Participei de um Curso com Diretores da Inspetoria Salesiana São Pio X, sobre “Espiritualidade a partir de São Francisco de Sales”. Posteriormente, assisti a uma palestra com o padre Tarcizio Odelli, que também nos ministrou o curso, falando sobre Dom Bosco e Francisco de Sales. E me surgiram alguns pontos de reflexão, que aqui partilho.
É importante sentir a convergência que existe entre nossos dois queridos santos, mesmo tendo presente a distância de época. Parece-me sentir o “kairós”, o tempo de Deus que perpassa em Dom Bosco, assumindo a espiritualidade de Francisco de Sales. Quase que se poderia dizer que além de serem “conterrâneos”, foram também “contemporâneos”! Se não de época, na vivência da santidade, de tudo o que foram e viveram em Deus. E o maravilhoso de tudo isso é que chega até nós: podemos usufruir e vivenciar o que nos legaram.
Que possamos, também nós, em outro tempo da história, viver o “kairós” – tempo de Deus junto aos nossos jovens!
Viver a humildade
Também é interessante o contraste de estilo e de origem de vida. A vida palaciana de Francisco de Sales e a vida campesina de Dom Bosco. Mas nos dois estilos de vida, sempre estiveram presentes a simplicidade, a relação afetiva com as pessoas, o respeito pela dignidade do ser humano. Foi sempre o mesmo Deus – imagem e semelhança do ser humano – que direcionou o ser e o agir de suas vidas. E esse modo de ser elimina todo tipo de orgulho, fazendo sobressair a humildade que deve reger o nosso ser e agir de cada dia.
Que nossa vida seja simples, a partir da humildade, para que nosso testemunho de educadores e evangelizadores possa ter sentido e significado evangelizador!
Deixar que Deus transforme nosso coração
Sente-se claramente a vivência de um modo de testemunhar um carisma a partir da vida concreta. Nossos dois santos trabalharam muito a própria personalidade, para serem o que foram: santos da bondade, da doçura, da santidade simples... Eles não nasceram “bons”, mas trabalharam para serem “bons”! Eles foram fruto de um trabalho pessoal muito grande, auxiliados pela graça de Deus que tudo perpassava em suas vidas.
Trabalhemos e formemos nosso coração para sermos mestres na doçura e na bondade!
A santidade é para todos
Nossos dois santos, um nas pegadas do outro, sempre pregaram essa vivência: Deus chama a todos para serem santos. E é possível... e não é difícil ser santo. Nesse processo e projeto, seguidores de Francisco de Sales e de Dom Bosco também se fizeram santos. Temos vidas e espiritualidade que mostraram o caminho da santidade a partir de uma vida simples, vivida em Deus, na alegria pascal e no serviço às pessoas. Nossa espiritualidade forjou muitos santos.Que sejamos educadores santos para ajudarmos nossos jovens a serem santos!
Acompanhamento pessoal
Trato de modo especial o acompanhamento espiritual para se viver o caminho da santidade. Francisco de Sales valorizou e sempre acompanhou pessoas, seja presencialmente, seja à distância – veja-se a quantidade de cartas que escreveu acompanhando pessoas... de modo especial Joana de Chantal. Que seria de Dom Bosco se não fosse o acompanhamento de seu condutor e guia, padre Cafasso? De acompanhado, Dom Bosco se fez acompanhador de uma imensidão de jovens. Se ele fundou a Congregação Salesiana com jovens, foi porque ele os conhecia em profundidade a partir do sacramento da Confissão e do acompanhamento espiritual. Foi audacioso, fundador, santo.
Que nos formemos e sejamos acompanhadores de nossos jovens em seu caminho de vida e santidade!
Francisco de Sales, nosso Patrono
Dentre outras motivações, Dom Bosco escolheu Francisco de Sales como patrono da Congregação tendo em vista sua doçura, sua bondade. Essa bondade deveria e deve ser nossa marca registrada a partir da vivência do Sistema Preventivo, alicerçado também na bondade/doçura – amor educativo e evangelizador. É importante ser casa de acolhida e ter o coração voltado para viver nosso carisma. Ter o coração salesiano é empenhar-se por viver a doçura de Francisco de Sales e Dom Bosco em nossas relações, sempre vivenciadas pelo amor.
Que São Francisco de Sales e Dom Bosco sejam nossos modelos no caminho do amor educativo e evangelizador!
Somos Salesianos. Somos “de Sales”!
Somos Família Salesiana: “Família de Sales”, com o coração de Dom Bosco. Essa deve ser nossa vivência salesiana: ter na vida e na missão o modo de ser e viver de nossos santos, o Patrono e o Fundador. Viver sempre o espírito e a mensagem com o coração salesiano: mansidão, doçura, bondade. “A caridade e a doçura de São Francisco de Sales guiar-me-ão em tudo”, disse Dom Bosco. Isso será a base do seu e do nosso Sistema Preventivo, hoje e sempre.
Que possamos formar sempre o nosso coração para ser um “Coração Salesiano”!
Assistência – Presença
Foi sempre viva em Francisco de Sales a presença, a assistência, na dinâmica de ser “condutor”, que ajuda a crescer no processo de vivenciar um caminho de santidade em Deus. Essa presença sempre foi muito forte em Dom Bosco, que deixou a todos os salesianos o compromisso com a assistência: todos somos “assistentes”! Mais do que nunca se faz necessária essa assistência, que se faz “presença”. Presença que, no linguajar do padre Juan Vecchi, necessita ser “Presença Significativa”. E que na partilha do padre Ángel Artime, deve ser “Sacramento da Presença”.
Que saibamos ser “Sacramento da Presença” na vida de tantos jovens que Deus tem colocado em nossa vida!
Identidade pastoral
Nossos dois santos sempre tiveram urgência em “salvar as almas”. Em levar todos para o coração de Deus, em vista da felicidade completa. Francisco de Sales em sua época, uma época difícil diante dos embates, sobretudo com os calvinistas; mas um tempo de identificação com o povo, vivendo a pastoral de conversão a partir da convivência, da acolhida, da doçura. E Dom Bosco, que viveu em tudo a necessidade da salvação dos jovens pobres e abandonados. Sua vida gasta a serviço dos jovens: “Até meu último suspiro será para meus pobres jovens”, dizia ele. Assim foi testemunhada sua vida, para que “os jovens fossem felizes no tempo e na eternidade”!
Que tenhamos um coração pastoral, para sermos “sinais e portadores do amor de Deus aos jovens”!
Concluindo...
Essas foram algumas reflexões que me vieram à mente e ao coração, nesse tema tão significativo do confronto entre Francisco de Sales e Dom Bosco. As reflexões suscitadas por esse tema me fizeram bem. Espero que tenha sido bom para os demais irmãos e irmãs que participaram do curso. E que tudo nos ajude a viver no seguimento de Jesus Cristo, anunciando o amor misericordioso do Pai, sendo sinais do amor de Deus aos jovens, do jeito de Dom Bosco, na doçura e bondade de Francisco de Sales. Amém.