Em sua conversa com Dom Bosco, Francisco Bodrato perguntou-lhe qual era o seu segredo para conquistar tantos jovens a ponto de torná-los obedientes, respeitosos e dóceis. Dom Bosco, para respondê-lo, descreveu suas ações cotidianas, que deram origem ao Sistema Preventivo.
Se Francisco de Assis é “o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral vivida com alegria e autenticidade” (LS10), Dom Bosco é exemplo de educador que entregou sua vida, para o cuidado dos corações frágeis da juventude de seu tempo, potencializando o bem por meio da educação integral que valoriza a pessoa em sua totalidade e não a enxerga fragmentada, em gavetas.
Papa Francisco, no número 156 da Laudato Si, define a ecologia integral como: “o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição”. Ao conceituar a ecologia integral, o Papa afirma que a noção do princípio do bem comum pressupõe: o respeito e o cuidado pela pessoa humana e suas organizações sociais, assim como por toda a criação. Por isso, nos aponta que “a ecologia integral possui uma perspectiva ampla” (LS159) e nos convida a examinar a problemática ambiental de um modo transdisciplinar.
Crise socioambiental
A ecologia integral necessita, então, não somente daquelas ciências naturais, mas também das chamadas ciências humanas, que, por se tratar de uma reflexão produzida por um sujeito social sobre si mesmo, nos permite constatar que “... é fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza”. (LS139).
Além disso, insiste o Papa, as dimensões sociais, econômicas e culturais da problemática ambiental são tão ou mais importantes do que as ciências e técnicas, pois delas dependerá a disposição dos seres humanos para empreender as mudanças radicais necessárias em nosso modo de pensar, sentir e viver atual, já que “em qualquer abordagem de ecologia integral que não exclua o ser humano, é indispensável incluir o valor do trabalho” (LS124).
É por meio do trabalho que o homem se coloca no mundo para os outros, dizia Dom Bosco, que não mediu esforços para proporcionar aos jovens mais pobres e vulneráveis, um ambiente familiar, em que pudessem: aprender um ofício para o sustento da própria vida; ter oportunidades de experiências cristãs pela vivência dos sacramentos e pudessem encontrar um lugar para se divertir, criar relações e gastar suas melhores energias.
Isso exige que “... se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, refletir sobre o nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e naquilo que nos rodeia e cuja presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada” (LS225).
Visão de Dom Bosco
Tudo isso foi pensado por Dom Bosco. Para ele, era claro que só assim seria possível alcançar qualidade e dignidade de vida. É o trabalho que transforma o espaço, desenvolve ações que dão o sentido à nossa existência.
Nesse sentido, a ecologia integral é o novo paradigma de justiça social. A principal preocupação deve ser com os mais pobres. Temos que ser solidários não apenas com as gerações futuras, mas com o que e quem está ao nosso lado.
Como não lembrar do coração compassivo de Dom Bosco ao ver os jovens sendo mortos nas prisões de Turim dos anos 1800?Em seu tempo e da sua forma, Dom Bosco já escutava “o clamor da Terra e o clamor dos pobres” (LS49), em especial dos jovens mais carentes e abandonados. Para ele, era claro que o sistema repressivo, muito utilizado na época como método educativo, “crucificava” os jovens por meio dos castigos, da exploração da mão de obra barata, da falta de um lugar familiar para viverem, dentre tantas outras oportunidades avessas aos bons ensinamentos.
Dom Bosco sabia que a educação “seria ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupasse também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade” (LS215) e à relação com a natureza.
Percebemos que Dom Bosco pensava no desenvolvimento integral dos jovens, desde suprir suas necessidades básicas até “à entrega” para a sociedade de verdadeiros cidadãos, preparados para encarar a vida com maturidade existencial e competência profissional. Ao formar os jovens, sobretudo os mais pobres, Dom Bosco preparava, segundo suas convicções, o modelo de mundo que desejava para as próximas gerações. (LS160).
Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA, é graduada em Geografia pela Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro, animadora Laudato Si credenciada pelo Movimento Católico Global pelo Clima e Green Líder da Don Bosco Green Alliance no Brasil. Atualmente é coordenadora de Pastoral da Obra Social Recando da Cruz Grande em Itapevi, SP.