Na sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações 2021, o Papa Francisco dirige a todos os cristãos o convite: “Vem e verás” (Jo 1, 46): Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são. A mensagem parte do estilo de comunicação de Jesus de Nazaré, que fala não apenas com palavras, mas com gestos, ações, silêncio e, principalmente, através da experiência de encontro e de vida que seus discípulos faziam.
Em um mundo saturado de informações, em que cada um narra os fatos a seu modo e sob diferentes perspectivas, somos convidados a vir e ver, a fazer uma experiência de encontro que transforme nossa vida a partir da Verdade. Em sua mensagem, o Papa Francisco fala que a “fé cristã começa assim; e comunica-se assim: com um conhecimento direto, nascido da experiência, e não por ouvir dizer”.
O risco de nos distanciarmos da realidade
Com o isolamento que estamos vivendo em decorrência não só da pandemia, mas também favorecido por outras causas, como a violência, o medo, o excesso de trabalho, a facilidade dos meios de comunicação e a cultura digital que se instaurou em nossa sociedade, corremos o risco de nos distanciarmos da realidade. Como diz o Papa Francisco, “o método ‘vem e verás’ é o mais simples para se conhecer uma realidade; é a verificação mais honesta de qualquer anúncio, porque, para conhecer, é preciso encontrar, permitir à pessoa que tenho à minha frente que me fale, deixar que o seu testemunho chegue até mim”.
Isso não quer dizer que a comunicação à distância não tenha o seu mérito, pois afinal, graças aos recursos tecnológicos foi possível manter não somente os laços de afeto, mas também muitos dos trabalhos, estudos e da vida em geral em funcionamento durante a pandemia e além dela.
Mas, embora a cultura digital seja uma grande conquista, como cristãos, não podemos nos distanciar das inúmeras realidades que batem à nossa porta ou que se escondem pelos interiores de nossas cidades como um submundo que aparentemente não nos diz respeito.
O fato de que um terço da população mundial continue vivendo em situação de pobreza não pode deixar de escandalizar um cristão, esteja ele em qualquer lugar do mundo. No tempo das selfies, da realidade transformada a partir das telas, das relações midiatizadas, podemos acabar criando uma bolha que nos separa da concretude da vida e acabarmos não vendo a realidade da grande maioria da humanidade.
A simplicidade de Jesus
Neste contexto, somos convidados a olhar para a simplicidade com que agia Jesus Cristo ao ir até aqueles que mais precisam, até os excluídos e esquecidos da sociedade. O amor cristão nos provoca a sentir “compaixão”, a deixar-nos interpelar pela realidade que precisa ser “tocada”, “sentida”, “experimentada”. Não podemos falar daquilo que não conhecemos, portanto, o convite para “vir e ver” as pessoas como são e onde estão nos provoca a sairmos de nossa situação de segurança e conforto para que possamos, sim, ter “o cheiro das ovelhas”, como diz o Papa Francisco.
Dom Bosco poderia ter escolhido viver dentro dos muros de sua Igreja, mas escolheu ir para as ruas de Turim, na Itália, e se aproximar da realidade a que centenas de jovens estavam submetidos. Ele viu e sentiu compaixão. E como a compaixão cristã leva à ação, Dom Bosco conseguiu transformar a vida de muitos jovens e deu início a um movimento que hoje dá frutos em todo o mundo.
Esta mesma atitude, a Igreja e a sociedade esperam de nós, que levamos adiante o carisma salesiano. Sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos, jovens, somos todos convidados a ser fermento na massa para fazer com que o Reino de Deus vá se estendendo e transforme o mundo em um lugar mais solidário, fraterno e conforme o sonho de Deus, nosso Senhor! Vem e verás: este é o chamado que o Senhor nos faz!
Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).