Neste artigo voltaremos o olhar para três pessoas que representaram, à luz da fé, sinais divinos na vida de Dom Bosco e que o ajudaram a descobrir o que Deus queria (Oratório) e como o queria (com estilo popular e familiar). Os diálogos mencionados aqui podem ser encontrados nas Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, obra escrita pelo próprio Dom Bosco.
Padre José Cafasso (1811-1860)
Dom Bosco o conheceu provavelmente no ano de 1830, durante a festa da Maternidade de Nossa Senhora, na localidade de Murialdo. Nesse primeiro encontro, José Cafasso era um jovem clérigo, “de pequena estatura, olhos cintilantes, aparência afável, rosto angélico” e estudante do 1º ano de Teologia. Ordenado sacerdote em 1833, entrou no Convitto Ecclesiastico (uma espécie de formação continuada para os jovens padres) em 1834, onde desenvolveu a atividade de confessor e formador de sacerdotes e leigos, além de oferecer apoio à catequese e aos oratórios.
Após a ordenação sacerdotal, em 5 de junho de 1841, Dom Bosco tinha deixado de lado três ofertas de trabalho pastoral para ir ao Convitto, por conselho do padre Cafasso. Passados três anos de formação, com 29 anos, ele deveria optar pela dedicação em um setor específico do ministério sagrado, ou seja, teria que escolher um cargo. Em uma conversa entre Dom Bosco e o padre Cafasso, fica evidente o tema do discernimento e revela-se o coração de Cafasso e o seu zelo pastoral. Dom Bosco, por sua vez, lhe abre o coração. E o que há nele? Os jovens: “Minha propensão é ocupar-me com os jovens. Mas faça comigo o que quiser; eu conheço a vontade do Senhor em seu conselho”. Eis aí uma chave para o verdadeiro discernimento espiritual: a vontade de Deus.
Teólogo Borel (1801-1873)
O exemplo de vida de João Batista Borel, conhecido na história salesiana como Teólogo Borel, é inspirador. Foi rezando a missa no Palácio Real que ele conheceu Tancredi de Barolo, um dos principais colaboradores do rei e esposo da Marquesa Barolo. Em 29 de dezembro de 1840, foi nomeado diretor espiritual do Refúgio da Marquesa Barolo, cargo que ocupou até o fim da sua vida. Dom Borel renunciou às suas funções na Corte em 1841 para se dedicar a Dom Bosco e seus jovens na periferia de Turim, que abrigava “bandos perigosos e reprimidos de crianças de rua, vagabundos e criminosos considerados rebeldes ou maus”. Ele ajudou Dom Bosco a oferecer o que os jovens daquele lugar não tinham: uma família que os protegesse; um encontro com Deus; amigos; formação e um emprego.
O Teólogo Borel foi para Dom Bosco uma referência determinante, um defensor do trabalho e da missão oratoriana, uma importante coluna do Oratório inicial. Borel foi um mestre em evangelizar sempre, em qualquer lugar e de forma muito concreta, respondendo a situações reais mesmo em espaços pequenos. Dom Bosco repetia constantemente que dez bons padres não fariam o bem que o Teólogo Borel fazia!
Marquesa Barolo (1785-1864)
Nasceu no Castelo Maulévrier, em Vendée (França), no dia 26 de junho de 1786. Em Paris, frequentou a corte imperial e conheceu seu futuro marido, Carlo Tancredi, Marquês Falletti di Barolo, um nobre de Turim.
A presença da Marquesa Barolo na vida de Dom Bosco, com o trabalho compartilhado junto às meninas do Refúgio, mostra como Deus acompanha servindo-se de contrariedades e conflitos para evidenciar seu projeto. No final de 1845, parecia que Dom Bosco não aguentava a obra: as suas forças estavam muito debilitadas. Pouco tempo depois, Dom Bosco fica muito doente e a Marquesa contribui com 810 Liras. “O que me travou? Uma doença, um desrespeito pastoral, uma obediência difícil…”. Dom Bosco se acalmou, descobriu a “voz de Deus”, e voltou diferente a Valdocco no dia 3 de novembro de 1846, já recuperado.
A leitura da despedida de Dom Bosco do Refúgio deu origem a uma espécie de estigmatização da Marquesa de Barolo, atribuindo-lhe um papel de vilã, pois, à primeira vista, a situação não parece ser um “diálogo de discernimento”, mas de “confronto”. Porém, isso só acontece quando o texto é lido superficialmente, pois por meio dele também se descobre o “plano de Deus”.
O diálogo que acontece entre Dom Bosco e a Marquesa representa um momento chave de “identificação” e de “opção”. Graças a esse “discernimento” por opostos, hoje podemos refletir afirmações de nosso pai, como estas: “Minha resposta já foi pensada”; “Para os meninos pobres não é assim”; “Vou me dedicar integralmente ao cuidado dos meninos abandonadas”; “Deus sempre me ajudou e também me ajudará no futuro”; “Minha vida é dedicada ao bem da juventude”; “Não posso desviar-me do caminho que a Providência divina me traçou”; “Aceitei a demissão, abandonando-me ao que Deus teria para mim”.
A Marquesa Barolo é, para Dom Bosco, um testemunho de vida religiosa, de ação social e de esforço pela dignificação dos pobres, especialmente das mulheres.
Propostas para reflexão
Que experiência de discernimento e acompanhamento espiritual tenho na minha vida? Tenho alguém com quem posso discernir o que Deus quer para mim?
Como descobrir no acompanhamento de Deus as “mediações” que ele utiliza através das pessoas, dos grupos e dos ambientes, para expressar a sua vontade?
Texto elaborado a partir de anotações pessoais e material de apoio do curso “Escola Salesiana de Acompanhamento Integral”, realizado em novembro de 2024, na cidade de Quito, Equador