Meditando em tudo o que um ano significa, pensei em algo que tenho muito forte dentro de mim. Em parte, pela minha educação; em parte, pela minha natureza, sinto com intensidade no meu íntimo a permanente necessidade de reconhecer e ser cheio de gratidão pelas muitas coisas que recebo na minha vida e que não dependem do meu mérito pessoal.
E queria aproveitar este número do Boletim Salesiano, que espero seja replicado nos Boletins Salesianos de todo o mundo, para agradecer, em nome de Dom Bosco, às milhares e milhares de pessoas que são nossas benfeitoras e que ajudam as obras salesianas no mundo.
Há poucos dias, algo muito simples chamou a minha atenção.
Ao fim de seis meses, pensei em gravar uma vídeo-mensagem para agradecer a generosidade de tantas pessoas que responderam, conforme a suas possibilidades, para ajudar os mais atingidos pela Covid-19. Fiz isso com simplicidade e verdade. E recebi dezenas de mensagens que me agradeciam, pela transparência, o que tinha sido feito com a sua ajuda e o montante final recebido. E penso que não pode nem deve ser de outra forma.
Como Dom Bosco
“Eu sempre precisei de todos”, dizia Dom Bosco.
Inesquecível aquela noite fria de 3 de novembro de 1846, aquele padre e sua mãe que chegam depois de haver feito quarenta quilômetros a pé. Ele com o breviário debaixo do braço e uma pequena bagagem, e ela com uma cesta com poucas coisas. Sua mãe segue-o na aventura um pouco louca. Não a obrigara. Ele amava sua mãe. Mas a mãe amava-o ainda mais. E não havia hesitado. “João, vou contigo”.
Chegaram mortos de cansaço às portas da cidade. O teólogo Vola, um padre amigo, viu-os e admirou-se. “Mas vós sois loucos! Onde ides? Como fareis para viver? Tendes alguma coisa ao menos para esta noite?”
“Deus proverá, meu amigo”.
Aquele bom padre, comovido, ofereceu-lhe o seu relógio. Servirá para os primeiros meses de renda.
“Está a ver? Deus já proveu”, disse-lhe afavelmente Dom Bosco.
Ele passou toda a vida pedindo ajuda a centenas e centenas de pessoas. Nunca pediu para si, mas sempre para os seus jovens. E ao mesmo tempo acreditava cegamente na Divina Providência, e era por isso que se movia incansavelmente de porta em porta.
Estendeu a mão milhares de vezes, pediu ajuda financeira e colaboração a tantas e tantas pessoas para levar a cabo a sua missão. Não hesitou em pedir a qualquer pessoa que pudesse contribuir com o seu tempo ou com os seus bens em prol dos jovens em dificuldade.
Foi ajudado por leigos, homens e mulheres, e por sacerdotes amigos, que colaboraram com ele de muitos modos.
Contou sobretudo com a inestimável ajuda de sua mãe, Mamãe Margarida. Gosto de dizer, creio que com valor histórico, que ambos fundaram o Oratório, dado que ao gênio criativo e apostólico de Dom Bosco se juntou à delicadeza materna da mãe que deu calor feminino àquela casa. Acompanhou e encorajou o filho no difícil início do Oratório e do trabalho com os rapazes que batiam à porta da sua casa.
Ao lado de Mamãe Margarida, estava a mãe de Miguel Rua, um dos primeiros salesianos e seu primeiro sucessor. Também a mãe do arcebispo Gastaldi e o pai de Domingos Sávio. Um grupo de pessoas que conheciam e amavam Dom Bosco, e que deram à sua obra uma tonalidade completamente diferente das outras instituições da época: uma marca bem perceptível que pode ser descrita como “atmosfera familiar”.
Na sua capacidade de pedir ajuda, Dom Bosco sabia desde o primeiro momento que podia contar com sacerdotes que ofereciam parte do seu tempo à Obra dos Oratórios, que crescia com ele. Sacerdotes e amigos; e, também, mestres espirituais como o padre Cafasso, o teólogo Borel e o padre Leonardo Murialdo. Outro grande grupo de benfeitores e simpatizantes contribuiu financeiramente para as obras orientadas por Dom Bosco em Turim, em várias localidades da Itália, da França e da Espanha, além das missões na América Latina. Os benfeitores constituem também hoje a espinha dorsal da Congregação Salesiana.
Com os tempos
Os tempos mudaram, mas posso assegurar-vos que as situações que hoje se vivem no mundo, na Igreja e nas presenças salesianas têm muito em comum com a época de Dom Bosco. Quando visitei as obras mais pobres – e com os jovens mais pobres – da América Latina, da África, da Índia e de algumas nações da Oceania, pareceu-me ver situações não diferentes das que viveu Dom Bosco em Valdocco.
Posso assegurar-vos que isto de forma nenhuma desanima, mas renova em mim a convicção de que em qualquer momento o Espírito de Deus suscita milhões e milhões de pessoas com um coração decidido a tornar este mundo cada vez mais humano. Não há dúvida de que o leitor é uma dessas pessoas e eu também.
Obrigado por este esforço. Obrigado por haver acreditado que vale a pena. Obrigado por não se deixar paralisar pelo azedume de quem duvida sempre de tudo e de todos, e obrigado por haver acreditado que se pode viver na esperança. É isto que proponho à nossa Família Salesiana para o novo ano: neste difícil momento da Covid-19, mais do que nunca, somos movidos pela esperança.
Juntos conseguiremos!
A expressão “Família salesiana” foi pronunciada pela primeira vez pelo papa Pio XI, no 3 dia de abril de 1934, dois dias depois da canonização de Dom Bosco, aos peregrinos que foram a Roma naquela ocasião: “Vós representais todos aqueles que deixastes nos vossos lugares de proveniência, toda a grande família salesiana”.