pedro Sbardellotto e irmão Jorge Wörz, na primeira residência missionária entre os Xavante, na missão de Santa Terezinha, entre os anos de 1957 e 1958. Era o mais jovem do grupo, porém o mais consciente de sua qualidade de missionário entre os Xavante.
Entre 1962 e 1964, participou da construção das primeiras casas de alvenaria para as famílias Bororo de Meruri. Tornou-se pedreiro prático e dedicou o resto de sua vida a este ofício, colaborando na aldeia e na missão entre os seus.
Foi mortalmente ferido ao tentar defender a vida de padre Rodolfo Lunkenbein, no dia 15 de julho de 1976. Recebeu os últimos sacramentos no hospital de Meruri, enquanto recebia também os primeiros socorros da enfermeira irmã Margarida Abatti. Faleceu no avião que o conduzia para ser tratado na cidade, na mesma data.
Simão continua vivo na memória da Igreja missionária. O CIMI dedicou seu nome à sede central do Regional do CIMI de Mato Grosso, na Chapada dos Guimarães. A Igreja de Rondonópolis honra-o na Caminhada dos Mártires, feita anualmente pelas ruas da cidade. Em Meruri, todos os anos é solenemente celebrado o aniversário de seu martírio, junto com o do padre Rodolfo Lunkenbein.