Juventude em Pauta

O esporte nos educa para a solidariedade

É difícil perder, né? Estamos inseridos e fazemos parte de uma sociedade em que somos constantemente submetidos à busca de uma perfeição extrema, impossível aos seres humanos.
Me. Fernando Campos Peixoto, SDB / Foto: istock - nirat

Somos ensinados que é preciso ganhar, ganhar sempre, a qualquer custo. Tendemos para uma instrução que enxerga o outro como inimigo, um verdadeiro adversário que precisa ser aniquilado. Isso acontece na escola, na faculdade, no nosso ambiente de trabalho, isto é, acontece na vida. Você já percebeu isso?

Nós vamos nos desumanizando porque acreditamos que é urgente “competir para progredir”. É o que diz um grande estudioso português da área da educação chamado Licínio Lima. O problema não está na competição em si. Isso faz mesmo parte do nosso sistema de vida. O problema está nas artimanhas e recursos que utilizamos para não perdermos a competição. Vale recordar que somos cristãos, e nem tudo vale para ganhar. Vou contar uma pequena história para vocês.

João Bosco e o saltimbanco
Quando Dom Bosco ainda era estudante na cidade de Chieri, na Itália, ouviu falar de um saltimbanco (alguém com habilidades artísticas), colocado nas alturas pelas pessoas, pois havia atravessado toda a cidade, de um extremo ao outro, em dois minutos e meio. Formidável, né? Mas, foi aí que entrou na história o jovem João Bosco. Ele disse que queria competir com o saltimbanco e que ganharia. O saltimbanco ouviu a intenção do estudante João Bosco e o desafiou, apostando dinheiro, inclusive. O primeiro desafio: uma corrida. João Bosco ganhou. O segundo desafio: um salto, e João Bosco ganhou novamente. Terceiro e quarto desafios: um jogo de varinha mágica e uma subida na árvore. João Bosco ganhou todas e a multidão não se conteve em alegria. Em compensação, o saltimbanco perdeu todo o seu dinheiro e a sua fama.

João Bosco percebeu que o homem se sentiu humilhado. Notou um irmão que, acima de qualquer competição, era gente como ele. E por isso disse: “Compadecidos da tristeza do pobrezinho, dissemos-lhe que lhe restituíamos o dinheiro caso aceitasse uma condição, isto é, que nos pagasse um almoço no albergue”. O saltimbanco pagou o almoço e recuperou muito mais que a metade do dinheiro apostado.

A pequena história nos faz perceber muitos detalhes: em uma competição nem todos ganham, ou seja, perder faz parte da vida. Eu posso ganhar sem me esquecer que o outro é meu irmão ou minha irmã (Mt 23,8). A solidariedade pode fazer parte de qualquer competição, de qualquer esporte. Ela cabe em qualquer parte de nossa vida. Solidariedade é uma manifestação de apoio ao outro num momento difícil e/ou de necessidade, é um ato de percepção de que nenhum de nós é mais importante que o outro, mas que caminhamos juntos, na construção de um mundo mais bonito.

istock / Yuri Arcurs

Podemos competir, mas trazendo no coração que nem sempre é mais importante ganhar, mas sim vivenciar a experiência.

Trabalho em equipe e solidariedade
A competição e o esporte nos capacitam para o trabalho em conjunto, para percebermos o outro que caminha ao nosso lado, para a realização de um trabalho em união, em sinergia. Um time de futebol, de vôlei, de basquete, não ganha se cada jogador trabalhar apenas na individualidade. Um zagueiro precisa de um lateral, assim como precisa de um bom goleiro, para atingirem o objetivo do jogo de futebol. O armador precisa do ala e do pivô para acertar a cesta no jogo de basquete. Num time, a solidariedade tem de estar presente, tem de estar em primeiro lugar para que a vitória seja alcançada. Se cada jogador joga apenas para si, os passes se perdem e o objetivo nunca é alcançado.

Iniciei o texto ressaltando que perder é difícil. Não é fácil mesmo. Mas é essencial notar o quanto evoluímos a cada vez que perdemos e o que nós aprendemos com tudo isso. É importante notarmos que também somos frágeis, não somos perfeitos, só Deus o é. Querer vencer tudo e todos, querer levar sempre a vitória e a vantagem, é ser prepotente, é se colocar acima da humanidade. E quando nos colocamos nesse pedestal, a queda é mais dura. Não somos máquinas, somos jovens, pessoas em construção. Ainda estamos aprendendo a viver e a conviver neste mundo.

Na nossa escola, na nossa faculdade, no nosso ambiente de trabalho, podemos contar com o outro, nem tudo se resume a competição. Podemos utilizar sua sabedoria e sua experiência para o nosso crescimento pessoal. Não nos esqueçamos que aquele que caminha com você, ao seu lado, também é gente. Também merece ser acolhido e respeitado.

Vamos nos lembrar de Dom Bosco em nossa vida. Podemos competir, mas trazendo no coração que nem sempre é mais importante ganhar, mas sim vivenciar a experiência. Humanizar as relações: de fato, a competição e o esporte saudável podem nos humanizar cada vez mais, podem nos ajudar a perceber a importância do outro. Podem nos impulsionar a estudar mais, não para concorrer com o outro, mas para adquirir um bom repertório cultural, um importante crescimento intelectual. Podem nos fazer desabrochar para a realização ideal de nosso trabalho; não para derrubar o outro, mas para não ser um profissional medíocre.

Vamos nos solidarizar cada vez mais. O esporte pode nos ajudar nisso. Pode nos educar para uma solidariedade realizada na vida e em todos os ambientes que frequentamos. Vamos lembrar do que Jesus nos disse: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Que Deus inspire cada dia mais para a prática solidária em nossa vivência.

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