A carta Literatura na educação é um presente poético evangélico do Papa Francisco para todos os cristãos, sobretudo para os que se preparam ao ministério presbiteral e, podemos dizer, para a formação permanente. Importante é ter o “olhar nos outros”, ou seja, a capacidade de mergulhar na humanidade através do mistério de Deus que se fez carne e passa, assim, pela palavra humana.
Francisco nos leva, como bom professor de literatura, a passear por conteúdos, experiências e vivências de poetas e romancistas que, com a imaginação e com o olhar na realidade, sabem decifrar narrativas, personagens, cenários e abstrações; os sentimentos mais profundos que suscitam em nós, a alegria, o choro, o êxtase e o discernimento.
A literatura torna ainda mais fácil perceber no cotidiano da vida as sementes do Verbo de Deus nas culturas e em nós mesmos, pois, como bem diz o Papa, é necessário encontrar Jesus Cristo, homem e história, com “suas feridas, desejos, recordações e esperanças”.
Os tópicos da carta traçam o itinerário ao leitor para despertar e resgatar, no processo formativo das novas gerações, o gosto pela literatura como caminho espiritual.
Fé e cultura
A palavra poética revela que é possível encontrar elementos substanciosos na literatura que ajudam a aprofundar ainda mais a compreensão do Evangelho, como fez São Paulo, que soube usar em suas pregações elementos da cultura, como em Atenas, para manifestar a novidade do Evangelho; o encontro entre a palavra divina e a palavra humana.
Nunca um Cristo sem carne
O grande desafio de hoje, segundo o Papa Francisco, não é o ateísmo prático, mas o não saber responder à sede de Deus que o ser humano tem e busca às apalpadelas. É o ícone do encontro no poço de Jacó entre Jesus galileu e a mulher samaritana. Não podemos excluir a carne do ser humano, com suas “paixões, emoções, sentimentos, histórias concretas, perdão, imaginação, amor” que brotam de Jesus e na vida de Jesus. A literatura é capaz de nos tornar mais sensíveis, compassivos e misericordiosos.
Um grande bem
O mergulho na literatura, ao mesmo tempo que nos coloca em contato com muitas pessoas, nunca deixa de lado o que somos; então, a literatura suscita riqueza de vocabulário, imaginação, concentração e acalma o “estresse e a ansiedade”.
Ouvir a voz de alguém
Quando lemos, diz o Papa, aprendemos a “ouvir a voz do outro”, pois tocamos o coração e, assim, convencemos não tanto com doutrinas, mas com a força da Palavra divina que revela a presença salvadora de Deus que cura.
Uma espécie de ginásio de discernimento
Francisco pergunta sobre o sentido de lermos obras literárias. Ele mesmo responde ao dizer que a literatura nos educa no saber “tocar o coração das pessoas” para que elas se abram ao anúncio do Evangelho. Portanto, a “literatura invoca a Palavra de Deus”. Educa também ao discernimento, a saber separar o joio do trigo. O leitor é alimentado pela palavra que lê e, assim, cura a si mesmo.
Atenção e digestão
A literatura tem a função de ajudar a ruminar no interior do leitor o conteúdo e possibilita o melhor conhecimento de si mesmo. Sair da mesmice, da superficialidade e alimentar “o estomago da alma”, segundo um escritor do século XVII.
Ver através dos olhos dos outros
A arte de ler favorece a aprendizagem de ver o mundo com o olhar dos outros. Podemos dizer que a compreensão da realidade é o exercício do saber captar o que o outro consegue enxergar no cotidiano. Com isto, o leitor sai de si mesmo, deixa de ser autorreferencial.
O poder espiritual da literatura
A literatura rompe com a tentação de olharmos sempre para dentro de nós mesmos, de nossa subjetividade. O leitor assíduo compreende sua identidade e permite que, na palavra humana, transpareça a Palavra divina.
A carta do Papa é, assim, um passeio pela arte da leitura numa era em que a velocidade, as frases curtas do WhatsApp, Facebook e outras mídias não educam para o saber ler. É urgente resgatar o sabor da leitura dos textos e superar o acesso a resumos. Para isso, as novas gerações precisam recuperar a beleza do ato de ler, de se entreter com a literatura, inclusive para melhorar a própria linguagem, a homilia, a pregação e, enfim, a imaginação narrativa.
Leia
AQUI a íntegra da carta do Papa Francisco sobre a literatura na educação.