Alguém perguntou a Dom Bosco de que modo, sozinho e em tão pouco tempo, tivesse encontrado fundos para fazer frente às ingentes despesas que sem dúvida teve que enfrentar:
– A Divina Providência!, exclamou ele, levantando os olhos e as mãos para o céu, e narrou um fato acontecido com ele poucos dias antes, em Turim.
Estava para chegar de Roma o empresário de quem dependiam os trabalhos da igreja do Sagrado Coração, e vinha para cobrar 15 mil liras. A soma devia estar infalivelmente pronta para as 5 horas da tarde. Como fazer, se às 4h30 não havia nada em caixa? Conforme costumava agir em tais circunstâncias, Dom Bosco mandou alguns jovens rezarem diante do Santíssimo Sacramento, e eis o que aconteceu.
Chega ao Oratório um sacerdote forasteiro que pede para falar com Dom Bosco. Levado até ele, conta-lhe que, à força de economias, tinha conseguido guardar 8 mil liras, decidido a deixá-las, depois de sua morte, para Dom Bosco; e que um seu amigo estava decidido a fazer o mesmo com 7 mil liras. Entretanto, ao combinar reciprocamente esse plano, tinham pensado ser mais meritório entregar logo o dinheiro a Dom Bosco em vez de mantê-lo ocioso. E o padre forasteiro continuou:
– Por isso, essa manhã estive com meu amigo para apanhar as ditas 7 mil liras e juntá-las com as minhas e no fim da semana entregá-las ao senhor. Mas, entre uma coisa e outra, ao retornar para casa e guardar o dinheiro no cofre, de repente faço tudo no avesso: apanho também o meu dinheiro e, distraído, vou para a estação. Lá me pergunto: Mas o que estou fazendo aqui? Não é hoje o dia de ir a Turim, mas sábado que vem! Dei de ombros e acrescentei: Vamos assim mesmo, é sempre melhor antes do que depois. E agora, aqui estão as 15 mil liras.
Dom Bosco, sem dizer uma palavra, faz um gesto com a mão para o padre, pede-lhe para esperar um instante e manda chamar o empresário. Este vem e imediatamente solicita o pagamento. Dom Bosco lhe responde:
– Veja, eu não tenho as 15 mil liras; entretanto, está aqui um bom pároco que vai entregá-las em meu nome.
Dizendo isso, voltou-se para o sacerdote e o convidou a repetir o que ele tinha contado um pouco antes. O empresário, o pároco e Dom Bosco não puderam conter as lágrimas.
Assim nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:
“O testemunho da Escritura é unânime: a solicitude da divina providência é concreta e direta, toma cuidado de tudo... Com vigor, os livros sagrados afirmam a soberania absoluta de Deus no curso dos acontecimentos... ‘Muitos são os projetos do coração humano, mas é o desígnio do Senhor que permanece firme’ (Pr 19,21). Aos homens, Deus concede até de poderem participar livremente de sua providência, confiando-lhes a responsabilidade de ‘submeter’ a terra e de ‘dominá-la’... Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, por suas ações, por suas orações, mas também por seus sofrimentos” (cf. CIC 303-308).
Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).