Em 26 de janeiro de 1854, quando aqui em São Paulo imagino que ainda restavam resquícios da festança que deve ter sido o terceiro centenário de fundação de nossa cidade, do outro lado do Atlântico, na Europa, ou mais precisamente em uma cidade do norte da Itália, em Turim, reunia-se um jovem sacerdote de nome João Bosco com quatro de seus auxiliares no Oratório, já como clérigos, e lhes comunicava, com a voz embargada pela emoção, conforme nos relata Pe. Terésio Bosco, em seu livro Dom Bosco, uma Biografia Nova:
“- Como veem, Dom Bosco faz o que pode, mas está sozinho. Se, ao contrário, vocês me ajudarem, faremos milagres de bem. Prometo-lhes que Nossa Senhora nos dará oratórios amplos e espaçosos, igrejas, casas, escolas, oficinas e muitos padres prontos a nos ajudar. E isto na Itália, na Europa e também na América. E já vejo no meio de vocês uma mitra de bispo”. Os quatro rapazes entreolham-se espantados. Parece-lhes sonhar. Entretanto, Dom Bosco não brinca. Fala sério. Parece ler no futuro.
“- Nossa Senhora quer que fundemos uma sociedade. Pensei longamente que nome lhe dar. Decidi chamar-nos Salesianos”. Os quatro jovens eram Miguel Rua, que já no ano seguinte faria os votos de pobreza, castidade e obediência e depois viria a ser o primeiro sucessor de Dom Bosco; João Caglieroque, 30 anos depois, seria o primeiro bispo salesiano, conforme anteviu DomBosco; mais Rochietti e Artiglia.
Mas o que teria levado Dom Bosco a escolher esse nome para a grande família que iniciava? Na antevéspera, 24 de janeiro, quando a Igreja comemorara o dia de São Francisco de Sales, santo pelo qual Dom Bosco tinha devoção e buscava exemplo de vida.
Exemplo, entre outras características, talvez pelo fato de São Francisco de Sales ter sido um grande propagador dos meios de comunicação para a evangelização, tanto que o Papa Pio XI, o mesmo que canonizou Dom Bosco, declarou São Francisco de Sales o padroeiro dos jornalistas e escritores católicos, e Dom Bosco também foi escritor de inúmeros livros e criador de uma revista que hoje alcança o mundo todo, o Boletim Salesiano.
Exemplo ainda pelo fato de São Francisco de Sales ter sido orientador espiritual de vários outros santos, como São Vicente de Paulo, sinônimo de caridade. Nisto percebemos que Dom Bosco o seguiu fielmente, principalmente quando nos lembramos do mais famoso aluno de Dom Bosco, São Domingos Sávio.
Mas talvez o exemplo maior tenha sido a capacidade de dobrar seus ímpetos humanos para conformar-se cada vez mais à vontade de Deus. Tanto que São Francisco de Sales dizia: “Seerro, prefiro que seja por excesso de bondade que por demasiado rigor”. Dom Bosco, ao perceber que os resultados de sua evangelização juvenil só viriam coma famosa “amorevolezza”, ou seja, com ternura e carinho pelos jovens, nos lembra que “não basta amar os jovens, eles precisam saber que são amados”.
Em função de tudo isso e certamente como um exemplo de humildade é que Dom Bosco descartou toda e qualquer possibilidade do nome de sua Congregação fazer menção a si próprio e decidiu homenagear o santo de sua devoção, chamando-nos de Salesianos.