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Família Salesiana: pela paz na Ucrânia

Com informações: ANS e Portal FMA
A Quaresma de 2022 está marcada por um triste acontecimento: a guerra da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro e, até o momento do fechamento desta edição do Boletim Salesiano, ainda sem previsão de um desfecho. Conheça aqui as iniciativas de solidariedade e esperança realizadas pela Família Salesiana para atender e acolher a população ucraniana, especialmente as crianças e os jovens.

A triste realidade da guerra atingiu milhões de pessoas que vivem o medo e a insegurança dos bombardeios na Ucrânia desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro; ou que foram forçadas a deixar suas casas e se refugiar em nações vizinhas.

Diante dessa realidade devastadora, a Família Salesiana soma-se aos esforços da Igreja e aos apelos do Papa Francisco em favor da paz. E faz isso por meio da presença fraterna junto ao povo ucraniano, da acolhida aos milhares de refugiados – especialmente as crianças e os jovens – e do envio de ajuda solidária proveniente de diversas regiões do mundo.

Os Salesianos de Dom Bosco chegaram à Ucrânia em 1990 e as Filhas de Maria Auxiliadora dois anos depois, em 1992. No país, mantêm escolas, centros juvenis, obras sociais, oratórios, internatos e paróquias na capital, Kiev, e em outras cidades, como L’viv (Leópolis) e Odessa. Mesmo diante dos perigos da guerra, Salesianos, Salesianas e voluntários leigos ligados às obras decidiram permanecer no território para dar apoio espiritual e material às famílias ucranianas.

Muitas casas salesianas tornaram-se abrigo para as famílias que tiveram suas moradias destruídas ou que buscam um lugar seguro para passar a noite. Ali são distribuídos alimentos, produtos de higiene pessoal, suprimentos médicos e tudo o mais que é necessário para atender o povo. As obras salesianas são ainda locais de oração, de encontro e de conforto espiritual.

Os salesianos na Ucrânia ajudaram a transportar em ônibus e vans, muitas vezes correndo sérios riscos, os civis que partiram em busca de refúgio em outros países. Esta é outra frente importante de trabalho da Família Salesiana em favor da população ucraniana: entre os milhares de refugiados, muitos estão sendo recebidos nas obras e escolas dos SDB e das FMA, especialmente na Polônia, mas também na República Tcheca, Eslováquia, Alemanha, Hungria e Itália, entre outros países.

Nesse serviço, são apoiados por inúmeros benfeitores em todos os países nos quais há presença salesiana, não apenas dos SDB e FMA, mas ainda dos Salesianos Cooperadores, Associação dos Ex-alunos, Associação de Maria Auxiliadora (ADMA) e outros grupos ligados à espiritualidade salesiana. Nas diversas nações da Europa, Ásia, África e América, incluindo o Brasil, a Família Salesiana está mobilizada em oração e em gestos concretos, como a arrecadação de dinheiro e gêneros de primeira necessidade.

O padre Krzysztof Grzendziński, ecônomo da Inspetoria Polônia-Varsóvia, e uma equipe de salesianos e voluntários são os encarregados de supervisionar as atividades, serviços e programas realizados em todo o território diretamente envolvido: não apenas na Ucrânia, mas também na Eslováquia, nas quatro inspetorias da Polônia e em algumas outras inspetorias das imediações, fortemente afetadas pela fuga em massa de civis. Assim, garantem que as doações sejam organizadas, separadas e transportadas para que possam chegar aos que realmente necessitam, tanto na Ucrânia, como nos países que recebem os refugiados.

Leia a seguir os relatos de alguns dos envolvidos nesse imenso movimento de solidariedade, partilha e esperança.

Relatos de solidariedade e esperança

“Estamos indo até Lysycansk, onde o pároco, padre Sérgio Palamarchuk, está reunindo civis que querem fugir e nós os levaremos. Esperamos conseguir chegar, ainda temos um longo caminho pela frente e não sabemos se os militares nos deixarão passar. Na direção oposta, encontramos filas de carros, lotados de pessoas e coisas: estava claro que estavam fugindo. E, quanto mais nos aproximamos da fronteira, maior a presença dos militares.”

Padre Oleh Ladnyuk, SDB, ucraniano e capelão militar, responsável pelo transporte de famílias de Lysycansk que deixaram a Ucrânia em comboios, na primeira semana da guerra, rumo à Polônia.

“Hoje (quinta-feira, 3 de março), outro grupo de 30 pessoas se dirigiu pelo rumo da fronteira polonesa. Entre eles, nossos alunos. E voltarão? Quando? O que será da nossa escola depois de 27 anos de existência? Há cada vez mais vizinhos pedindo para usar nosso porão como abrigo. Entre elas há muitas crianças e adolescentes. Trago para eles todos os tipos de jogos do oratório para que possam passar o tempo. Também ofereço um pensamento de boa-noite e uma oração. Nenhum deles é católico, mas hoje quase todos vieram rezar durante 15 minutos pela paz. [...]

O êxodo da população continua. Dos 198 alunos da nossa escola, 85 já se encontram no exterior. Mais de 100 paroquianos deixaram nossa paróquia em Korostyshiv. Hoje (7 de março), outros vizinhos, que se escondem em nosso porão, acabam de anunciar que amanhã as mulheres e as crianças partirão pelo rumo da fronteira polonesa. Com nossa ajuda, 170 pessoas puderam sair de Zhytomyr. Ao mesmo tempo, a cidade dá testemunho de grande solidariedade. Há tanta ajuda humanitária que se pode ver compartilhada com Kiev. Muitas organizações estão ajudando na partida ordeira de civis. Eu rezo e pergunto a Deus o que Ele espera dos salesianos da Ucrânia neste momento particular.”

Padre Michal Wocial, SDB, sacerdote polonês residente na cidade de Zhytomyr, na Ucrânia, compartilhou nas redes sociais algumas reflexões sobre a guerra.

“Está frio e é difícil aqui para as mães e as crianças, que são a maioria. A maior parte dos refugiados não sabe para onde ir, fogem em direção ao desconhecido: só sabem que, além da fronteira polonesa há escolas onde podem passar a primeira noite... Procuramos entreter as crianças, fazê-las sorrir, acho isso importante neste momento. Felizmente também vejo pequenos gestos de bondade: pessoas que trazem sopas quentes, sanduíches, café ou chá, e os distribuem entre os refugiados. E é nesse momento que é possível ver tanta alegria em seus olhos, apesar da sua situação realmente trágica.”

Padre Andrzej Król, SDB, é delegado da Pastoral Juvenil da Inspetoria Polônia-Cracóvia (PLS) e atravessou a fronteira na direção oposta, para ajudar e acompanhar os refugiados ucranianos.

“As crianças têm medo. Apenas as sirenes antiaéreas se fazem ouvir, elas correm em busca de refúgio nos subterrâneos. Continuamos a ajudá-las de todos os modos possíveis. Atualmente são muitas as pessoas que chegam da parte oriental do país. Esta é a nossa vida agora... nós também temos medo.”

Łesia, residente na obra salesiana de Bibrka, na Ucraína ocidental.

“Estamos embalando tudo para enviar à Ucrânia: artigos sanitários, alimentos, fraldas, produtos para mulheres e crianças... Há um grande grupo de voluntários. Deus os abençoe!”

Tatiana, jovem que fugiu da Ucrânia e hoje é voluntária em uma obra salesiana da Polônia, na separação e preparação das doações feitas à população ucraniana.

“Muitos ucranianos vivem e trabalham em nosso país, e é assim também em nossas organizações salesianas. É também por isso que a República Tcheca representa o destino de muitos ucranianos em fuga. As estruturas do Estado estão organizando a ajuda de forma eficaz, e nossas casas já estão acolhendo os primeiros refugiados.”

Padre Martin Hobza, SDB, superior da Inspetoria Salesiana na República Tcheca.

“Os salesianos missionários estão fazendo todo o possível para ajudar os necessitados, organizando transportes de emergência e oferecendo alojamentos e hospitalidade, arriscando inclusive a vida para ajudar famílias em dificuldade. Para que possam agir da maneira mais eficiente, precisamos do apoio de nossos benfeitores.”

Padre Gus Baek, SDB, diretor da ‘Procuradoria Missionária Salesiana de New Rochelle, EUA.

“Nossas casas, oratórios e escolas salesianas abriram suas portas aos deslocados. Aqui em Leópolis, onde chegaram milhares de mulheres e crianças, ajudamos fornecendo comida. Os centros de Pastoral Juvenil foram transformados em centros de primeiros socorros para a população afetada. Jovens e pais estão fazendo todo o possível para apoiar as regiões mais afetadas. Todos os dias enviamos alimentos e suprimentos médicos para a população que se encontra à beira de uma catástrofe humanitária.”

Padre Anatoliy Hetsyanyn, SDB, delegado para a Comunicação Social da Visitadoria da Ucrânia Greco-Católica (UKR).

“A solidariedade da população polonesa com os refugiados foi muito grande. Para recolher todas as doações, tivemos que usar praticamente todas as salas dos laboratórios da escola profissionalizante. Após distribuir roupa e alimento às pessoas aqui acolhidas, enviamos uma dezena de ônibus com o restante da ajuda arrecadada, a refugiados de outras localidades.”

Comunidade Salesiana da Casa São José, em Stettin, na Polônia

“Infelizmente a situação ainda é trágica. Precisamos nos preparar para tempos ainda mais difíceis. Não sabemos quanto tempo esta guerra vai continuar e precisamos estar prontos. Há muitas vítimas entre os soldados, mas também entre os civis. O mundo inteiro aguarda decisões imediatas para conter o avanço. Toda a Ucrânia se encontra sob o perigo de bombardeios. Hoje, nossa capital, Kiev, e também as áreas que fazem fronteira com a Rússia estão sofrendo muito. As pessoas estão fugindo e abandonando suas casas.”

Padre Mykhayl Chaban, SDB, superior da Visitadoria Maria Auxiliadora da Ucrânia, de rito grego-católico (UKR).

“A pior parte foi ver meus filhos passarem frio. Tudo em que eu conseguia pensar era no que estava deixando para trás, em meu marido. Mas, acima de tudo, no que eu estava ganhando ao salvar suas vidas. Viajamos por vários dias a pé, de ônibus, de trem, até chegarmos em Medyka, na fronteira com a Polônia. Carreguei um bebê no colo, uma mochila grande e segurava a outra criança pela mão. É muito injusto o que estamos sofrendo. Temo pela sorte de meu marido, que me liga todos os dias, mas ele sabe que a família está acolhida e recebendo auxílio.”

Natalka, mãe de duas crianças de 2 e 5 anos de idade, deixou Kharkov, na Ucrânia, e atualmente está acolhida em uma obra salesiana na Polônia.

“Certamente há muita disponibilidade e abertura por parte das irmãs e famílias. Tocante é a resposta generosa dos jovens: são deveras solidários e solícitos. Penso que estamos num tempo que o Senhor nos oferece para dar o melhor de nós. Esta situação obriga-nos a tornar-nos uma ‘Igreja em saída’ e ‘hospital de campo’, como diz o Papa Francisco. Para nós é uma escola de vida. Apesar do drama que vivemos, há muitas luzes e queremos ser sinais de esperança para os refugiados, para os voluntários e entre nós, FMA.”

Irmã Lídia Strzeiczyk, conselheira visitadora do Instituto das FMA, retornando da visita às FMA das Inspetorias polonesas empenhadas nas ajudas à Ucrânia.

“O mundo uniu-se pela paz, o mundo inteiro reza. De todos os lugares chegam ajudas. Muita solidariedade, apoio, abertura e acolhimento sem medida! Neste período experimentamos que existe apenas hoje e cada dia o Senhor nos abre novas possibilidades para fazer o bem. É importante abrir, quando o Senhor bate: muitos refugiados das cidades bombardeadas do leste chegam aqui. ‘Quero só viver num lugar onde não há tiros…’ diz uma jovem mãe com uma menina de três meses. Também duas jovens estudantes que fugiram de Kharkiv bateram à porta. Uma delas fez 18 anos. ‘Qual é o teu desejo?’ – ‘Quero somente a paz e poder voltar para casa…’. Agora todos sonham com uma casa segura, sem bombas. Se chegarmos amanhã, o Senhor ‘baterá’ de novo.”

Testemunho de uma Irmã FMA de L’viv, onde, em 13 de março, uma base militar foi atacada.

“É emocionante ver como pessoas de diferentes idades e classes têm colaborado, colocando todo o seu empenho num objetivo comum: ajudar todos aqueles atingidos por este conflito tão injusto quanto inesperado. Alguns de nós vivemos essa experiência diretamente, vendo a vida de colegas próximos perturbada de forma drástica e improvisa. Parece surreal como jovens da nossa idade encontrem-se, de um dia para o outro, abraçando as armas, combatendo, tornando-se adultos de repente. E pensar que até a véspera iam à escola e levavam uma vida mais do que normal, igual à nossa.

Todo dia, somos atingidos por centenas de notícias tão distantes que parecem irreais.  Nós as percebemos como se fôssemos espectadores de nossa própria vida. Agora, pela primeira vez, vivemos tudo em primeira pessoa, com consciência, e como alunos nos comprometemos a dar o máximo de contribuição com empatia e concretude, tentando identificar-nos com o sofrimento do povo ucraniano. Com alguns gestos simples, a Comunidade da Maux tentou voltar a ser operadora de paz, num momento em que a guerra ameaça extinguir as nossas esperanças.”

Carta dos jovens alunos da Escola Maria Auxiliadora (Maux), das FMA em Turim, na Itália, que aderiram a uma iniciativa de arrecadação de donativos para a Ucrânia.

“Penso que agora estamos realmente defendendo os nossos valores. É muito importante por isso sentir o apoio que chega de todo o mundo. Em L'viv (Leópolis), por ora, estamos em um lugar seguro e tentamos, dentro do possível, dar apoio a quem, ao contrário de nós, foi atingido mais duramente pela guerra. Ser-lhes-emos realmente agradecidos se compartilharem estas informações com aqueles que gostariam de ajudar o povo ucraniano. Pedimos que rezem pela Ucrânia: organizem uma oração comum pela Ucrânia em sua igreja, comunidade ou família. A oração é a única coisa de que podemos ter certeza neste momento.”

Carta escrita por um ex-aluno salesiano de L´viv, compartilhada pela Confederação Mundial dos Ex-alunos de Dom Bosco.

Mensagens do Reitor-mor e da Madre-geral sobre a situação na Ucrânia

Clique nos links para ler os comunicados do Reitor-mor, padre Ángel Fernándes Artime, e da Madre Geral, irmã Chiara Cazzuola, sobre a situação na Ucrânia.

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A guerra e o drama dos refugiados

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