Luís Variara entrou no seminário salesiano de Turim, na Itália, em 1887, quando tinha apenas 12 anos. Entretanto, a curta convivência com Dom Bosco, que morreria quatro meses depois, o marcou por toda vida. No artigo O olhar de Dom Bosco, escrito para a edição de maio de 2021 do Boletim Salesiano, padre João Mendonça, SDB, conta esse fato:
“O pequeno Luís chegou em Valdocco em setembro de 1887. Dom Bosco estava muito debilitado, quase não descia do quarto. Variara apenas ouvia as histórias sobre os fatos milagrosos, os comentários dos meninos e salesianos que tiveram contato direto com Dom Bosco. A fama de santidade era grande. Inclusive, Lemoyne afirma que muitas pessoas se ajoelhavam diante de Dom Bosco como gesto de veneração para beijar-lhe a mão.
Pois bem, voltemos a Variara. Numa manhã de sol, correu a voz de que o secretário de Dom Bosco, padre Viglietti, iria descer o fundador para um passeio de charrete. A confusão foi geral e gerou grande expectativa. Na hora marcada, os meninos se aglomeraram na porta que dava para a saída do pátio. Todos queriam ver Dom Bosco. Variara era pequeno, frágil e não tinha muita chance. Contudo, conseguiu subir numa coluna e ali ficou agarrado. Desceram Dom Bosco numa cadeira de rodas. Ele estava de cabeça baixa, cansado e abatido. Quando o puseram na charrete ele levantou a cabeça e fixou o olhar por alguns instantes em Variara. Foi um instante que marcou a vida daquele menino e que ele recordaria sempre: ‘Dom Bosco me olhou e eu olhei para ele’”.
Tornou-se salesiano
Luís Variara teve naquele momento a certeza de sua vocação. Tornou-se salesiano e fez os votos perpétuos em 1892. Durante seus estudos, conheceu o trabalho do padre Unia com os doentes de hanseníase (na época conhecida como lepra) no povoado de Água de Deus, na Colômbia. Em 1894, Variara veio para a América do Sul para contribuir com essa missão.
Tornou-se diretor espiritual da obra e, com uma visão revolucionária para a época, dedicou-se não apenas ao cuidado espiritual dos doentes, mas também à promoção da dignidade humana e da inclusão social. Organizou um orfanato, uma escola profissional e, como portador da alegria salesiana, iniciou o oratório, com teatro, banda de música e esportes. Assim, sem fazer distinção entre os doentes, seus filhos que ali viviam e os missionários, transformou o local antes conhecido como “cidade da dor” em um ambiente de convivência fraterna e amorosa, sem preconceitos e discriminações.
Uma nova congregação
Em 1905, padre Luís Variara fundou o Instituto das Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, primeira congregação religiosa a aceitar pessoas com hanseníase e suas filhas como integrantes. O Instituto é hoje reconhecido como o oitavo grupo da Família Salesiana, está presente no Brasil e em outras 10 nações da América, da Europa e da África, tendo como missão a Pastoral da Saúde.
O legado de Padre Luís Variara vai além de suas realizações tangíveis. Sua vida é um testemunho de fé inabalável e de amor ao próximo. Ele enfrentou desafios imensos, como o afastamento de suas funções em Água de Deus por obediência a seus superiores na Igreja da época, mas nunca perdeu a esperança ou a determinação de fazer o bem. Sua espiritualidade profunda e seu compromisso com os princípios salesianos de amor e serviço deixaram uma marca indelével na Igreja e na sociedade.
Padre Luís Variara faleceu em 1923, aos 48 anos, mas sua obra continua viva através das Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria e de todos aqueles que se inspiram em seu exemplo de vida. Em 2002, foi beatificado pelo Papa João Paulo II.
Para saber mais sobre o Beato Luís Variara, faça o download gratuito do livro Luís Variara: apóstolo dos abandonados, de Luís Cástano, pelo link: https://edbbrasil.org.br