A Igreja é uma instituição que sabe ouvir. No entanto, há fragilidades que precisam ser trabalhadas para manter a tenda da sinodalidade, com as cordas esticadas e as estacas firmes. A arte de saber ouvir requer uma abordagem cultural que supõe o caminhar com os outros (DEC, 53). No entanto, no ouvir desde as culturas, surge a questão da diversidade que, se não compreendida, com a flexibilidade das cordas pode gerar polarizações. As polarizações e divisões vão na contramão da catolicidade, porque o católico é universal.
Na síntese brasileira, três elementos aparecem de forma bastante forte na questão do saber ouvir: o enfraquecimento do protagonismo dos leigos e o afastamento de muitos; o reforço das diversas formas de clericalismos; e a fragmentação comunitária.
Já a síntese universal chama a atenção sobre o clericalismo, que é visto como pobreza espiritual; contudo, não aborda a questão como atitude anticlerical (DEC, 58). E nós, do carisma salesiano, como nos comportamos diante desses fatos? O protagonismo dos cristãos leigos é apreciado e acolhido? Os adolescentes e jovens são ouvidos em suas buscas de sentido da vida? Somos, como núcleos animadores, como Salesianos de Dom Bosco e Filhas de Maria Auxiliadora, capazes de fomentar a participação?
Ouvir com esperança
As 112 contribuições que chegaram a Roma são francas, profundas e não semeiam pessimismo. Ficou evidente que necessitamos de lideranças que saibam estender a tenda, esticar as cordas e fixar as estacas, sempre com disponibilidade de sair em caminho quando as circunstâncias assim o exigirem (DEC, 59).
O Povo de Deus tem talentos que não podem ficar enterrados, que precisam ser multiplicados. A liderança não é uma ameaça no caminho e sim um esforço comum, no qual todos buscam a mesma meta com suas habilidades. Ouvir com esperança, no caminho sinodal do carisma salesiano, é ter, como Dom Bosco, a capacidade de projetar o futuro com os pés no caminho e nunca nas nuvens.
Ouvir com a cultura da diversidade
Tanto na síntese brasileira como na universal, a presença da mulher no bojo da cultura contemporânea aparece como uma nova cultura a ser cultivada, mudando práticas e hábitos (DEC, 60). É fato “que as mulheres amam profundamente a Igreja. Mas muitas sentem tristeza porque a sua vida não é bem compreendida, enquanto o seu contributo e os seus carismas não são sempre valorizados” (DEC, 61). As mulheres estão envolvidas em vários setores de missão da Igreja, tanto nas dioceses, como nas paróquias e comunidades. Porém, na hora de decidir, os homens, em minoria, são aqueles que opinam, decidem e depois cobram. É preciso romper a bolha do medo, da desigualdade e do machismo, dando às mulheres o protagonismo que brota do batismo. A Igreja deve continuar o processo de repensar a presença da mulher nas estruturas de governo e organismos eclesiais, do diaconato feminino e, inclusive, da ordenação ao ministério presbiteral (DEC, 64).
Ouvir com a contribuição da Vida Religiosa Consagrada
A vida religiosa, com a diversidade de carismas, fala à Igreja de diferentes pontos da missão. A laicidade consagrada passa por uma fase crítica porque o clerical se impõe, tornando as Congregações masculinas fechadas em seus âmbitos de poder clerical, enfraquecendo a presença de irmãos e considerando as religiosas apenas como mão de obra barata (DEC, 63). Esquece-se que a VRC tem práticas sinodais em seus conselhos comunitários, capítulos provinciais e gerais, participação nas comunidades paroquiais e territórios de missão. Requer-se, portanto, uma nova chave de compreensão ministerial (DEC, 67), que vem da dignidade batismal.
No carisma salesiano, a presença da mulher é contundente. Mulheres jovens e adultas, nas diversas profissões, nos grupos da Família Salesiana, inclusive na gestão de obras, então, perguntemo-nos: como, à luz de Dom Bosco, que soube interagir com a genialidade feminina de tantas benfeitoras e colaboradoras, inclusive sua Mãe Margarida, podemos no atual contexto sinodal resgatar a ação conjunta de homens e mulheres em função da ação carismática salesiana?
O Papa Francisco convocou toda a Igreja a percorrer um caminho preparatório, nos anos de 2021 a 2024, para o Sínodo que terá como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. O Sínodo será realizado em duas sessões, a primeira de 9 a 24 de outubro deste ano e a segunda, em outubro de 2024.
Para auxiliar essa caminhada, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) preparou um site dedicado ao Sínodo:
www.cnbb.org.br/sinodo2023. Entre outros materiais disponíveis no site, há uma explicação sobre o que significa a “sinodalidade”: “é o esforço coletivo e a busca contínua de aprendermos a ‘caminhar juntos’ como irmãos e irmãs que somos. É um jeito de ser Igreja pelo qual cada pessoa é importante, tem voz, é ouvida, capacitada e envolvida na realização da missão”.