Após traçar o contexto da sociedade atual, o Papa Francisco dedica um capítulo da encíclica “Fratelli tutti” à passagem do Evangelho de Lucas, na qual é narrada a parábola do Bom Samaritano. O Santo Padre afirma: “Com a intenção de procurar uma luz no meio do que estamos vivendo e antes de propor algumas linhas de ação, quero dedicar um capítulo a uma parábola narrada por Jesus Cristo há dois mil anos. Com efeito, apesar desta encíclica se dirigir a todas as pessoas de boa vontade, independentemente das suas convicções religiosas, a parábola em questão é expressa de tal maneira que qualquer um de nós pode deixar-se interpelar por ela” [56].
O Papa faz o resgate histórico do significado da parábola, apontando que, na tradição judaica, “amar ao próximo como a si mesmo” se restringia àqueles que compartilhavam da mesma fé. Entretanto, na passagem narrada por Jesus ao doutor da Lei, esse preceito ganha um novo enfoque, estendendo a caridade e a compaixão a todos que estão a nossa volta.
Conforme afirma o Papa Francisco, “esta parábola é um ícone iluminador, capaz de manifestar a opção fundamental que precisamos tomar para reconstruir este mundo. Diante de tanta dor, à vista de tantas feridas, a única via de saída é ser como o bom samaritano. Qualquer outra opção nos deixa ou com os salteadores ou com os que passam ao largo, sem se compadecer com o sofrimento do ferido na estrada. A parábola mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum” [57].
É a partir da parábola do Bom Samaritano que o Pontífice chama cada um de nós a assumir a responsabilidade pela construção de uma nova realidade: “A proposta é fazer-se presente a quem precisa de ajuda, independentemente de fazer parte ou não do próprio círculo de pertença [...] Por outras palavras, desafia-nos a deixar de lado toda a diferença e, em presença do sofrimento, fazer-nos vizinhos a quem quer que seja. Assim, já não digo que tenho ‘próximos’ a quem devo ajudar, mas que me sinto chamado a tornar-me eu um próximo dos outros” [81].
Para aprofundar a leitura da parábola do Bom Samaritano e a relação desta com o carisma e com a missão da Família Salesiana criada por Dom Bosco, sugerimos a seguir dois artigos do Boletim Salesiano.