Dom Bosco está em Barcelona. É a noite de 9 para 10 de abril de 1886. Ele já está no crepúsculo de sua vida, mas com este sonho parece querer "voltar ao início", onde tudo começou: ele se conecta com o sonho de seus 9 anos — que ele quase esqueceu — mas que a Virgem Pastorinha o ajuda a lembrar.
Com a voz embargada e entre soluços, ele conta este sonho ao padre Miguel Rua, ao padre Durando e a Carlos Viglietti, seu jovem secretário:
“Eu estava perto de Castelnuovo, numa colina chamada Bricco del Pino (...). De lá, lancei meu olhar ao redor, projetando-o para o horizonte, mas, diante da minha retina, meu ouvido foi atingido pela comoção causada por uma multidão incontável de crianças (...) que corriam ao meu redor e diziam: ‘Esperamos por você, esperamos por você por muito tempo, mas finalmente você está aqui; agora você está entre nós e não o deixaremos escapar!’."
Novamente, os jovens assumem um papel admirável neste sonho!
A pastora, os cordeiros: o sonho dos 9 anos...
Dom Bosco não entendia nada e se perguntava o que aquelas crianças queriam dele; mas enquanto permanecia como que atônito no meio delas, viu um imenso rebanho de cordeiros conduzido por uma pastora. Depois que ela separou os jovens e as ovelhas, colocando-os em lados opostos, parou ao lado dele e perguntou: “Você vê tudo à sua frente?". “Sim, eu vejo”, respondeu Dom Bosco. “Bem, e você se lembra do sonho que teve quando tinha cerca de dez anos?”. “Oh, é muito difícil para mim lembrar! Minha mente está cansada, não me lembro bem agora”. “Fique tranquilo; reflita e você se lembrará”, diz a pastora.
Nossa Senhora refresca sua memória, o reconecta com sua experiência original... O que ele está “vendo” agora nada mais é do que o “desdobramento missionário” daquele aprendizado em que Ela mesma o iniciou com o tão conhecido Sonho dos 9 anos. Nunca como neste sonho Nossa Senhora falou tanto e guiou Dom Bosco.
A Mestra na arte de ver... o que não se vê
Então, fazendo os meninos se aproximarem de Dom Bosco, ela disse: “Agora olhem para lá, dirijam o olhar para lá; façam o mesmo e leiam o que veem escrito. Bem, o que vocês veem?”. “Eu vejo montanhas, colinas e, além, mais montanhas e mares”, falou Dom Bosco. Uma criança disse: “Eu leio: Valparaíso”. “Eu, Santiago”, disse outra. “Eu leio ambos”, acrescentou uma terceira. “Bem, comecem agora por aí e conhecerão a regra que os salesianos deverão seguir no futuro”, continuou a pastorinha.
Os olhos de Dom Bosco estão cansados, ele está quase cego, não consegue mais enxergar com clareza. Agora, são as crianças que o ajudam a enxergar: são as pupilas dos seus olhos.
A linha entre Pequim e Santiago
A pastorinha continua guiando o olhar das crianças: “Agora, virem-se para cá, tracem uma linha de visão e olhem”. “Vejo montanhas, colinas, mares...”, diz Dom Bosco. E os jovens forçaram os olhos, exclamando em coro: “Lemos Pequim”. Dom Bosco viu então uma grande cidade. Era atravessada por um rio muito largo, sobre o qual haviam sido construídas algumas pontes muito grandes. A pastorinha prossegue, como uma professora: “Bom, agora tracem uma linha de uma ponta à outra, de Pequim a Santiago, com o centro no coração da África, e vocês terão uma ideia exata do quanto os salesianos devem fazer”.
Dom Bosco contempla a geografia do globo nas áreas indicadas por Maria: uma área de mais de 20.000 quilômetros, para projetar a obra missionária de seus salesianos. Mas ele sente a distância tão vasta, o plano tão irrealizável, e se sente tão impotente...
Aumentar o número de missionários e casas de formação
“Mas como podemos fazer tudo isso? As distâncias são imensas, os lugares difíceis e os salesianos são tão poucos!”.
“Não se preocupe. Você não vê cinquenta missionários formados lá? E além, você não vê mais, e muitos mais? Trace uma linha de Santiago até a África Central. O que você vê?” “Dez centros missionários”, responde Dom Bosco. “Ótimo. Esses centros que você vê serão casas de estudo e noviciados dedicados à formação de missionários que trabalharão nessas regiões. E agora vire para cá. Aqui você verá outros dez centros, do coração da África até Pequim. Essas casas também fornecerão missionários para todas essas outras regiões. Há Hong Kong, há Calcutá e, mais adiante, Madagascar. Em todas essas cidades e em outras, haverá numerosas casas, colégios e noviciados”.
Dom Bosco persiste em suas objeções...
Dom Bosco escutava enquanto também observava tudo aquilo atentamente, e então disse: “E onde poderemos encontrar tanta gente? Como poderemos enviar missionários para esses lugares? Nesses países, há selvagens que se alimentam de carne humana; há hereges e perseguidores da Igreja, o que poderemos fazer?”.
Maria é a resposta
“Olhe, você deve usar toda a sua boa vontade. Você só precisa fazer uma coisa: recomendar aos meus filhos que cultivem constantemente a virtude de Maria”. “Bem, sim; acho que entendi. Vou repetir suas palavras a todos”.
Dom Bosco queria continuar falando, mas a visão desapareceu; o sonho havia acabado.
Ficamos com um sentimento de profunda emoção e ternura. Dom Bosco, quando criança e quando velho, é sempre guiado por Maria. Ela é a Mestra. E a missão que ela lhe confiou foi, é e será a salvação dos jovens mais pobres e necessitados de todos os povos da terra. Maria o tornou missionário! Maria, hoje, quer nos tornar missionários também!
Para a celebração dos 150 anos da Primeira Expedição Missionária Salesiana, o padre Luis Timossi, SDB, preparou uma série de artigos para os Boletins Salesianos de toda a América, comentando os sonhos missionários de Dom Bosco.
Clique nos títulos para abrir os outros artigos:
Missionários com rosto alegre, precedidos por um grande grupo de meninos
De trem, com o amigo Luís, percorre toda a América do Sul
Dom Bosco viajou de avião quando ainda não tinha sido inventado….
África, Austrália, China, Oceania…