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Cartilha Socioambiental Yanomami

Com informações: Pe. José Ivanildo O. Melo, SDB, e Inspetoria Salesiana São Domingos Sávio
A partir da dissertação de Mestrado do padre salesiano José Ivanildo O. Melo e dos saberes pesquisados por ele na aldeia de Maturacá, AM, foi elaborada, de forma colaborativa, a Cartilha Socioambiental Yanomami.

Com o objetivo de refletir e discutir sobre o papel da comunidade indígena e dos saberes difusos nos ambientes comunitários como indispensáveis para a formação educacional, o padre salesiano José Ivanildo O. Melo realizou a pesquisa de Mestrado com o tema “Educação sociocomunitária yanomami: construção de uma cartilha socioambiental”.

Além do resultado já inovador dessa pesquisa – a elaboração de uma cartilha socioambiental a partir dos conhecimentos indígenas – o trabalho chama a atenção pela forma como foi feito, em parceria e diálogo com a comunidade indígena yanomami de Maturacá, AM.

Por que falar em educação sociocomunitária?
Ao explicar o que o levou a propor esse tema de pesquisa, padre Ivanildo afirma que ele é fruto de uma constatação verificada ao longo dos anos e confirmada nas pesquisas acadêmicas realizadas em Maturacá: “Existem muitos saberes circulando nos espaços não formais de educação que constituem as bases fundamentais na formação do imaginário identitário comunitário. Estes saberes, transmitidos de forma difusa no cotidiano, que envolvem diversos agentes sociais, são o que chamamos de educação sociocomunitária”.

Para ele, considerar esses saberes como fundamentais implica em desconstruir os conceitos ocidentais sobre a formação educacional. Ao apresentar a cartilha, o autor questiona: “Você já se perguntou quantas formas de aprender e ensinar existem?” para, em seguida, discorrer de forma didática sobre como é a educação tradicional na aldeia yanomami:

“Na aldeia o yanomami também tem médicos (os pajés); líderes inteligentes (os tuxauas); tem gente experiente que sabe construir casas, canoas e encontrar alimento na floresta. As mulheres yanomami sabem tecer cestos e cultivar roças, sabem preparar farinha e pulseiras de miçangas. De fato, quando o yanomami ainda não conhecia a escola, ele aprendia observando com muita atenção os mais velhos. Desde criança, na aldeia, ele vê seus pais e irmãos nadarem no rio, pescarem os peixes, saírem para caça, dançarem e cheirar pariká. É assim que o yanomami aprende: vendo, ouvindo e fazendo”.

Construindo a cartilha
Na Cartilha Socioambiental Yanomami estão registrados, além dos estudos feitos por padre Ivanildo, as suas vivências, as preocupações que teve durante o processo de pesquisa e as memórias de muitas pessoas que participaram do projeto, especialmente da comunidade yanomami de Maturacá.

O processo de construção da cartilha envolveu a troca de experiências com os integrantes da Rede de Educação Intercultural Bilíngue da Amazônia, rodas de conversa com o Grupo de Estudos de Questões Indígenas e com o Grupo de Estudo Indígenas Rio-negrinos e oficinas com professores e alunos yanomami da Escola Imaculada Conceição. A maior parte dessas reuniões, rodas de conversa e oficinas foi feita presencialmente, em Maturacá.

“Para ser professor na escola são requisitos indispensáveis ser morador da comunidade e falante da língua yanomami”

Sobre a aldeia
Padre Ivanildo explica que Maturacá é o nome do rio que banha a região onde atualmente existem cinco comunidades: Ariabú, que é o Xapono originário; Maturacá, o segundo Xapono a se formar por conta do aumento populacional e questões de conflito de lideranças; e os mais recentes: Auxiliadora, União e Santa Maria. “Sempre que nos referimos a Maturacá, na verdade estamos falando desse conjunto de comunidades que estão territorialmente muito próximas e codividem espaços e serviços”.

Para chegar a Maturacá, partindo de Manaus, é preciso fazer uma viagem de várias etapas, que pode durar dias. Primeiro, é necessário chegar à cidade de São Gabriel da Cachoeira. De avião, são cerca de duas horas de vôo desde a capital amazonense. De barco, subindo o Rio Negro, viaja-se cerca de um dia e meio. A partir de São Gabriel da Cachoeira, é feito um percurso de cerca de 85 quilômetros, em estrada de terra, até o Rio Ia-mirim. Depois, mais uma viagem pelo rio, em bote com motor de popa, para chegar à aldeia.

Em Maturacá, estão presentes várias organizações civis e militares, entre as quais a Missão Salesiana, coordenada pela Inspetoria São Domingos Sávio. “Cabe à missão salesiana, da qual sou missionário, a gestão da Escola Imaculada Conceição e a assistência religiosa católica por meio da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes”, completa o religioso.

Escola Imaculada Conceição
A Escola Estadual Indígena Imaculada Conceição é uma escola pública e gratuita, gerida pela missão salesiana. Está situada dentro da Reserva Yanomami desde a década de 1970 e, atualmente, conta com 510 alunos, sendo 369 no Ensino Fundamental e 141 no Ensino Médio.

Padre Ivanildo ressalta que a escola pauta sua ação na qualidade de ensino, partindo do professor yanomami: “Para ser professor na escola são requisitos indispensáveis ser morador da comunidade e falante da língua yanomami; ser uma pessoa equilibrada, incentivadora, conscientizadora e criativa”, completa.

Para saber mais

O estudo para a dissertação de Mestrado de padre José Ivanildo O. Melo, SDB, foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Gestão de Conhecimentos para o Desenvolvimento Socioambiental (PPGC) da Universidade da Amazônia (UNAMA) e contou com o apoio da Inspetoria Salesiana São Domingos Sávio (Inspetoria Salesiana da Amazônia - ISMA).

Tanto a cartilha, como o percurso de pesquisa realizado por padre Ivanildo, de forma detalhada, podem ser acessados clicando AQUI.

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