Para que um indivíduo cresça saudável e possa ter um equilíbrio enquanto pessoa, ele precisa desenvolver as habilidades cognitivas, precisa chegar a uma inteligência emocional que lhe permita ter uma maturidade psíquica e, ao mesmo tempo, é fundamental que desenvolva uma espiritualidade sadia, que lhe permita viver com esperança e confiança diante das adversidades da vida.
Os ambientes educativos possuem a responsabilidade de ajudar crianças, adolescentes e jovens a crescerem nestes três aspectos fundamentais da vida.
Razão, religião e amorevolezza
Infelizmente, muitas vezes, na tentativa de evitar o proselitismo religioso, tem-se propagado a ideia de que a escola deve ser totalmente laica e que os valores religiosos e transcendentais são responsabilidade exclusiva da família. Ao fazer isso, desvincula-se a educação à fé da razão e das emoções, criando-se um campo propício para visões religiosas distorcidas, fundamentalistas e fechadas aos grandes problemas que afligem a humanidade.
Diante desse contexto, uma das áreas de intervenção educomunicativa que vem sendo estudada e aprofundada é a “Educomunicação para o Transcendente”. Entendida como o conjunto de práticas voltadas para “despertar as comunidades educativas para valores como a alteridade, a solidariedade, o sentido de humanidade e a misericórdia, perseguindo um modelo de sociedade onde cada pessoa e, ao mesmo tempo, toda a criação sejam respeitadas em sua dignidade” (Koffermann, Aguaded e Soares, 2022).
Ou seja, refere-se a uma série de ações sistematizadas, que possuem uma intencionalidade educomunicativa clara de ajudar a pessoa a buscar um sentido para a própria vida, confrontando-se com os valores humanos e cristãos a partir de uma atitude de empatia, benevolência e compromisso com a vida e toda a criação.
A dimensão humana
Sem a dimensão humana da fé, religião e transcendência, é muito difícil falar em tolerância, misericórdia e amor ao próximo e é muito fácil cair em correntes individualistas, narcisistas e discriminatórias que podem dar-se a partir de posturas antirreligiosas, mas também a partir de posicionamentos revestidos de religiosidade, que nada têm de verdadeiramente evangélicos.
Se olharmos para a prática de Jesus de Nazaré, veremos que Ele se opôs a toda espécie de fundamentalismo, questionou as posturas dos fariseus que se apegavam profundamente à Lei, denunciou aqueles que se utilizavam da religião em benefício próprio e provocou aqueles que fechavam os olhos para os próprios defeitos e apontavam os pecados dos outros.
Nos ambientes educativos salesianos
Por isso, é importante que os ambientes educativos salesianos sejam espaços em que as experiências vividas passem por um itinerário de educação à fé gradual, que acompanhe o desenvolvimento intelectual e psíquico dos estudantes. Não uma fé abstrata e infantil, mas uma fé que vai amadurecendo no confronto com o conhecimento científico, permitindo ao jovem dar as razões de sua fé, a partir de convicções que levará para a vida inteira e que não morrerão diante da primeira dificuldade encontrada.
Uma fé que permite sentir com o coração de Jesus e que seja capaz de perceber quando existe a tentativa de manipulação da religiosidade em favor de interesses secundários e pessoais. Uma fé que não cai no sentimentalismo egocêntrico e fechado em si mesmo, mas que se abre para colocar-se a serviço e ver o sofrimento dos irmãos e irmãs de caminhada.
Felizmente, há muitas propostas nos ambientes salesianos que favorecem esse desenvolvimento da dimensão da transcendência e isso é uma preciosidade que não se pode abrir mão. As manhãs e tardes de formação; os bons-dias e boas tardes; as experiências da Articulação da Juventude Salesiana, de voluntariado e de semanas missionárias; os projetos de solidariedade e cidadania; as celebrações; as ações integradas com as paróquias; os retiros bíblicos e uma série de outras propostas não devem ser ações isoladas em uma gaveta da Pastoral Escolar. Devem, isso sim, ser processos sistematizados, articulados e pensados intencionalmente, como práticas educomunicativas, que educam e comunicam algo maior, que dão sentido e estão voltadas para a grande meta de formar bons cristãos e honestos cidadãos, conforme o desejo de Dom Bosco e de Madre Mazzarello.