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Missão Indígena em Meruri e São Marcos: um testemunho de vida!

Confira o emocionante relato da jovem Miriam Garnique, que participou das vivências na Missão Indígena 2024 da Inspetoria Madre Mazzarello (BMM), realizada nas aldeias de Maruri e São Marcos, no Mato Grosso.
Equipe de Comunicação BMM

Entre os dias 13 e 21 de julho de 2024, a Missão Indígena da Inspetoria Madre Mazzarello (BMM) recebeu, entre seus participantes, a jovem Miriam Garnique, estudante do Colégio Laura Vicunha de Campos dos Goytacazes, RJ. Em seu relato emocionante, Miriam compartilhou a profundidade das vivências que marcaram sua estadia nas aldeias de Meruri e São Marcos, entre os povos indígenas Bororo e Xavante.

Miriam descreveu sua experiência como um encontro genuíno com o amor e a misericórdia de Deus, revelados em cada sorriso e gesto de acolhida. Ela destacou a beleza da cultura, fé e espiritualidade que encontrou, ressaltando que a missão salesiana está centrada também na valorização e preservação das culturas indígenas. A conexão com os indígenas e os missionários foi uma experiência transformadora, que a fez refletir sobre o que realmente importa na vida, confrontando-a com as realidades de simplicidade, alegria e desafios enfrentados pelos povos nativos. Confira o depoimento na íntegra:

Missão Indígena Meruri e São Marcos 2024
Deus sempre nos surpreende. Tudo que planejamos em nossa vida se torna pequeno diante das maravilhas que Deus sonha para cada um de nós. Recentemente, eu experimentei de forma genuína o amor e a misericórdia do Senhor. Ainda busco organizar os pensamentos e as emoções, tentando expressar em palavras tudo que vivi. É bem provável que este texto não consiga transmitir a intensidade dessa experiência singular!

Dias e noites, imersa em uma realidade completamente oposta a tudo que me cerca rotineiramente. Longe dos meus, do meu lar, mas perto de pessoas que me ensinaram o que significa a palavra doação. Quanta alegria! Quanta gratidão em testemunhar a linda obra salesiana, que juntamente com os indígenas, luta até os dias de hoje pelo direito à terra. Ao contrário do que se pensa, os religiosos e os missionários não estão ali buscando catequizá-los. Muito pelo contrário, estão ali para ajudá-los a preservar suas próprias culturas, que foram sendo desvalorizadas ao longo dos anos, desde o primeiro contato com os “brancos”.

Agradeço a Deus por me levar àquele lugar para me transformar em uma pessoa melhor e para me conectar novamente com meu eu interior.

Em Meruri e em São Marcos, mergulhei em um mundo paralelo, cheio de ritmo, cores, ritos, expressões, respeito, hierarquia, alegria, lealdade e fé. Fé em um Deus que se manifesta em cada indígena, em cada criança, nos missionários, nos padres, nas religiosas, nos animais, na natureza, no sol, na lua, no fruto da terra. Fé que não fica na individualidade ou no egoísmo, mas que transborda, que se concretiza em cada gesto, abraço e sorriso.

Pele morena, cabelo escurecido, tão liso e macio. Traços que parecem ter sido desenhados com cautela. Olhar marcante e profundo, que te leva a olhar para sua própria alma. Adereços, pinturas, pés cobertos por terra, braços fortes e o detalhe mais bonito: o coração. Capaz de amar verdadeiramente, capaz de louvar a Deus com sinceridade, sem máscaras, sem acúmulo, sem pretensões. Amam a Deus pelo simples fato de estarem vivos. Meruri, altar do sacrifício, banhada pelo sangue dos nossos irmãos, padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo. Exemplos de coragem, abandono e dedicação. Foram ao extremo por amor, foram ao extremo pelo direito à vida de cada indígena.

Já São Marcos é marcada pela dedicação de sacerdotes e irmãs, que vivem isolados do barulho da cidade, de uma sociedade que nunca deu ao indígena o seu verdadeiro valor. Mas eles jamais são esquecidos por aqueles que resolveram se doar sem reservas, que acordam todos os dias dispostos a olhar com doçura e caridade, fazendo com que cada indígena se sinta amado e valorizado.

Aprendi que a liturgia tem o seu valor, mas que Deus vai além de objetos litúrgicos, das alfaias bem passadas e das túnicas limpas. Que o altar pode ser uma mesa pequena, no meio de uma aldeia ou no topo de um morro, com uma simples toalha rendada. Que as galhetas podem se transformar em garrafas plásticas, que levam a água e o vinho que serão consagrados. Fui testemunha de uma das celebrações mais lindas que presenciei, na sua forma mais digna e humilde. Os Xavante cantavam a Deus durante toda a missa. Basta fechar os olhos que sou transportada para este lugar. O cálice e a patena de madeira, com traços esculpidos pelos próprios indígenas. Quanta riqueza em uma só celebração!

Mas, infelizmente, esse paraíso também é formado pelas mazelas. Pela fome, pelas doenças, pela falta de recursos básicos para a manutenção da vida. Pessoas que vivem com praticamente nada. E nasce o questionamento: “Eles que vivem com pouco ou nós que vivemos com muito mais do que o necessário?” Ao ver a alegria desse povo, somos confrontados. Como pode haver tanta felicidade em meio a tantas dificuldades? Nós reclamamos por tão pouco!

Que Deus nos perdoe por nossa vaidade, por nossa vida muitas vezes vivida de forma supérflua. Agradeço a Deus por me levar àquele lugar para me transformar em uma pessoa melhor e para me conectar novamente com meu eu interior. Por me revelar, através das crianças, tudo que há de bonito em mim e que eu havia me esquecido. Aos povos indígenas Bororo e Xavante, minha total admiração e respeito. Obrigada por abrirem suas casas, suas vidas e suas culturas. Obrigada pela acolhida! Estamos juntos pelas orações e pela luta. “Afinal, a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”. Gratidão!

Miriam Garnique

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