Juventude tem Pauta

A proximidade nos tempos de inteligência artificial

Queridos e queridas jovens, como os dias têm passado rápido! Há pouco tempo, iniciávamos o ano de 2024, e agora caminhamos para o final dele. E temos percebido que as inteligências artificiais ganham cada vez mais e mais destaque em nosso meio. Elas são uma realidade e nós precisamos aprender a lidar melhor com elas.
Me. Fernando Campos Peixoto, SDB / Foto: Antonio Diaz

As inteligências artificiais são máquinas, dispositivos ou sistemas pensados pela inteligência humana, que, de alguma forma, simulam ou reproduzem algo da própria inteligência humana. Muitas vezes se adaptam ao que gostamos ou ao que necessitamos. Os algoritmos estão a todo tempo tentando viver por nós, tentando nos impor alguma coisa, e, se não tomarmos cuidado, perdemos a oportunidade de viver, de fazer as nossas próprias escolhas, de mostrar como somos.

De fato, as inteligências artificiais nos oferecem grande ajuda. Os assistentes virtuais, por exemplo, podem nos ajudam a olhar as nossas casas enquanto estamos longe; podem nos oferecer um novo caminho, capaz de diminuir o tempo de trajeto de uma viagem. Os streamings de filmes e séries nos ajudam com o lazer e até mesmo com os estudos, já que neles existem grandes documentários que servem para o nosso crescimento intelectual. Inclusive indico o documentário O dilema das redes, que pode nos ajudar a compreender bem o nosso tema.

Redes sociais
Por tocar no assunto das redes, vamos falar das redes sociais. Podemos dizer que elas constituem no grande ápice das inteligências artificiais. Tornaram-se espaços privilegiados para a comunicação, para a resolução de problemas, para acabar um pouquinho com a saudade e, também, para aprendermos mais sobre a vida, sobre as pessoas.

Mas elas podem ser perigosas. Aí você, jovem, pode me dizer: e qual a novidade nisso? Eu digo que são muitas, porque a cada dia elas se reinventam. Se não nos atentamos, vamos nos tornando artificiais em nosso meio e em nossas relações. Posso dar alguns exemplos.

istock / Deagreez

As inteligências artificias são boas, desde que não roubem a nossa humanidade, o nosso “ser gente”.

Já saiu com alguém que ficou o tempo inteiro no smartphone, sem olhar sequer quem estava ao lado? Já conversou com alguém que estava envolto em seus fones de ouvidos e sequer prestou atenção no que você tinha para dizer? Já recebeu uma mensagem de aniversário em áudio ou texto de pessoas próximas que não te ligaram ou foram até você pessoalmente? Ainda, já fez interpretações equivocadas sobre o que você disse ou até mesmo o que você fez acerca de outra pessoa, por uma simples mensagem de aplicativo de texto?

Muitas vezes, vamos nos desumanizando sem perceber, sem nos darmos conta do que está acontecendo. Vamos nos tornando artificiais, sem vida e sem histórias. O mundo vai ficando apenas com os coloridos das fotos superproduzidas, enquanto o colorido da vida vai se esbranquiçando. As pessoas vão ficando cada vez mais distantes umas das outras, mesmo coabitando nos mesmos espaços.

Com isso, desejo ressaltar que não podemos deixar de viver as relações pessoalmente, de estarmos juntos, de conviver, de conversar, de partilhar, de ver o rosto do outro, de perceber suas alegrias e também suas tristezas, seus desafios e suas conquistas. Nada substitui o real sentido do estar presente de forma integral.

A importância da presença
Às vezes, jovens, estamos com as pessoas que mais amamos ao nosso lado, enquanto conversamos pelo smartphone com alguém desconhecido. Porque o mundo das inteligências artificiais também pode ser um mundo artificial, sem amor e sem compaixão, sem características humanas.

A relação é base fundante para o Cristianismo e para todos nós que nos entendemos cristãos. Jesus não quis viver sozinho, à parte, longe das relações. Jesus ia ao encontro, encarava as pessoas olho no olho, deixava que as pessoas se aproximassem. Fez e faz questão das relações. Aliás, não podemos negar que seus milagres só aconteceram por conta dos encontros, das relações vividas.

Você pode ser um milagre na vida de alguém. Por exemplo, num dia de aniversário, experimente estar junto do aniversariante, falar com ele olhando em seus olhos. Na sua casa, deixe as telas por alguns momentos e converse com alguém. Se na sua casa não tiver essa possibilidade, tente fazer no seu trabalho, no seu colégio, na sua universidade. Crie laços de amizades humanas. Laços que prezem pela presença e pelo contato.

As inteligências artificias são boas, desde que não roubem a nossa humanidade, o nosso “ser gente”. Disso não podemos nunca abrir mão. É bom ter pessoas que entendam os nossos sentimentos, que percebam quando não estamos bem. Mas isso só é possível no contato pessoal; por meio das redes sociais nem sempre conseguimos ver como o outro está verdadeiramente.

As fotos superproduzidas podem esconder os sentimentos reais de alguém. A mensagem de voz pode ocultar o estado de humor de alguém, as mensagens de textos podem esconder as sentimentalidades, sejam quais forem.

Por tudo isso, jovens, não permitam que as inteligências artificiais vivam em vocês ou por vocês. Deixem-se ser tocados pela humanidade, pelos sentimentos, pela presença ativa e de qualidade das pessoas. E sejam também presenças potentes na vida das outras pessoas. Façam a diferença na vida dos outros. Sua presença pode ser o milagre do amor de Deus na vida dos que estão mais sozinhos, dos que se acham esquecidos. Façam-se próximos em tempos artificiais. Que Deus os ajude sempre no caminho do encontro pessoal com as pessoas.

Baixe esta matéria em PDF

Reveja
Memórias Biográficas

A seguir
Dom Bosco Hoje

© 2024 Copyright - Boletim Salesiano Brasil