Ano da Misericórdia

Salesiano promove videoclipe inter-religioso

“Há momentos em que somos chamados de modo ainda mais urgente a fixar nossos olhos na misericórdia” - Papa Francisco.
Hélène Boissière Mabille – InfoANS

Desde maio, o salesiano Benjamin Dewitte Dubrana trabalha em um projeto que pode ser considerado na contracorrente. Ele uniu 12 jovens cristãos, judeus, muçulmanos e sem religião sob um mesmo tema: a misericórdia. Em um videoclipe dirigido pelo salesiano, os jovens repetem, em diversas línguas, os versos “Misericórdia, coração do Pai, Mãe do coração” e demonstram, desta forma, que é possível construir um mundo mais fraterno, solidário e sem preconceitos.

Ele iniciou esse trabalho antes de ser ordenado sacerdote, no último dia 25 de junho, na França. A revista dos Salesianos de Dom Bosco na França, Don Bosco Aujourd’hui (“Dom Bosco Hoje”), conversou com padre Benjamim sobre o projeto. Uma parte da entrevista foi depois publicada pela Agência Salesiana de Notícias - InfoANS.

Por que juntar jovens de diferentes crenças para esse videoclipe?
Padre Benjamin Dewitte Dubrana - O projeto do videoclipe “Misericórdia” nasceu da constatação de que há uma diferença profunda entre aquilo que se diz e aquilo que vejo. De um lado estão as opiniões reportadas pela mídia, que falam de tensões inter-religiosas que impelem ao extremismo. Do outro, está a minha vida cotidiana, em Argenteuil (distrito da região de Paris), dedicada aos jovens em uma paróquia e em uma escola particular na qual 40% das crianças/adolescentes provêm de famílias muçulmanas. Ali descobri o sentido de alteridade e de unidade na diversidade.

Ao contrário do que faz a mídia, que nem sempre influi no sentido de apaziguamento, eu decidi encorajar e fortalecer tudo quanto já existia, fazendo o videoclipe com crianças/adolescentes pertencentes às três religiões monoteístas e com as ‘sem religião’. Trata-se não só de fortalecer a união delas entre si, mas também de, difundindo esse clipe, torná-las “embaixadoras”...

Retrato do Papa Leão XIII em 1878, por Francesco Paolo Marchiani

Mas o tema da Misericórdia não é exclusivamente cristão?
Pe. Benjamin - Certamente que não! O paradoxo é que também aqueles que matam em nome de Alá parecem ter-se esquecido de que o termo “Misericordioso” está nas primeiras palavras do Alcorão: “Alá, o misericordiosíssimo”. Misericórdia é também uma palavra-chave no judaísmo, do qual provém a sua raiz. Por fim, significa “seio materno”, “matriz”, isto é, amor incondicional, benevolência, o que diz respeito também à luta daqueles que não se reconhecem em nenhuma religião. Na verdade, como bem vemos em sala de aula, no trabalho, com a família, em todos os lugares, é muito difícil sermos aceitos como somos. Nós todos precisamos de amor, pelos outros e por nós mesmos.

Como surgiu a ideia de fazer um videoclipe?
Pe. Benjamin - A minha experiência de musicista me levou naturalmente a buscar um projeto musical, que, por isso, reunisse tanto uma resposta aos atentados, quanto fizesse saborear às crianças e às suas famílias o viver e o cantar juntos, o criar um produto que transmitisse ideias e que fosse a um só tempo um testemunho... E isto é, mais do que nunca, possível, ao contrário do que se ouve proclamar na TV.

Cada verso foi escrito por um jovem de crença diferente. O coro repete as palavras “Misericórdia, coração de Pai, coração de Mãe”. Assim o videoclipe dá uma ideia de como a “Misericórdia” ressoa nas convicções de cada um.

Você pode nos contar um pouco mais da sua vida em Argenteuil?
Pe. Benjamin - Eu venho da província, cresci no campo, e nos últimos três anos, moro em Argenteuil. Eu descobri ali uma realidade diferente do que imaginava. Temos, meus irmãos e eu, relações cordiais com o Imam de uma das maiores mesquitas na Europa, assim como com o rabino da sinagoga. Nós trabalhamos para a juventude da Paróquia de St. Jean-Marie Vianney, composta por adolescentes em situação de pobreza e a maioria dos quais são muçulmanos, e também para a faculdade do Colégio de St. Joseph.

Em Argenteuil, tudo é misturado: as crianças não se incomodam em colocar rótulos, como fazem os adultos. Estão juntas no campo de futebol, no quintal, nos escoteiros, nas aulas... As tensões religiosas ou anti-religiosas não impede que eles possam brincar, estudar, trabalhar e... cantar juntos!

Texto originalmente publicado em Don Bosco Aujourd’hui (“Dom Bosco Hoje”), revista dos Salesianos de Dom Bosco na França, e republicado pela Agência Salesiana de Notícias - InfoANS.

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