Memórias Biográficas

Cura prodigiosa

Em 1882, durante uma viagem de Dom Bosco ao sul da França, uma multidão busca o seu auxílio para a cura de doenças. Os acontecimentos que levaram a isso são descritos nas Memórias Biográficas de São João Bosco (vol. XV, p. 448-451).
Pe. Osmar A. Bezutte, SDB

Dom Bosco está no sul da França, no início de 1882.

Uma cura prodigiosa aconteceu com a filha da Marquesa Godemarie, de Lião. Levaram-na a Cannes, quase morta, esperando que lá a suavidade do clima lhe curasse, mas sem resultado. Nessa hora crítica, a enferma pediu a bênção de Dom Bosco, que também lhe deu uma medalha de Maria Auxiliadora. Recebê-la e começar a melhorar foi uma só coisa; para a festa de Maria Auxiliadora estava tão bem que veio agradecer Nossa Senhora no seu santuário de Turim.

Mas o fato que suscitou maior rumor é o seguinte: Dom Bosco, depois de almoçar com a família que o hospedava, foi visitar o orfanato do Sagrado Coração, onde, apenas entrou, esbarrou numa senhora que chorava copiosamente; a dor de dentes a atormentava fazia três dias. Dom Bosco deu-lhe a bênção e uma medalha de Maria Auxiliadora.

Permanecendo ali o necessário, deu uma passada pelas Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora, para fazer uma pregação. Ali encontrou toda a avenida tomada de carruagens... Abriu-se a porta de entrada, e eis um espetáculo singular. Uma multidão se precipitou aos pés de Dom Bosco, pedindo a sua bênção. Havia cegos, surdos, mudos, paralíticos, tísicos, doentes de toda espécie; ali se chorava, se ria e se gritava, e Dom Bosco abençoava. Mas por que toda essa aglomeração de gente na casa daquelas Irmãs? P. Ronchail, diretor da casa de Nizza, acompanhava Dom Bosco. A Superiora, aproximando-se dele, disse: “A Srta. Rohland está aqui em casa e deseja falar com Dom Bosco”. O mistério começava a se esclarecer; mas para nós foi preciso contar a história dos antecedentes.

Quatro dias antes...
Quatro dias antes, Dom Bosco estivera na Pensão Bel Air, que pertencia a protestantes, para visitar uma Srta. Rohland, polonesa, de 22 anos. Ela, seu irmão e uma senhora eram os únicos católicos que lá estavam. A pobrezinha havia dois anos que sofria muito da espinha dorsal e que não podia se mover e nem caminhar. Dom Bosco deu-lhe a bênção e sugeriu algumas orações a fazer por certo tempo, parece que até a festa de São Pedro. No momento de partir, disse-lhe: “A sua cura será proporcional à sua fé”.

“Mas eu tenho muita fé!”, respondeu ela. “Muito bem”, retrucou Dom Bosco, “se tem fé, ficará boa”.

Os protestantes, curiosos para saber por que um padre tinha entrado na sua casa, não demoraram a descobrir; de modo que riram muito da bênção, da esperada cura e da superstição católica. E não se tratava de gente simples; entre outros havia também um ministro evangélico.

Era uma quinta-feira, dia 17 de março. No sábado, a enfermeira que cuidava da doente e continuamente a assistia, muito cedinho ouviu barulho de passos no quarto. Correu para ver: era a enferma que passeava pelo quarto, apoiando-se por prudência numa bengala. A mulher gritou, tal foi a emoção que tomou conta dela. Ouvindo o grito, o primeiro a correr foi o ministro protestante, temendo que tivesse acontecido algum acidente com a enferma, e vendo-a mover-se sozinha para frente e para trás, ficou sem palavras. Em poucos minutos, todos os inquilinos do albergue se reuniram lá, boquiabertos, enquanto a senhorita, contente, sorria: “Estou curada”, repetia a todos que chegavam.

O P. Ronchail, com poucas palavras, relembrou as duas curas; Dom Bosco abaixou a cabeça e com as lágrimas nos olhos repetia: Dieu soit béni en toutes choses.

Retorno à casa das Irmãs
Dom Bosco celebrava precisamente naquela hora a Missa na casa das Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora. A jovem mandou o irmão chamá-lo, sem, porém, dizer nada do acontecido. A resposta foi que Dom Bosco devia partir para Nizza, mas que voltaria à casa das mesmas religiosas para pregar na segunda-feira, dia 21, às três da tarde. Naquela tarde, meia hora antes das três, a senhorita curada foi até as Irmãs, caminhando à vista de todos sem dificuldade. As pessoas não acreditavam no que estavam vendo; mas a notícia do prodígio já tinha se espalhado pela cidade, como também a informação de que, naquela tarde, Dom Bosco voltaria à casa das Irmãs: eis o motivo de tanta gente sadia e enferma que se tinha juntado diante da casa.

Dom Bosco, indo ao encontro dela, pareceu perturbar-se, e perguntou: “O que a senhorita faz aqui?”. “Eu vim agradecer-lhe a cura e ouvir sua pregação”, respondeu ela. “Não, não! Volte para casa. Talvez não esteja bem curada e poderia ter uma perigosa recaída. Não é prudente que fique por aqui”, retrucou Dom Bosco. “Mas se lhe digo que me sinto perfeitamente bem!”, insistiu ela. “Não tem medo de tentar a Deus?”, questionou ele. “Oh, quanto a isso, não se preocupe: ambos já o tentamos antes, eu e o senhor”.

Depois da pregação e da bênção, faltavam três quartos de hora para a partida. Dom Bosco foi de tal modo rodeado pela multidão que o P. Ronchail teve que pôr em ação todas as suas forças para arrancá-lo do meio daquela gente que se juntava ao seu redor. Dom Bosco, como que estonteado e sem fôlego, repetia em voz baixa: Dieu soit béni en toutes choses (Bendito seja Deus em tudo)!

Só Deus sabe como chegaram à estação! P. Ronchail teve apenas tempo para empurrá-lo para dentro de um vagão, e o trem partiu imediatamente. Dom Bosco ficou ainda certo tempo meio desnorteado. Um pouco refeito, perguntou: “O que aconteceu?” O P. Ronchail, com poucas palavras, relembrou as duas curas; Dom Bosco abaixou a cabeça e com as lágrimas nos olhos repetia: Dieu soit béni en toutes choses.

Assim, chegaram a Nice. O P. Rua atestou nos Processos de Canonização que, dois meses depois, viu a Srta. Rohland na festa de Maria Auxiliadora. Ela tinha vindo a Turim em uma peregrinação de gratidão, como prometera a Dom Bosco.

Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).

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