De 21 a 24 de setembro, a Casa de Retiros Assunção, em Brasília, DF, sediou o 14º Encontro Nacional das Comunidades Inseridas nos Meios Populares (ENCIS). Este ano, o evento trouxe o tema “Em SINODALIDADE, atuar com coragem na realidade social e eclesial, sendo Mornese em saída, rumo às periferias a favor da vida” e reuniu representantes das quatro Inspetorias das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) do Brasil, entre inspetoras, formadoras, formandas e irmãs salesianas cuja missão está inserida nos meios populares.
Conheça a seguir um pouco das comunidades nas quais algumas FMA que participaram do 14ª ENCIS estão inseridas:
Ir. Rita de Cássia Fonseca da Silva
Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia
Inserida nas Comunidades de Povos Indígenas (23 etnias)
“O Encontro do ENCIS é enriquecedor, porque ele traz uma realidade de Brasil, como está o andamento das várias realidades. A nossa Inspetoria, Nossa Senhora da Amazônia, engloba três estados da região norte e só ali a gente já vê a dificuldade que é trabalhar as várias realidades. Eu estou com os povos indígenas, então para mim é enriquecedor escutar, como eu escutei hoje, toda essa conjuntura de realidade do Brasil. Essa articulação entre as irmãs, essa partilha de vida, enriquece cada uma de nós.
Um desafio muito grande que estamos enfrentando agora é todo esse olhar que tem para o lado da Amazônia, mas que de fato que não está chegando na base. Vêm as ONGs e aparecem tantos outros querendo ajudar, mas, de fato, lá mesmo no local, não chega essa ajuda. Então a gente tem um desafio muito grande de lutar com eles (os povos indígenas) para que essa ajuda chegue onde é preciso. Nós estamos só na calha do Rio Negro, tem outros indígenas nas calhas de outros rios que não recebem o mesmo apoio dos nossos, que estão na luta, têm organizações, estavam aqui por Brasília caminhando na Marcha das Mulheres… e tem outros povos que são isolados, os que mais precisam. A Amazônia é enorme e a gente vê uma burocracia tão grande aqui fora e lá uma vida tão simples. É um contraste! Então é difícil, mas há uma luz. Quando nos encontramos com as irmãs no 14º ENCIS, a gente sente que está sempre a caminho para fazer algo mais firme; algo que, de fato, vai chegar nas bases.”
Ir. Maria Imelda V. Estrela
Inspetoria Madre Mazzarello
Inserida nas favelas de Belford Roxo, RJ
“Eu cheguei há pouco tempo e estou tratando de vivenciar esta parte de unificação como nas outras inspetorias. Morei em Mato Grosso, com os indígenas, lá trabalhamos com os Xavante e Bororo, e eu penso que agora a Inspetoria nova tem que acolher as diferentes realidades de jovens que temos, que são esta parte indígena, e esta parte agora que conheci agora das obras sociais que também é muito diferente. Para mim, tem que abraçar todos os jovens nas diferentes características de onde eles se encontram e é um processo que todas nós temos que fazer.
Agora, estou trabalhando no Rio de Janeiro, em uma favela de Belford Roxo, e é um conflito diferente, porque ali é bala e estão na pobreza intelectual e cultural muito forte. Chegam ali na obra social crianças de 9, 10, 12 anos, que não sabem ler ou escrever. Para mim, isso foi um impacto muito forte.
Em Belford Roxo é muito difícil, até para chamar um Uber, não querem ir, porque é uma situação em que há os tiroteios e nós estamos lá, no meio disso tudo. A obra social [Crescendo Juntos] é muito reconhecida e respeitada. A obra é das Irmãs Salesianas, mas também nós somos o rosto da Igreja ali.”
Ir. Silvânia Cássia Pereira
Inspetoria Nossa Senhora Aparecida
Trabalha com mulheres na economia solidária
“Esse encontro, depois de uma pandemia, que deixou as pessoas meio desestruturadas e sem esperança, vem trazer para a gente uma grande força. Eu, por exemplo, preciso fazer um preparo mental onde eu atendo, em que a maioria são mulheres com seus filhos, em um bairro pobre do Rio Grande do Sul, e com muita depressão. A gente percebe que isso não acontece somente ali. Quando você se depara com tudo isso e se pergunta: ‘onde eu vou buscar minha resistência?’, é em um encontro igual a esse! A gente precisa, por exemplo, saber o que acontece no meio político, da nossa conjuntura atual e ver luz nesse caminho para fazer uma luta.
Para mim, para a Inspetoria, é como se fosse uma luz. E nós temos irmãs na Inspetoria hoje que participam pela primeira vez do ENCIS. É uma iluminação para o nosso trabalho ser mais aquilo que Dom Bosco quis que fossemos mesmo: ‘bons cristãos e honestos cidadãos’, defendendo os direitos, estando no meio do povo.
Nós somos chamadas a estar e a sofrer junto com o povo. A ter essa empatia para que a gente possa também ajudar. São realidades que às vezes não conseguimos mudar, mas onde a sua presença é importante. Eu trabalho com mulheres na economia solidária e tem dias que elas falam assim: ‘Irmã, a senhora é igual Jesus Cristo, porque só se aproximou dos coxos e aleijados’, porque a maioria delas têm problemas de depressão e dores que desencadeiam outras enfermidades. Nessa realidade, eu partilho que o que mais me interroga é o desejo desse grupo sofrido de se fortalecer economicamente.
[Neste encontro] nós estamos falando da nossa realidade, de onde nós nascemos e qual foi esse caminho de resistência de Madre Mazzarello juntamente com Dom Bosco. É assim que nos fortalecemos e respondemos àquilo que Dom Bosco quis da gente: um monumento vivo de gratidão a Nossa Senhora lá no meio do sofrimento.”
Ir. Maria de Fátima Cunha
Inspetoria de Maria Auxiliadora
Inserida nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)
“Esse é o 11º encontro de que participo. Tenho a sorte da Congregação me favorecer essa oportunidade de ser inserida no meio popular, que é um privilégio muito grade. Ao todo, tenho 30 anos trabalhando nas periferias, com a educação popular.
Trabalhar com o povo é uma escola de vida. Eu, nordestina, sinto uma cultura muito acolhedora, de festa, de alegria e de resistência frente aos desafios e aos sofrimentos. É um aprendizado trabalhar e viver com esse público. Somos uma comunidade de três irmãs e vivenciamos com eles uma simplicidade de vida.
São muitas lições de vida que nós encontramos e adquirimos em todo esse percurso. Desde a minha formação tive a oportunidade de estar com o povo, e eu digo que é voltar às minhas raízes, porque eu sou de uma comunidade simples, de uma família simples de 10 irmãos, e resolvi ser a seguidora de Madre Mazzarello e Dom Bosco pela convivência com as irmãs no oratório. Eu sou uma vocação oratoriana e, chegando no meio do povo, me identifico como Irmã Salesiana, porque esse jeito de ser Igreja me encanta. É para a espiritualidade das CEB, da partilha da vida, da festa, da luta e da defesa da vida que eu estou aqui.
Os encontros nacionais de comunidades inseridas no meio popular só fazem fortalecer a minha opção. Eu digo que a comunidade inserida é uma terceira vocação. A minha primeira vocação é a vida, um dom de Deus. A segunda vocação é a de religiosa salesiana. E a terceira é a vocação religiosa inserida no meio popular. Com mais de 40 anos de vida religiosa, eu peço a Deus para ser fiel ao meu povo até o fim, nessa luta, nesse desejo de devolvê-los a dignidade.”