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Comunicar com o coração: profecia cristã no mundo atual

Ir. Márcia Koffermann, FMA
“O apelo do Papa, quando propõe o tema de falar com o coração, é uma provocação para olharmos e vivermos aquilo que é a essência do ser cristão: o amor e a misericórdia.”

Na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações de 2022, o Papa Francisco convidava a “escutar com o ouvido do coração”; para o ano de 2023, o convite é “falar com o coração”. A comunicação é um dos mais belos dons que Deus proporcionou ao ser humano. As habilidades comunicacionais de escutar e de falar nos permitem sair do isolamento do nosso interior e abrir-nos para o outro, para o mundo e para a vida.

É na família e na comunidade que aprendemos a escutar e a falar; e essa é uma aprendizagem que dura tanto quanto dura a vida. Para crescermos em humanidade é preciso colocarmo-nos na atitude de formação permanente para a escuta e para a fala. Em um mundo com tanto barulho e com tanta informação, é preciso aprender não apenas a selecionar o que escutamos, mas também o como escutamos. Isso exige educar o ouvido do coração para que seja sensível o suficiente para ouvir o bom e o belo, e também para ouvir o grito dos pobres e da Terra.

Falar com o coração
No entanto, além de escutar com o ouvido do coração, somos chamados a falar com o coração e para isso é preciso vencer a indiferença e a violência. Vivemos um tempo de muitos conflitos, guerras, discursos de ódio e tendência ao autoritarismo. É um mundo que necessita urgentemente da singeleza e da doçura do coração, da ternura e do afeto das palavras e gestos. Talvez essa seja a grande profecia que os cristãos podem viver hoje: escutar e falar com o coração.

Vemos uma grande preocupação com a defesa. As pessoas e as nações se sentem na obrigação de armar-se para defender-se e isso não se restringe à compra de armas e munição, mas é uma atitude que se cultiva e que parte da premissa de que o outro é uma ameaça e que é preciso estar pronto para atacar. É uma lógica destrutiva, que põe em risco a própria vida do planeta, no sentido de possibilidade de um conflito global ou de uso de armas nucleares e de destruição em massa.

Essa atitude é também destrutiva para cada pessoa e para cada comunidade. O apelo do Papa, quando propõe o tema de falar com o coração, é uma provocação para olharmos e vivermos aquilo que é a essência do ser cristão: o amor e a misericórdia. O Deus cristão não é um rei vingador, mas é um pai bom e misericordioso. Deus é amor! Tanto amou o mundo que deu o seu Filho amado para nos salvar.

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Que Maria, aquela que guardava tudo no coração, nos ajude a escutar e a falar com o coração.

Resposta cristã
A resposta cristã para o mundo atual precisa ser pautada no amor, na acolhida e na misericórdia. A força do cristianismo é a atração pelo amor, e não o seguimento de uma série de prescrições ou costumes. Todas as expressões e práticas cristãs precisam ser pautadas na vivência e na prática do amor, ou então se tornam apenas uma embalagem bonita de algo que é insignificante. Como diz Jesus no Evangelho de Mateus: “A boca fala da abundância do coração” (Mt 12, 34).

Uma das expressões utilizadas pelo Papa Francisco é que necessitamos realizar “a revolução da ternura”, o que não significa cair no sentimentalismo ou infantilismo, mas sim viver efetivamente a experiência do amor de Deus. E é com base nessa experiência do amor de Deus que podemos viver a comunhão entre irmãos, em que se fala a verdade, se corrige, se argumenta e se questiona, mas sempre com base no respeito à sacralidade e dignidade diante do outro.

É um tanto contraditório que vivamos no mundo da comunicação, onde as mídias têm um lugar central e no qual todos, ou quase todos, podem se expressar, mas ao mesmo tempo, é um mundo tão dividido e tão cheio de muros e violência. Falar com o coração e criar comunhão, nesse contexto, é certamente a profecia que todos nós somos chamados a viver.

A transformação da sociedade começa com a atitude de cada pessoa e se concretiza à medida que, como comunidades, somos capazes de assumir novos padrões de conduta e ação. Que Maria, aquela que guardava tudo no coração, nos ajude a escutar e a falar com o coração.

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