Memória e História

Presença missionária salesiana entre os povos indígenas

Com informações: Arquivo Boletim Salesiano, MSMT, Inspetoria São Domingos Sávio, Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia

O sonho de Dom Bosco, de que seus missionários estariam entre os povos indígenas da América do Sul e que seu trabalho se desenvolveria com base na amizade e no afeto, se tornou realidade no Brasil pouco depois da chegada dos salesianos a Cuiabá, no Mato Grosso, em 1894. Eram cinco jovens missionários, coordenados pelo bispo dom Luís Lasagna, que iniciaram as atividades com um colégio e a Paróquia de São Gonçalo do Porto.

©Vatican Media - Download e reprodução proibidos
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Infelizmente, dom Lasagna faleceu em um desastre ferroviário em 1895. Coube então a dom Antônio Malan dar continuidade ao projeto missionário salesiano, iniciado no mesmo ano entre o povo Boe-bororo, com a fundação da Colônia Teresa Cristina. Desde o início, a ação missionária salesiana com os povos indígenas foi realizada em conjunto, pelos Salesianos de Dom Bosco (SDB) e as Filhas de Maria Auxiliadora (FMA), que até hoje atuam em parceria.

Com os Boe-bororo e os Xavante em Mato Grosso
Embora o trabalho com os Boe-bororo tenha sido interrompido durante alguns anos, foi retomado em 1902 com a fundação da Colônia Sagrado Coração, atualmente Terra Indígena de Meruri, município de Barra do Garças, MT. O local se tornou um símbolo da luta pelos direitos indígenas, sendo ali que o padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo foram martirizados em 1976, ao defenderem a demarcação das terras indígenas.

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A ação missionária salesiana, sempre conjunta entre os SDB e as FMA, se expandiu com o povo Xavante, nas colônias Sangradouro, em Primavera do Leste, MT, fundada em 1906, e São Marcos, em Barra do Garças, iniciada em 1958. E há também atualmente a Paróquia Pessoal São Domingos Sávio, em Nova Xavantina, MT.

Nas missões de Mato Grosso, os salesianos são responsáveis pelas celebrações, catequese e visitas às casas, além da formação dos agentes de Pastoral indígenas. Embora não sejam mais responsáveis diretos pelos cuidados de saúde e educação, o que acontecia até a década de 1990, salesianos e salesianas continuam, indiretamente, com essas atividades. São eles e elas que realizam ações de prevenção a doenças, compra e oferta de alguns medicamentos, cuidado com a segurança alimentar e viabilidade para a ida de voluntários às aldeias. Nas escolas, hoje sob a responsabilidade direta de educadores indígenas, os missionários auxiliam na formação de professores e na acolhida a pesquisadores e estudantes universitários. É feito ainda um importante suporte na área da agroecologia e a perfuração de poços artesianos, o que ajuda os indígenas na subsistência.

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As irmãs FMA têm a sede junto com os salesianos em São Marcos, e desenvolvem suas atividades em itinerância, passando um tempo em cada uma das presenças missionárias. Além do apoio nas atividades de pastoral, catequese, educação e saúde, um dos focos das irmãs é o trabalho com as mulheres indígenas, oferecendo oficinas e desenvolvendo a autoestima das jovens.

Ao longo da história, foram muitos os salesianos e salesianas que se destacaram na ação junto aos povos indígenas de Mato Grosso. Entre os exemplos, estão o padre Gonzalo Ochoa e seu trabalho missionário entre os Boe-bororo; o padre Georg Lachnitt, que, entre diversos livros e estudos sobre a cultura indígena, é o autor da primeira tradução do Missal Romano para a língua xavante; e o padre Bartolomeo Giaccaria, que faleceu em junho de 2025, aos 92 anos de idade, e dedicou toda a sua vida ao cuidado com os indígenas Xavante, em especial na área da saúde.

A chegada à Amazônia

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O Estado do Amazonas é geograficamente muito amplo e, tradicionalmente, é dividido por seus grandes rios. Em 1914, a Santa Sé confiou aos Salesianos de Dom Bosco (SDB) a Prefeitura Apostólica do Rio Negro e os primeiros salesianos chegaram à região já no ano seguinte, estabelecendo a sede para a nova missão em São Gabriel da Cachoeira, a cerca de 850 quilômetros de Manaus. Logo se espalharam por toda a região, abrindo oratórios, escolas, centros para a juventude e paróquias, sem que fosse deixada de lado a presença missionária entre os indígenas.

As Filhas de Maria Auxiliadora chegaram à região em 1923, instalando sua primeira casa também em São Gabriel da Cachoeira. Elas foram essenciais para atender as meninas indígenas e auxiliar na evangelização e na educação, complementando o trabalho dos salesianos.

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Com a fundação de escolas, oratórios, paróquias e centros de formação, a missão se tornou um agente de transformação social. Atualmente, na região do Alto Rio Negro, os salesianos da Inspetoria São Domingos Sávio atuam com 23 etnias indígenas, em colaboração com as irmãs da Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia, nas presenças de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Iauaretê. Em Maturacá e Marauiá, os SDB trabalham exclusivamente com o povo Yanomami. Um dos aspectos mais importantes dessa ação missionária na área Pastoral é a itinerância, com as visitas às comunidades mais distantes. Nas questões sociais, a atuação salesiana é bastante voltada para a formação e o fortalecimento dos jovens indígenas como protagonistas e o apoio às lideranças.

Exemplo missionário – Irmã Fermina Lopez, FMA
A irmã Fermina Lopez Villa, FMA, é natural de Castilla, na Espanha, e há mais de 50 anos é missionária entre os povos indígenas do Rio Negro. Releia a seguir a entrevista concedida em 2020 aos leitores do Boletim Salesiano sobre sua experiência de vida missionária e religiosa, agora vivida em Barcelos, AM.

Eu vim da Inspetoria Santa Teresa de Jesus, de Madri, na Espanha. Cheguei em Manaus no dia 12 de outubro de 1969, e desde então fiquei esses mais de 50 anos pelas nossas obras do Rio Negro. Minha vocação vem desde que era pequena e participava do grupo da Infância Missionária na paróquia. Por lá passavam muitos missionários espanhóis, de várias congregações, vindos da África e da América, e a gente escutava suas histórias, cantava seus cantos.

Aqui na região do Rio Negro, desde a fronteira com a Venezuela e a Colômbia até aqui pertinho de Manaus, somos uma presença missionária e salesiana muito forte. São muitos alunos e ex-alunos, muita gente que guarda lembranças do nosso trabalho na educação. Além da escola, temos esse acompanhamento, encontros com as crianças e os jovens, e uma participação importante na parte social.

Barcelos tem 12 bairros, em cada um tem uma capela, um campo esportivo, um centro social. Tudo isso foi feito pelos salesianos e salesianas, e se conserva na memória e na vida do povo. Então a importância das missões salesianas está no nosso testemunho, nossa colaboração com os pobres, nesse acompanhamento que fazemos.

O Sistema Preventivo de Dom Bosco, aprendido pelos ex-alunos, é levado também para as outras escolinhas, no interior, ao longo dos rios, pelos professores que são ex-alunos. Quando vêm para a cidade, eles nos pedem livros, materiais, a carta do Reitor-mor, que chega a muitos e muitos professores que tentam continuar o espírito salesiano no trabalho do dia a dia.

Exemplo missionário – Padre Bartolomeo Giaccaria, SDB
Em 2023, padre Bartolomeo Giaccaria, nascido na Itália, concedeu uma entrevista ao jornalista Euclides Fernandes na qual fala sobre como descobriu sua vocação missionária e seus mais de 60 anos de missão no Brasil. Relembre alguns trechos a seguir.

Como o senhor descobriu sua vocação ao sacerdócio?
Padre Bartolomeo Giaccaria – A vocação sacerdotal eu não sei, mas eu descobri desde pequeno que tinha uma vocação, um desejo de ser missionário. A coisa principal era ser missionário. Eu via as revistas de cunho missionário que chegavam em casa e ficou marcada em mim aquela ideia. Nunca havia falado sobre isso para os outros, apenas tinha esse desejo. Isso foi desde muito pequeno, quando comecei a ler, mas depois, um tio meu que era sacerdote me perguntou se eu não queria ser Salesiano. Além disso, eu tinha três tias que eram Filhas de Maria Auxiliadora e pude conhecer muitos Salesianos.

O que mais o encanta na atividade missionária?
Pe. Giaccaria – Há muitas dificuldades, mas tem o contato com as pessoas, com a natureza. Eu aprendi mais sobre Teologia olhando o cerrado, olhando as flores, olhando os animais. Sair de uma realidade para outra realidade muito diferente, ter esse contato aberto com a natureza, com as pessoas, ajuda muito a trocar a mentalidade. Eu mudei muito o meu modo de falar, de pensar. Quando conheci os Xavante, eu pensava: “Tenho que convertê-los”, mas depois percebi que primeiro eu tinha que converter a mim, para depois anunciar às pessoas. Me ajudou a entender as pessoas e o modo de ser dos outros.

O que o senhor considera importante para um sacerdote hoje? Qual conselho daria a um rapaz que deseja ser padre?
Pe. Giaccaria – Ser aberto às pessoas. Se deixar conhecer por outras pessoas e aceitá-las. Eu aconselharia que ele pense bem a própria vocação e que se lembre sempre de que é necessário se doar aos outros. Se um padre não é missionário, ele não é padre. Missão quer dizer “levar alguma coisa para os outros”, levar Jesus, levar outras pessoas.

Leia AQUI a entrevista completa

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