Salesianidade

As práticas afetuosas de Dom Bosco e o Oratório como forma de cuidado

Verdadeiramente acolhedor, Dom Bosco era amoroso e cuidadoso, apresentando em meio a tudo isso a sua responsabilidade e sua autoridade paternal.
José Cleudo Matos Cardoso

Neste ano, celebramos o bicentenário do Sonho dos 9 Anos de Dom Bosco. Neste sonho, vemos o protótipo do oratório como forma de cuidado por meio da cena com aqueles meninos que brigavam; mas, que depois, transformavam-se em cordeiros. Nessa narrativa, aparecia um homem de aspecto varonil e luminoso que dizia: “Não é com pancadas, mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses teus amigos”. Vemos nesta fala a importância da afetividade que estaria presente na tratativa de Dom Bosco para com aqueles jovens, por meio do cuidado, da alegria e da amabilidade.

A afetuosidade de Dom Bosco por meio da amorevolezza
A afeição de Dom Bosco era uma maneira de imitar Cristo, o Bom Pastor. Nas Memórias Biográficas I afirma-se: “Tudo em Dom Bosco é humano”. As práticas afetuosas para Dom Bosco, numa proposta de amorevolezza, eram construídas numa relação de amizade e de confiança; ele estava sempre presente com o jovem, tocando-lhe o coração. De acordo com Edmundo Vechi, em seu livro Espiritualidade Salesiana: “Ao afeto, como traço da humanidade, deve-se acrescentar em Dom Bosco a capacidade de amizade [...]. A amizade será um tema da sua pedagogia”.

Verdadeiramente acolhedor, Dom Bosco era amoroso e cuidadoso, apresentando em meio a tudo isso a sua responsabilidade e sua autoridade paternal. Assim sendo, Dom Bosco via o cuidado como uma forma de amparo. O autor Tarcísio Scaramussa, em sua obra O sistema preventivo de Dom Bosco, afirma: “A amorevolezza transformava a relação educativa numa relação filial e fraterna”.

A respeito do oratório como prática de cuidado, o encontro entre Dom Bosco e seus jovens era, muitas vezes, marcado pelas necessidades e angústias que eles traziam.

Dom Bosco, em suas práticas afetuosas, falava a linguagem do coração. Nesse sentido, o saudoso São João Paulo II, na Juvenum Patris (1988), afirma: “A arte de conquistar o coração dos jovens, para os estimular, com alegria e satisfação, para o bem [...]”. Portanto, as práticas de Dom Bosco, por meio da amorevolezza, nos mostram que o amor deve estar presente, fazer com que o outro saiba que é amado e se sinta amado; corrigindo-o, se necessário, tendo em vista o seu crescimento, para, logo, em seguida, se transformar numa espiritualidade da amizade com Jesus, valorizando a oração, a Palavra e a Eucaristia.

As práticas de cuidado de Dom Bosco no oratório
O oratório de Dom Bosco era um ambiente intencionalmente pedagógico e cheio de afetividade para acolher seus jovens, configurando-se como forma de cuidado, pois havia traços de um clima familiar. Dessa forma, o oratório era receptivo e acolhedor, despertando no jovem a possibilidade de ampliar suas expressões criativas. O cuidado com o próximo, por meio dessa vivência relacional, colabora diretamente na construção do ser do outro. Todo cuidado é um cuidado com a vida!

Dom Bosco criou no seu oratório um ambiente acolhedor, como nos lembra Edmundo Vechi, no livro Espiritualidade Salesiana: “Um ambiente amplo, positivo, rico de propostas, capaz de acolher muitos jovens e oferecer-lhes uma experiência positiva de convivência, responsabilidade, trabalho, vida de fé”. Assim, os jovens acolhidos tinham proteção, carinho e atenção. Dessa maneira, as práticas de cuidado no oratório vão confirmando em Dom Bosco a sua afetuosidade e sua prática educativa.

Sobre a acolhida de Dom Bosco, Edmundo Vechi, 8º sucessor de Dom Bosco, acentua: “O que tem valor é a acolhida humana e pessoal, expressada mediante gestos sensíveis de aceitação”. Os encontros de Dom Bosco são caracterizados pela acolhida e profundidade de sentimentos afetuosos, como foi com Bartolomeu Garelli, Miguel Magone, Francisco Besucco, dentre outros. Um encontro que sempre deixava marcas e despertava confiança.

A respeito do oratório como prática de cuidado, o encontro entre Dom Bosco e seus jovens era, muitas vezes, marcado pelas necessidades e angústias que eles traziam. De acordo com o Tarcísio Scaramussa: “Para alguns jovens, era necessário pensar até nas condições imediatas e elementares: prover o pão, a roupa, o alojamento [...], que os defendesse da ociosidade, do vício e da insegurança social”. Desse ponto de vista, vemos em Dom Bosco uma pessoa que se preocupa com as condições imediatas dos jovens, num intuito de provimento e de cuidado urgente com as necessidades básicas para que a vida deles fosse assegurada.  

Neste mundo contemporâneo, marcado pela falta de cuidado e da negação diante do outro, Dom Bosco se apresenta como modelo de práticas afetuosas e de cuidado. O seu jeito acolhedor diante das diversas necessidades dos jovens carentes que chegavam até ele mostra-nos que, por meio do seu gesto, as relações humanas podem ser pautadas por compaixão, solicitude, amparo, resultando em vinculação, empatia e hospitalidade; fortalecendo os valores fundamentais para vida, baseados numa caridade pastoral, tendo Cristo, o Bom Pastor, e Maria, Mãe Auxiliadora, como modelos de cuidado para com a vida.

José Cleudo Matos Cardoso é psicólogo, especialista em Salesianidade e Teólogo pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB

Baixe esta matéria em PDF

Reveja
União Pela Vida

A seguir
Publicidade

© 2024 Copyright - Boletim Salesiano Brasil