O Papa Francisco, na exortação Christus Vivit (286), apresenta um questionamento muito oportuno aos jovens: o que fazer de bom na sociedade? Dom Bosco repetia sempre que era necessário formar os jovens para serem “bons cristãos e honestos cidadãos”. São exatamente esses o princípio e a meta fundamentais.
A sociedade humana
A vida em sociedade, no mútuo crescimento entre as pessoas, é um princípio fundamental para o bem-estar de todos, afirma categoricamente o Concílio Vaticano II (Cf. Gaudium et Spes, n. 25). Isto significa que a vida social não é um acréscimo à nossa existência, mas a maneira de desenvolver todas as nossas habilidades de serviço ao bem comum, segundo os direitos e deveres que dão garantias de: alimento, roupa, habitação, escolha, educação, trabalho, boa fama, respeito, informação etc. (Cf. Gaudium et Spes, n. 26). Nenhuma sociedade tem o direito de privar o ser humano da vida social, a não ser que opte por um regime autoritário, negando a liberdade. Então, a presença na sociedade deve ser construtiva, participativa, fraterna e solidária.
Mesmo sendo diferentes, numa sociedade plural todas as pessoas têm igual dignidade e devem ser superados todo individualismo, preconceito e intolerância (Cf. Gaudium et Spes, n. 29-30). Por conseguinte, o “trabalho humano não apenas transforma as coisas, mas as aperfeiçoa... o ser humano vale por aquilo que ele é, e não por aquilo que tem” (Cf. Gaudium et Spes, n. 35). É bom recordar estes princípios de fé da Igreja, porque brotam da obra da criação, que rejeita o pecado. Assim é possível entender que nesta sociedade humana devemos ser “bons cristãos e honestos cidadãos”.
O bom cristão
Ser uma pessoa boa não significa ser omissa ou indiferente diante da maldade. O bom cristão é aquele que, imbuído do mistério da Páscoa, vive o mandamento do amor ao próximo, como o bom samaritano que desce todos os dias de sua soberba para ir ao encontro dos outros, movido pelos sentimentos de Jesus Cristo, ou seja, o despojamento, a mansidão, a consolação, a fome e sede de justiça, a misericórdia, a promoção da paz, a alegria confiante (Mt 5, 1-12). Trata-se de estar configurado a Cristo – cristão. Portanto, não há possibilidade de uma pessoa dizer que é cristã se alimenta e propaga a violência, a perseguição até aos inimigos, a corrupção passiva e ativa, a ganância pelo poder, a mentira, o roubo, enfim, a morte de quem quer que seja. O bom cristão é como Jesus.
Honesto cidadão
A honestidade não está na moda em nossos dias sombrios. Há uma nuvem que esgarça o tecido social com atitudes pervertidas como se fossem justas e necessárias. Estamos sendo adestrados ao espírito de vingança, de rancor, de espezinhar e ameaçar os outros, como se o que pensa diferente de mim fosse um inimigo a ser destruído. E essa campanha desumanizadora e descrente vem num invólucro de cristandade que rejeita o diálogo, a contradição e a construção pacífica da sociedade. O honesto cidadão é aquele capaz de vencer o mundanismo, ganhando a si mesmo (Cf. Gaudium et Spes, n. 39). Quando o ser humano quer ganhar o mundo perdendo sua dignidade, o bem comum, a fraternidade e o senso de justiça, ele não é honesto cidadão, mas um pervertido social. Então, saber ser honesto na sociedade é possível somente quando desenvolvemos as habilidades necessárias para melhor servir ao bem de todos.
Padre João da Silva Mendonça Filho, SDB, é mestre em Educação pela Pontifica Universidade Salesiana de Roma/Itália com especialização em Metodologia Vocacional, e pós-graduado em Comunicação pelo SEPAC/SP e PUC/SP.