A síntese brasileira da grande escuta sinodal destacou três fontes da espiritualidade cristã: a oração pessoal, a liturgia e a piedade popular. A participação na Eucaristia, de forma geral, é frutuosa em nossas comunidades.
Por sua vez, a religiosidade popular “é uma forte expressão do caminhar juntos do Povo de Deus, nas novenas dos padroeiros(as), novena do Natal, a devoção a Maria, a grande participação nos santuários reconhecidos no país”. No entanto, ainda sente-se a falta de uma formação de maior qualidade para a Lectio Divina, sobretudo com os jovens e de escolas bíblicas que ajudem a fortalecer o estudo da Palavra.
Na síntese universal é bastante presente a avaliação da ministerialidade que expôs a necessidade de “uma Igreja toda ministerial e a pluralidade dos mesmos” (DEC, 67). Esta variedade de carismas e ministerialidade não pode se limitar apenas ao culto, mas deve estar presente na vida das comunidades, das associações laicais, das novas comunidades de vida consagrada, sem contrapor carisma a instituição (DEC, 68-70).
Carisma salesiano
O carisma salesiano é muito presente nas paróquias, nas Comunidades Educativo-Pastorais, nos grupos juvenis, oratórios, escolas, obras sociais, universidades, entre os povos originários. Tanto a celebração como também os serviços diversos – ministérios – dão alma e vida a numerosas iniciativas de protagonismo e geração de lideranças.
Essa riqueza precisa ser compartilhada para fora, ser capaz de gerar compromisso e engajamento de cristãos leigos nos diversos setores da Igreja à luz do carisma salesiano. Às vezes, temos a impressão de que estamos bastante voltados ao nosso umbigo, fazendo coisas ótimas, mas sempre para dentro e pouco numa dimensão eclesial missionária.
Por esse caminho passa o diálogo com a sociedade. Questão, segundo a síntese brasileira, que passa por “um esfriamento da profecia e apatia ao se falar de questões sociais no âmbito eclesial”.
Saber celebrar salesianamente
É impressionante como Dom Bosco dava vida as festas religiosas, sobretudo para a devoção à Auxiliadora, as celebrações eucarísticas, as novenas, as visitas ao Santíssimo Sacramento, o terço etc. Eram momentos nos quais os jovens apresentavam suas alegrias e tristezas, sonhos e infidelidades.
Muitos sonhos de Dom Bosco revelam tanto a fragilidade dessas práticas, como o seu desejo de que elas fossem feitas com esmero e devoção. Nada em Valdocco e também nas casas que foram fundadas com ele vivo eram feitas no improviso. Por exemplo: as pequenas mensagens durante as novenas da Auxiliadora eram formas pedagógicas de ligar a vivência cotidiana com a experiência do transcendente para chegar ao momento solene celebrativo com a devida participação e conversão.
Eram, assim, práticas sinodais, porque a vivência era comunitária, dentro do ambiente educativo, com a meta de sair da rotina sem perder a essência da fé. Celebrar, portanto, é um ato sinodal quando nos ajuda, como Corpo do Senhor, a manifestar o louvor e ação de graças, recolhendo os frutos de nossas experiências.
Ministerialidade salesiana
Na prática preventiva salesiana, a presença do educador com os adolescentes e jovens é uma forma de servir, e nunca de controlar. A figura do assistente – tirocinante – era uma espécie de anjo da guarda, positivamente presente e proativo. O assistente é aquele que realiza um serviço ministerial, e não um disciplinador que circula no meio dos jovens para repreender.
É preciso valorizar a ministerialidade como a “valorização ao serviço da missão, atores e atrizes diversos, iguais em dignidade, complementares para serem sinal, para tornar credível uma Igreja que seja sacramento do Reino” (DEC, 67). Neste sentido, todo “ministério é elemento estruturante da vida da comunidade” (DEC, 68).
O que pode empobrecer a vida sinodal de nossas presenças senão a ausência de ministérios que deem protagonismo a todas as pessoas? Seremos meros fazedores de atividades caso não saibamos reconhecer que a diversidade de carismas não ameaça a instituição, mas possibilita sua real expressão e a colaboração recíproca.
No Corpo da Igreja, somos todos necessários e ninguém pode ficar à margem do caminho (1 Cor 12,12s). A imagem da tenda, presente no Documento de Trabalho da Etapa Continental, inspirada em Isaías 42,2, é muito importante para compreender que todos devem estar debaixo dela e que seu deslocamento pelo deserto requer que haja aqueles que esticam a lona, outros que segurem a corda e muitos outros que fixem as estacadas para alargar a lona.
Nesse esforço sinodal está a ministerialidade que precisa ser incentivada nos “âmbitos juvenis, na casa comum, dependentes químicos, casais em nova união, pessoas LGBTQIA+, idosos, mulheres, mundo universitário, mundo digital, enfermos e questões bioéticas, tais como aborto e eutanásia” (síntese brasileira).